segunda-feira, 21 de julho de 2008

Rir é o melhor remédio?


Se eu tinha dúvidas em relação à ortodoxia do velho ditado, a morte de Dercy acabou por confirmar meus temores: rir pode ser o melhor remédio, mas não nos oferece a isenção total, a capacidade de nos tornar imunes ao mal definitivo. Com riso ou sem riso, todos nós nos vamos, mais cedo ou mais tarde.
Mais tarde, no caso de Dercy. E certamente a tese de que o escracho nos torna menos permeáveis aos estresses e às amofinações contribuiu para essa longevidade. É quase regra que os sorumbáticos se vão antes, talvez porque o amargor ocupe mais espaço nesse nosso universo beirando à superpopulação, e a reciclagem seja possivelmente uma forma de readequação: onde cabia um macambúzio, cabem pelo menos dois espíritos jubilosos, e aí nós vamos remodelando os quartos, colocando um beliche aqui e outro acolá, de modo a que caiba todo mundo.
Falo por mim: conforme os anos vão chegando e passando, nossas relações com a morte passam de negligentes a cordiais e de cordiais a respeitosas. De super-heróis invencíveis, transformamo-nos primeiro em seres humanos vulneráveis e depois em organismos frágeis e suscetíveis mais facilmente à fatalidade. Nessa transição é que a gente começa a considerar com mais respeito todos os ungüentos, as beberagens e os velhos ditados que possam deixar mais longe o inevitável.
No caso deste ditado em particular, porém: se rir era o melhor remédio, como explicar que alguns comediantes, palhaços e bufões que ajudaram a desopilar meu fígado não estão mais entre nós para apagar as luzes e fechar as portas do mundo, conforme eu esperava deles? Com quem ficaram as chaves e a incumbência se Zezé Macedo, Rogério Cardoso, Ronald Golias, Consuelo Leandro, Zilda Cardoso, Nair Belo e tantos outros que me fizeram rir nos últimos 50 anos se foram antes que eu me desse conta de que os palhaços também morrem e nos deixam mais tristes?
Pois é, funciona como eu disse no começo: a gente até pode passar dos cem, como a Dercy – rindo e fazendo rir – mas um dia o mecanismo falha. Até equipamentos eletrônicos sofrem de fadiga e pifam. É indefectível.
Mas, se o riso não nos concede a imortalidade, pode pelo menos fazer com que nossa efemeridade seja menos efêmera e mais imortal. Se não para nós mesmos, pelo menos para aqueles a quem fazemos rir, franca e abertamente.
Que o diga Dercy!

6 comentários:

Anônimo disse...

Acho que o segredo dela era exatamente estar "cagando e andando" para qualquer convencao.. Ela tinha o espirito realmente livre, genuinamente imune as pressoes do mal-humor... Os neuronios dela tinham uma excelente relacao com a transmissao da serotonina, dai o sistema imunologico atento! Mas... como nao fomos feitos para durar pra sempre, um dia alguma coisa pifa!
Cintia

Anônimo disse...

Buenas...
Pois é, e ela se foi!
Com certeza para um lugar bem melhor, mais calmo e tranquilo para se viver...
Tenho certeza que rir é o melhor remedio...
Imagine, se naõ pudessemos rir, o q seria desta nossa vida (quase sempre) desgraçada?
Os problemas com a familia, com amigos, problemas com dinheiro, contas, etc...
Não tenho duvida, que uma pessoa alegre, que esta sorrindo sempre, tem mais força para viver.
Que sirva de exemplo a Derci!
Um abraço
André Campos

Anônimo disse...

Meu caro Zanfra, os palhaçõs morrem porque eles não riem. Quem ri somos nós das palhaçadas deles. Se bem que ultimamente não temos tido muita razão para rir não, pois hoje-em-dia no Brasil os palhaçõs somos nós.

Anônimo disse...

Amigo Zanfra.

Prá quem acredita no além e no ditado "quem ri por último...", acho que é no mínimo precipitado dizer que alguém parou de rir. A certeza que temho é que, normalmente quem ri e faz rirem, vive de forma mais concreta a felicidade. Vamos valorizar o bom humor e capacidade de dar gargalhadas. E, um até logo para a Derci (espero que seja um longo até logo).

Um forte abraço,
Jacinto.

Fabiano Marques disse...

que o diga a Dercy.

Anônimo disse...

Com Dercy lá em cima o céu deve se tornar algo melhor de passar a eternidade...