segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Sacos de ossos

Tem uma lei em Santa Catarina que proíbe modelos muito magras de participarem de desfiles. Além de fotos de rosto e corpo inteiro, o book das meninas deve trazer um atestado médico garantindo que seu índice de massa corporal (IMC) é de no mínimo 18,5 quilos por metro quadrado. Abaixo disso, multa e risco de fechamento da empresa que contratou o evento.
Não os tenho acompanhado com a atenção que merecem – é sempre bom ver mulheres bonitas, ainda que não passem de um saco de ossos com olhos azuis – mas, pelo que li nos jornais, metade dos desfiles da São Paulo Fashion Week seria inviabilizada se a lei catarinense tivesse alcance interestadual.
O jornalista Alcino Leite Neto, da Folha, por exemplo, classificou de “irresponsável e escandaloso” o nível de magreza das modelos, muitas delas recém-chegadas à puberdade e exibindo “gravetos como pernas”. “De tão descarnadas e enfraquecidas, algumas chegam a se locomover com dificuldade quando têm que erguer na passarela os sapatos pesados de certas coleções”, avaliou.
Pouco tempo atrás, o assunto da magreza das meninas veio à luz, provocou discussões acaloradas, provocou indignação e promessas de atitudes. Em Santa Catarina, gerou uma lei. No resto do País... “Três coleções atrás, no auge do pânico antianorexia, as pessoas pesavam as modelos no backstage para ver se elas estavam saudáveis. Agora, a poeira baixou. Se você engorda um pouco, todo mundo está ali pra te julgar. Se você emagrece, falam que você está linda”, resumiu uma top, nos bastidores do desfile de São Paulo.
Acho a lei catarinense um pouco radical demais, todavia. Afinal, estar um pouco abaixo de 18,5 kg/m² não transforma a modelo automaticamente numa aberração. Pelo que li, as pessoas com IMC entre 15 e 18,5 estão apenas “abaixo do peso”. Somente com menos de 15 kg/m² é que ocorreria o que poderíamos chamar de magreza mórbida, ou patológica, um contraponto à chamada obesidade mórbida. Nesse caso, a lei não deveria apenas impedir o desfile, mas determinar a imediata internação da modelo.
Sei por experiência própria que não é fácil ter IMC menor do que 18,5. Com todo esse meu físico ridículo – diáfano como Montgomery Burns, dos Simpsons – meu índice de massa corporal ultrapassa 19,3 quilos por metro quadrado. No cálculo que fiz num site, recebi até cumprimentos por essa condição: Parabéns! Você está em seu peso ideal. Cuidar de seu peso é cuidar de seu corpo e sua mente... Mantenha-se assim para obter vida longa e saudável!
Quer dizer: se eu estou bem, no limiar de uma vida longa e saudável, dentro do peso ideal – e portanto autorizado pela lei 14.435 a desfilar – alguém tem de estar muuuuuuito magro para ser considerado anoréxico e passível de ter os gravetos impedidos de deslizar pela passarela. Creio que se somar o peso dos ossos e da pele de uma pessoa – esquecendo-se do recheio corporal – você vai conseguir um IMC maior do que 15. Portanto, mesmo sendo um mero cabide de roupa com livre arbítrio, é preciso estar semimorta para que a modelo atinja a classificação de risco.


O grande problema é que elas atingem. A Folha disse ter calculado que as modelos do SPFW – a maioria com 18 anos – apresentavam IMC de uma criança de 9 anos. A questão é que elas atingiram essa condição por imposição silenciosa da própria passarela, e tendem a manter-se nessa faixa de risco até que a glória do desfile seja substituída pela pompa do sepultamento. O que, nesses casos, acontece com muita rapidez.

25 comentários:

Assis Ângelo: disse...

Não entendo muita coisa deste mundo louco de Deus e do Diabo; inclusive essa corrida desmetida por um corpinho esquelético que uma enormidão de adolescentes de todo canto pratica no dia-a-dia, sonhando, debilmente, por uma vida endinheirada sob aplausos e holofotes das passarelas daqui e d´além.
Eu, hein!
É bom ter fome e poder comer, sem culpa.
Que dirão os deserdados da vida africana, haitiana, brasileira, hein?

Blog do Morani disse...

Concordo a tudo o que disse Assis Ângelo sobre a matéria sempre inteligente e oportuna que o nosso amigo Zanfra expõe aos nossos comentários. Eu, que já pesei, ainda jovem, 98 quilos - e jogava bola muito bem - depois de anos, já amadurecido (pra não dizer septuagenário), tive problema de retenção de liquido por causa de problemas renais/cardíacos. Meu médico me garantiu que eu estava morrendo afogado em meu próprio liquido corporal (pulmões quase tomados pelo liquido). Eu pesava, então, 88 quilos (com o excesso de líquido). Um medicamento me secou por inteiro casado a uma dieta de campo de concentração. Fui, em apenas 30 dias, para 63 quilos! Ao me ver nos espelhos, não acreditava que estivesse vendo um esqueleto coberto de pele, apenas.
Sentia-me muito mal ver tantas protuberâncias ósseas em meu corpo. E o meus outros médicos me parabenizavam, dizendo: "Olhe aí, senhor Mario, o senhor é isto aí. Este é o seu verdadeiro corpo".
Agora, imagino como ficam essas jovens caveiras (horrorosas, que nem os olhos azuis ou verdes atenuam a precariedade das carnes macias sobre os esqueletos!)Até para sentar numa cadeira de pura madeira eu me machucava. Na hora do sexo, dois magricelas sentirão o quê? Chacoalhar de ossos!!!!

Kafka disse...

Só uma perguntinha: a foto que ilustra a postagem é real ou você fez uma montagem?

Blog do Morani disse...

Kafka:

Isso é demais! Seria muita crueldade se fosse verdadeira, mas acredito, pelo andar da carruagem, que não há de demorar muito para se apresentarem nas passarelas verdadeiros esqueletos! E as gordinhas, as fofinhas, as mais carnudas, o que hão de vestir?
Léia, minha esposa, fica uma arara se procura uma simples blusa e não acha. Aí eu pergunto à vendedora:
"As confecções só fazem roupas para gente magra?". Mas a verdade é essa mesma: esquecem-se das "cheinhas". É duro!

Bonassoli disse...

Sonho com o dia em que magreza extrema será considerada doença grave e combatida por toda a sociedade. Estas dietas de folha de alface devem ser banidas do universo. E viva a beleza das mulheres com curvas! Afinal, de osso, quem gosta é cachorro.

Vico disse...

Estou mais ou menos de acordo com o Bonassoli. Há magrinhas irrestíveis, tão sensuais e provocantes que você se esquece de que são puro osso (mas com um índice de massa corpórea de pelo menos 18,5). Se aparecer uma dessas para mim, auuuuuuuu...

Blog do Morani disse...

Vico:

Se vc. não se importa ficar sem uns quilinhos a menos em sua sonhada pretendente, é só ir para o fim da passarela e esperar. Vai depender muito de sua paciência, meu amigo.

Gleydson disse...

E o pior é que tem gente que acha bonito... Que pena. Fico horrorizado às vezes que vejo algumas dessas meninas de 18/9 anos "flutuando" na rua. Foto e vídeo ainda engordam bastante, viu!

Abraços!

Anônimo disse...

Ainda bem bem que a grande maioria não segue essa cartilha caveirista, pelo menos é o que m eus olhos me mostram quando caminho com meus 90 e bem distribuidos quilinhos em l,75 mt de altura.
Como se trata de minorias, acho que não irão conseguir contaminar a maioria, espero.

Marco Antonio Zanfra disse...

Fico meio constrangido ao pensar em alguém com "90 e bem distribuídos quilinhos em 1,75 mt de altura" quando, com a mesma altura, eu mal e mal chego a "60 bem distribuídos quilinhos".

Marco Antonio Zanfra disse...

Aliás, eu posso afirmar que meu peso está bem distribuído: um pouquinho ao redor da cada osso.

Anônimo disse...

Concordo com o Morani, só fazem roupas para as magrinhas.E magrinhas só se consegue ser qdº somos bem novinhas e ainda não temos dinheiro para comprar muitas e caras roupas. Ou seja, a ditadura da magreza é burra também né? Todas as vezes que me deparo com esse dilema fico pensando em montar uma loja com roupas pra mulheres de carne e osso, mais carne do que osso. Ainda farei isso um dia.

Ricardo Câmara disse...

Prezado Zanfra;
Em primeiro lugar, o comércio da moda não se restringe tão somente ao mundo esquelético. Existem as delgadas,cheinhas e até as que passam do limite do IMC, mesmo assim, há lojas que vendem e fábricas que modelam roupas para todos os tamanhos, se não fossem assim,as prejudicadas fariam revolução com os seus corpos nus, exigindo que seus espaços fossem atendido.Essas meninas novas podem comer de tudo, panelada (dobradinha),sarrabulho (sarapateu),feijoada, macarronada,linguiça com ou sem o trema,buchada,churrasco e tudo que for do agrado do paladar, pois não tem problema quando se é jovem,depende muito da constituição genética, algumas engorda com facilidade, outras não.O resultado das guloseimas só aparecerão após os cinquentas e a tecnologia está aí para se reparar as extravagâncias do passado.E é bom lembrar que gordura é o combustível do ser humano, pois armazena energia, controla a temperatura (homeostasia corpórea)e é essencialmente usado pelas células.Quem não se lembra do trágico acidente de um helicóptero em 2001, que conduzia o casal João Paulo Diniz, 37, e a modelo Fernanda Vogel,20 que caiu no mar em São Sebastião, litoral paulista. O empresário conseguiu nadar 3km e chegou à praia ileso.Já a modelo, devido o seu porte esquálido, pouca gordura, não teve resistência o suficiente para fazer o mesmo que Paulo, nadar.Portanto, senhoritas gordas e gordinhas não se preocupem com a estética pela eliminação em demasia dos lipídeos, eles são necessário para conduzir a máquina humana.

Marco Antonio Zanfra disse...

Além disso, quanto maior a área de contato com a água, maior a resistência ao afundamento. Que o digam os transatlânticos.

Unknown disse...

Oi Zanfra,

em primeiro lugar parabéns pelo teu "corpinho de modelo".
Todo excesso deve ser tratado com, pelo menos, atenção especial. O culto à magreza é no mínimo doentio. Se SC não fez a norma ideal, pelo menos não se omitiu em relação a "ditadura patológica" que exclui ou torna menos competitivo no mercado da moda pessoas mais próximas do "peso normal" saudável. Oxalá que São Paulo e Rio se mirem na iniciativa.

Um forte abraço,
Jacinto

Fabiano Marques disse...

E aí Zanfra!!! Vai atacar de modelo agora??
Seguinte, essas pessoas que insistem na magreza....um dia todas vão ser magras. Beeeem magras. Esueléticas, eu diria. hehe
abrassssssssss

Anônimo disse...

Caramba Zanfra voce é mais um dos "modelitos esqueléticos", que o blog está debantendo.
Olha que apesar dos 90 quilinhos, não tenho "barriga de chopp", uma vêz que não bebo cerveja ou seus derivados e afins, enfim um verdadeiro atleta de, de...ainda não descobri..
Abraços

Gennara Vitti disse...

Interessante a discussão da "ditadura do esqueleto". As meninas sabem que podem perder oportunidades se engordarem e por isso acabam pagando com a própria vida. A lei catarinense devia valer para o Brasil todo. Seria uma forma de acabar com o poder corrosivo da indústria da moda. Se eles querem que as modelos sejam meros "cabides com livre-arbítrio", que tratem de botar cabides de verdade para desfilar.
Obs.: falo como alguém que também tem alguns quilinhos a mais bem distribuídos pelo corpo.

Rudi disse...

Apesar de referir-se jocosamente às modelos, ao que parece o autor do blog também não passa de um "saco de ossos". É o roto falando do esfarrapado, ou o esquelético falando do magricela?

Marco Antonio Zanfra disse...

Nem um nem outro, ou ambos. Acho que está bem clara no texto a compleição física do autor: elogiosamente dentro do peso e apto a frequentar qualquer passarela catarinense.

JameCINTOestranho disse...

"Corpinho de modelo"?Só se for de funerária.....

"Com certeza" disse...

Os distúrbios psquiátricos com reflexo na alimentação,como anorexia e bulimia,são comuns no mundo da moda."Com certeza" escolhem não comer."Com certeza" emagrecem."Com certeza" tem seu emprego garantido.Na minha familia,existe uma moléstia parecida.Chama-se ANNAREXIA.Todos comem como a Vó Anna.Sem culpa,sem medo de ser feliz,devagar e sempre.E,graças a Deus, não tem cura.

Marco Antonio Zanfra disse...

E todo mundo é baixinho e gordinho.

Anônimo disse...

Dizem que as pessoas muito magras, quando morrem, não correm o risco de reencarnar... por falta de matéria prima!

Marco Antonio Zanfra disse...

Por falar em prima, cadê a Cíntia?