segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Nas profundezas


Não parece coisa de Primeiro Mundo? A Dersa, empresa responsável pela operação do sistema viário que liga São Paulo à Baixada Santista, estuda a viabilidade de implantar um túnel submarino unindo Santos ao Guarujá, em substituição ao nonagenário sistema de travessia por balsas. O ferry boat – que muita gente conhece como ferribote – transporta uma média diária de 24 mil veículos, número que cresce 30% na temporada.
A direção da Dersa acha que não vale a pena investir na melhoria do serviço, porque a região está congestionada, o movimento do porto de Santos aumentou muito e a distância, afinal, é curta: apenas 400 metros de água salgada separam a Ponta da Praia de Vila Lígia. Em três meses, os estudos devem apontar se a construção do túnel é viável.
Quando vivi no Japão, em 1996, tive “coragem” de transpor de bicicleta uma travessia dessas. Eu morava em Hekinan, extremo sul da província de Aichi, cidade que era separada da vizinha Handa por um braço de mar de pouco mais de um quilômetro. Um túnel de seis pistas levava os veículos de um lado para o outro. Para os pedestres e ciclistas, a opção era outra.
Quem conhece as passagens subterrâneas sob as vias férreas – como as da Santos a Jundiaí, por exemplo – pode ter uma noção do que senti ao entrar. Tal qual estas, aquela passagem é uma grande e comprida caixa retangular, iluminada por luz branca, capaz de provocar angústia até em quem não sofre de claustrofobia. A diferença entre a travessia Hekinan-Handa e os túneis da Santos a Jundiaí é que a passagem submarina recebe um público milhares de vezes inferior e, por razões óbvias, as paredes são desprovidas das pequenas janelas de ventilação. O leito da galeria está separado da superfície por 11 rampas de acesso, de onde se deduz que a travessia é feita pelo menos a 30 metros de profundidade.
Agora, imagine: você está dentro de uma caixa com mais de um quilômetro de extensão, sabe-se lá feita de que material, abraçado pelo mar, a 30 metros de profundidade, sem opção de fuga a não ser pelas duas entradas, numa terra que não é muito famosa por sua estabilidade sísmica... o que pensar?
Foi o que fiz: não pensei. Montei na bicicleta, mirei na outra ponta do túnel e sentei-lhe o pedal, como se estivesse disputando as primeiras colocações de uma prova ciclística. Durante a travessia, que não durou mais do que dois minutos, tive a nítida sensação de que a baixa temperatura da água atravessava as paredes e envolvia meu corpo, num halo fantasmagórico. Mas isso era psicológico, acho.

Em toda minha vida, só fiz a viagem de ferribote uma vez, em 1985, para uma entrevista com Pelé e Franz Beckenbauer, no tempo da revista “Manchete”. Gostaria de repetir a travessia pelo túnel. Afinal, já estou batizado.

8 comentários:

Anônimo disse...

A viagem de trem pela Mata Atlantica rumo aa Baixada e linda! Mas nao ousaria entrar nos tuneis a pe.. so deve caber o trem la dentro, sem falar na possibilidade de aranhas e morcegos.
E o que falar do tunel que liga a Franca a Inglaterra? Mas sera que o investimento desse tunel compensara?

Anônimo disse...

Zanfra, o único túnel por baixo d'água que já atravessei na vida é o Túnel Jânio Quadros, que passa sob o Tio P inheiros. Já dá medo...Além do mais, se tem uma coisa que eu gosto é atravessar deSantos para o Guarujá de balsa. Lembranças de infância...Por mim, não acabavam com as balsas.

abs

Anônimo disse...

Tambem gosto da balsa, pelo mesmo motivo que o Ze Luiz.. achava o maximo atravessar o mar de carro E de balsa ao mesmo tempo :) Se o carro era o primeirao da fila, a gente brincava que estava num submarino, pois so via agua pela frente :)
Cintia

Anônimo disse...

Gostaria de acrescentar um pequeno comentário a respeito do formato do túnel. As paredes não eram "quadradas" e sim "abauladas". A descrição dos outros detalhes e impressões são partilhadas.
Ass. Sujeito oculto pelo autor do blog

Marco Antonio Zanfra disse...

Nota do autor: o "sujeito oculto" da nota acima é a senhora Mary Kazue Zanfra - com quem o blogueiro vai comemorar Bodas de Prata em 2 de julho - que, como companheira na alegria e na tristeza, na saúde e na doença etc., o acompanhava na travessia do túnel. O autor reconhece que ela pode ter razão: tal qual uma enorme tubulação ligando Hekinan a Handa, a galeria pode mesmo ter a forma arredondada. E a intervenção da "patroa" sugere que o blog pode ter o nome mudado para: "Fala, família Zanfra!"

Bonassoli disse...

Voto com a relatora. Não, não questiono suas orientações. Estou é concordando com a Sra. Zanfra. : )

Anônimo disse...

Isso ai, Katia... sempre alerta.. So de olho no que o maridao escreve.. Sra. Ombudsman.. ou melhor, ombudswoman.

beijao, Cintia

Anônimo disse...

Túnel submarino? No Brasil?
Brrrrrr!!!

Gilberto...