segunda-feira, 29 de outubro de 2007

São Paulo de uma delegacia só


Este vai para quem assiste a “Sete Pecados”, na Globo:

Meu último emprego como jornalista em São Paulo foi no finado “Diário Popular”, em 1991, como repórter de polícia. Naquele tempo, a cidade tinha 102 distritos policiais. Não sei quantos tem hoje, mas, levando-se em consideração que quando eu comecei, em 1977, eram 51 as delegacias, chegamos a 150 distritos com uma simples continha de regra de três. Pelo crescimento da cidade, pela escalada da violência e da criminalidade, não seria nada ilógico se a coisa estivesse por aí.
Na novela das sete da Globo, entretanto, a cidade de São Paulo tem apenas uma delegacia. Ou melhor, tem apenas uma equipe policial. Porque é o mesmo delegado e seus dois policiais que atendem:
1 – uma ocorrência nas proximidades da boate da personagem Beatriz, que me parece ser no centro da cidade (já vi por perto uma placa da rua 25 de Março, como se fosse possível uma casa noturna na região do Mercado que não fosse um prostíbulo do baixo clero).
2 – uma tentativa de captura do personagem Dante, o taxista que, ao que me parece, morava numa pequena vila nas proximidades do Parque da Aclimação, em direção à Vila Mariana.
3 – a investigação de atos de vandalismo contra o carro de um professor de uma escola que, de acordo com todos os personagens, fica no extremo da Zona Leste (parece que já ouvi citarem Cidade A. E. Carvalho).
E os incansáveis trabalham 24 horas: de manhã, à noite, de madrugada, eles são vistos em qualquer ocorrência. E - incrível! - um dos policiais ainda encontra tempo para fazer bico como segurança no restaurante do personagem Pedro.

Pode soar como opinião de um globófobo, mas acho que a Rede Globo parece menosprezar tudo o que ultrapasse um pouco os limites do Rio de Janeiro. Talvez por isso eles coloquem, na pretensa Zona Leste de São Paulo, tanta gente falando com o mais castiço sotaque da Zona Sul carioca. Nordestinos na Zona Leste paulista? O que é isso?
Era de se esperar que Walcyr Carrasco, paulista de Bernardino de Campos, fosse um pouco mais fiel às origens de seu Estado natal. Mas o novelista só costuma se dar bem quando escreve novelas de época, quando é muito mais fácil pasteurizar a realidade.

2 comentários:

José Luiz Teixeira disse...

Como diria você mesmo, meu caro Zanfra: você não tem nada melhor pra ver, não, do que novela da Globo???

Marco Antonio Zanfra disse...

Oba! Posso acrescentar mais uma qualidade ao meu já vasto cabedal - a antevidência: eu SABIA que você ia falar isso, como vingança por eu tê-lo criticado por assistir ao "BBB-Big Bosta Brasil"!!! Nós nos merecemos, Zé Luiz!