segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Intimidade virtual

É possível criar uma intimidade virtual?
No cinema, a gente já viu que sim. Em Strange Days – um filme de 1995 com Juliette Lewis e Ralph Fiennes, que passou no Brasil como Estranhos Prazeres – era possível compartilhar experiências sensoriais através de unidades de memória que eram, digamos, “injetadas” no córtex cerebral do indivíduo receptor, o qual literalmente vivia o que o indivíduo gerador havia vivido.
Exemplificando: se alguém transasse com a Charlize Theron, por exemplo, e gravasse uma unidade de memória com todas as suas sensações durante a (ui!) copulação, o cérebro receptor teria acesso à integra dessa experiência sensorial, através dos cinco sentidos. Como o cérebro comanda todo o corpo, o receptor vivia outra vez todas as sensações visuais, táteis, olfativas etc. vividas pelo gerador.
(Não, Strange Days não era um filme de mercância, mas policial. As unidades de memória só eram conseguidas no câmbio negro. E uma delas trazia, além de presumíveis e intermináveis momentos de sexo alucinante, o testemunho de um assassinato.)
Mais adiante, na trilogia Matrix, a virtualidade pulou das meras experiências sensoriais compartilhadas para a vida num aterrorizante universo paralelo, ditatorial e assassino, que, ainda que constituído apenas por milhares e milhares de terabytes, tinha a capacidade de influir no mundo físico real através de um plug-in instalado na nuca dos “jogadores”, como o Neo de Keanu Reeves e o Morpheus de Laurence Fishburne.
Mas, ainda que o cinema torne essas fantasias digeríveis, sabemos que não é possível transmitir fisicamente ao cérebro humano sensações, experiências e vivências exógenas. O cérebro não funciona como um arquivo de dados, um hard disk disposto a receber e reproduzir softwares alheios. Nada impede, porém, que ele crie novas realidades ou situações a partir de sugestões. Nada obsta que simulacros de experiências sensoriais possam ser gerados a partir de induções psíquicas, ainda que a distância.
Pois é essa a idéia básica do Mutsugoto, um equipamento – ainda em testes – que pretende “comunicar a intimidade” a casais que vivem relacionamentos de longa distância. Os usuários do aparelho utilizam anéis com sensores, que geram luzes, captadas por câmeras, cada vez que passam as mãos sobre o próprio corpo; as imagens luminosas, traduzidas por computador, são transmitidas e projetadas sobre o corpo ou sobre a cama do parceiro distante.
Esse festival de luzes, que mudam de cor quando se cruzam, sugere os pontos do corpo por onde devem estar passando os anéis – e as mãos, claro – do amante longínquo. O resto é imaginação.

Por falar em imaginação, já estou imaginando as aplicações práticas do equipamento. Uma delas é propiciar visita íntima sem riscos a presos em regime diferenciado. Outra é criar uma intimoteca com luzes produzidas por algumas deusas do mundo real. Que preço alcançaria no comércio ambulante, por exemplo, um CD com luzes geradas a partir de um anel que passeasse pelo corpo da Charlize Theron?

29 comentários:

Vico disse...

No tempo daquelas revistinhas de sacanagem, a precisa nem precisava de tanta imaginação... Qual a vantagem de ter, agora, um feixe de luzes passando no seu corpo no mesmo ponto onde passou no corpo da namorada, lá longe? Acho que não basta imaginação: é preciso ser meio esquizofrênico para entender a amplitude dessa realidade virtual.

Marco Antonio Zanfra disse...

Sou forçado a concordar: haja imaginação para sentir intimidade com um troço desses! Mas, otimista incorrigível, acredito que esse aparelho possa ser um primeiro passo para tornar real a imagem holográfica tridimensional, com transmissão ao vivo. Já imaginou? A Charlize Theron lá na cama dela, em Johannesburgo, tendo o corpo milimetricamente (ui!) escaneado e a imagem dela, com todas as curvas e reentrâncias, pousando ao seu lado no tapete da sala?

Anônimo disse...

Caro jornalista, sou do tempo em que o relacionamento a distância era mantido através de longas cartas escritas à mão, cheias de promessas, com as quais a gente construía um mundo imaginário que não tinha nada a ver com essa tal de realidade virtual. Não tenho nada contra a modernidade, mas creio que a imaginação, no tempo anterior aos computadores, era muito mais rica, por uma razão muito simples: sem sugestões de feixes luminosos, sem a rapidez das mensagens instantâneas, sem os recursos de imagens, nossos sonhos eram construídos apenas com o que a gente tinha em disponibilidade - nosso cérebro e nosso coração. Tenho 71 anos e não trocaria minhas antigas cartas de amor por nenhuma imagem holográfica tridimensional.
ROSA

Gleydson disse...

Gosto muito mesmo de ficção científica e esse primeiro filme que você citou é um dos meus preferidos do gênero. Infelizmente não caiu nos braços do povo. Ou felizmente, sei lá. "Matrix" dispensa comentários.

'Tá saindo um outro filme agora com o Bruce Willis com uma temática similar, só que você fica em uma cadeira enquanto a sua "cópia" sai por aí fazendo todas as traquinagens que você não teria coragem nem de saber a respeito. Chama-se "Surrogates" e é baseado em uma graphic novel. Preciso procurar pra ler urgente.

Aplicações práticas pro "troço"? Bom, saindo do lado da sacanagem, o pessoal 'tá investindo nisso pra ajudar pessoas com dificuldades motoras. Fora os videogames, claro.

Abraços!!!

Cintia disse...

Olha, eu ja acho que o truque da Monga ja dava pra quebrar um galho.. Lembra? A mulher que virava gorila nesses parquinhos de diversao bem fajutos? Pois entao, em vez da gorila, poderia ser sua tao desejada Charlize...

Blog do Morani disse...

Estou ombreado ao anônimo (anônima) de 71 anos. Eu, com 74 anos, jamais tiraria um bom proveito com uma imagem holográfica; o máximo que essa imagem poderia conseguir seria a de excitar as sensações que a gente já traz nessa máquina inigualável que é o cérebro humano, em um cantinho qualquer muito íntimo, com a ajuda da visão. Essas imagens vão servir àqueles que usam bonecas infláveis - peças sem movimento e sem reações - para praticar o sexo, ou para preencherem o vazio da solidão ou, ainda, aos amantes tímidos. De qualquer maneira, não deixa de ser um avanço tecnológico substituto a tantos aparatos e meios de satisfazerem as sensações mais profundas dos seres humanos.

Marco Antonio Zanfra disse...

A Charlize é apenas "uma das". Mas transformar uma mulher em gorila é fácil. Qualquer parquinho infantil do interior faz isso. O que não existe é truque de luzes e espelhos para transformá-la em Charlize, Scarlett, Megan Fox, Cheril Cole...

Fabiano Marques disse...

Escuta Zanfra! (gostei do trocadilho)
Sabe onde eu consigo uma unidade de memória lascívia com a Charlize Theron?

Marco Antonio Zanfra disse...

Calma, tô procurando! Se encontrar até depois de amanhã, dia de seu aniversário, te aviso.

Fabiano Marques disse...

Presentão hein!
Ah! Mudei a cara do blog.
Deixei mais noturno.
Aquela coisa clean tava irritando já.
E agora vou tentar ser mais constante. hehehe

Marco Antonio Zanfra disse...

Ficou muito bom no contraste com as imagens. Principalmente por essa foto do amanhecer no último post. Agora, é esperar que o senhor mantenha a assiduidade.

Kafka disse...

Tô nessa! Qualquer coisa da Charlize também quero!

Cintia disse...

Sou mais a Penelope Cruz..

Marco Antonio Zanfra disse...

Eu também era, logo depois de "Vanilla Sky", mas desisti depois de "Vicky Cristina Barcelona"... Ô muié doida!

Cintia disse...

Fico com o Bardem, entao !

Serafim disse...

CARO ZANFRA

Prefiro a minha gordinha. À 31 anos ela é real.

Abraços

Regina disse...

É o fantátisco futuro chegando...mas nós ainda não descobrimos o que somos!

José Luiz disse...

Zanfra, quero viver mais uns vinte anos, pelo menos, para alcançar o tempo emq ue poderei 'baixar" a Sharon Stone no computador, no file que eu escolher.

Marco Antonio Zanfra disse...

Não consigo imaginar como vai estar a Sharon Stone daqui a 20 anos, nem se você ainda vai continuar tendo interesse no download...

Cintia disse...

Download e facil.. quero ver o upload..

Eliz disse...

Oi Zanfra,

Hum... boa idéia, acho que vou produzir softwares para vender aos tarados virtuais e, assim, proporcionar sensações prazerosas, a estes probres homens carentes, ou com certeza em menor número mulheres, já que somos todas bem resolvidas e não precisamos de download do Brad Pit, ou Bardem para ser feliz! Ehehe

Vico disse...

Não se preocupe, Cíntia, a informática já descobriu vários remédios para quem se defronta com disfunções na hora do upload.

Cintia disse...

.. Alem das solucoes para o aumento do hard disk...

Marco Antonio Zanfra disse...

... que aumentam o tamanho e o mantêm hard por mais tempo...

Marco Antonio Zanfra disse...

... garantindo o plug-in, plug-out, plug-in, plug-out de todo dia...

Anônimo disse...

Prezado Zanfra...

Juro que não acho a menor graça em Chalize Theron e outras do tipo. Mas um Bruce Willis..hum me cairia bem...tomara que de certo kksksksks

sonia carotta

Ricardo Câmara disse...

Prezado Zanfra;
Invadir a privacidade das pessoas nunca foi uma atitude sensata. Entre um casal há o respeito mutuo que só ambos sabem preservar, principalmente na essência de suas intimidades. Monitorar o cérebro humano na seara virtual é escravizar o indivíduo e controlar as funções vitais através de máquinas, infringindo os direitos constitucionais de se manter em silêncio. Somos máquinas humanas, dependente do oxigênio, do plasma que somos formados, da liberdade que está dentro d'alma e jamais aceitaremos objetos exógenos, chips, no intuito de administrar as nossas acepções. Na qualidade de amante à moda antiga, de entregar-me aos braços da mulher amada, de compartilhar os segredos de amor, sedução com a companheira dos meus sentimentos; contraponho-me a essas invenções inúteis da tecnológia.

Marco Antonio Zanfra disse...

Mais uma vez, sou forçado a concordar: à moda antiga, pele com pele, é bem melhor!

suzane disse...

só tem que cuidar para nao acontecer como aquele caso da Felina, que fazia sexo pela net e depois decobriu-se que era um homen que usava um video de uma italiana linda, gravava tudo e colocava o video na net. . .