segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Desaparecidos

É claro que tudo pode não passar de uma simples coincidência, que todos eles podem ter descoberto ao mesmo tempo que o futuro naquela cidade não prometia maiores emoções ou realizações, e por isso o caminho era arrumar as malas e meter o pé na estrada. Mas o sumiço de seis rapazes em Luziânia (GO), no período de um mês, não deixa dormir o imaginário popular. Não faltam hipóteses, não faltam teorias da conspiração. Mas, já que ainda não há ainda uma versão oficial definitiva, o que resta ao povo fazer se não especular?
A abdução extraterrestre certamente foi a primeira opção, já que ninguém sabe exatamente se esses milhões de estrelas por aí são habitadas e, se o são, ninguém sabe exatamente quais são as intenções de seus habitantes. O cinema já mostrou diversas versões de invasões marcianas e de outros planetinhas menos cotados – inclusive um cujos invasores acabaram virando favelados na África do Sul – e não seria espantoso que isso acontecesse de verdade. Por que não no Brasil? Por que não em Luziânia?
Outra possibilidade: rituais satânicos. Sabemos todos os que têm um pingo de conhecimento do diabolismo que satã e seus caudatários adoram o sangue de virgens. As mentes obscuras dos homens é que acham que somente virgens do sexo feminino é que contam. Virgem é virgem. Anjos não têm sexo e o demônio, como um “anjo caído”, também não. Nós homens é que vemos nas ninfetas em flor a personificação da única forma de combater o mal que, no fundo, está em nós mesmos.
Claro que não é uma missão das mais simples encontrar virgens entre os garotos – e garotas – da faixa etária dos 13 aos 19 anos, como esses que foram escolhidos para o sacrifício, mas talvez isso explique o porquê de Luziânia ter sido a eleita. Pelo que se conclui dos acontecimentos, Luziânia, mais precisamente o bairro Estrela d’Alva, é um celeiro de virgens.
Uma terceira hipótese seria o escravismo sexual. Deve haver nos confins desse Brasil imenso uma tribo de amazonas cujas mulheres descobriram só agora algo mais interessante a fazer do que montar nuas em seus cavalos e guerrear entre si só de brincadeirinha. Nem que seja só para procriar, o sexo é muito mais interessante do que exercícios com arco e flecha. Entra também nessa opção a necessidade de escolher apenas virgens, porque as amazonas, apesar de terem descoberto tardiamente o que fazer com certas partes do corpo, não perderam o grau de pureza e excelência que norteou a formação da tribo. O rapaz de 19 anos elas levaram porque também precisavam de alguém para cuidar dos cavalos.
Brincadeiras à parte, a polícia só tem duas linhas de investigação, nesses casos: ou os rapazes fugiram de casa por livre e espontânea vontade – e aí ganha força a possibilidade de coincidência pelo fato de serem seis desaparecimentos – ou há alguém recrutando mão-de-obra escrava para meter em alguma colheita de última hora. Pelo que conhecemos da índole pacífica e ordeira do povo brasileiro, esta última opção parece ser a mais viável.

Em 1995, senti-me como se estivesse sendo enterrado vivo ao entrar no túnel metálico da área de exame do aparelho de tomografia. A impressão que dá é que você não vai sair mais. As paredes à sua volta são opressivas, o ar começa a rarear. Mesmo sem ser assumidamente claustrófobo, senti-se dentro de um caixão de defunto enfeitado com algumas luzinhas e ruídos metálicos...
Imagino como se sentiria se fosse um daqueles sobreviventes do terremoto do Haiti que ficaram duas semanas sob os escombros.

21 comentários:

Blog do Morani disse...

Ai amigo Zanfra!

Sua crônica de hoje dá margem a diversas interpretações para o sumiço dos seis jovens de Luziania. Todas as apontadas pelo amigo, no início e lá pelo meio do texto, poderiam ser compatíveis à suspeição de forças diabólicas em ação - que não creio nessas forças criadas pelos homens dos tempos de antanho -, ou de ETs; essas ainda não comprovadas cabalmente. Uma nota agradável, em meio à suposições possíveis, engendradas por sua mente de jornalista e de escritor, foi o termo "ninfeta". Isso me recorda uma personagem de um romance erótico - acho que dos anos 70 - e que virou filme. Não me lembra o nome. Cabeça de "velho gagá" às vezes é envolvida por um "branco" desses.
Mas, sem brincadeiras também, a última opção que você registra em seu texto é a que tem maior probabilidade de ser a mais correta, e mais plausível, para o bem dos rapazes da pequena cidade.
Servir de "oferenda" em um ritual satânico, como faziam os antigos aztecas às suas virgens e aos seus virgens, é o que menos desejo pensar como possível.
Sobre o seu exame de tomografia, eu já fiz o meu. Entrei no tal tubo, depois de fazer muito relaxamento e construir pensamentos positivos de que eu não estava indo à sepultura. Tinha, antes desse exame, uma dificuldade imensa em ficar deitado; faltava-me o fôlego. Confessei isso ao rapaz que manobraria a tal máquina, mas me senti tranquilo no momento em que a mesa me levou para debaixo daquele módulo em curva, onde luzes e sinetas metálicas indicavam o andamento do exame cerebral. Não senti em momento algum a aflição que me assaltava quando deitado de barriga para cima. Que alívio! Venci a mim mesmo e aos meus temores. Não foi fácil, meu amigo, mas saí de lá pronto a fazer outro a qualquer momento.

fábio mello disse...

Seria bacana se eles tivessem voando pelo espaço sideral, abduzidos. Plunct, plact zoooom!

Tomografia é um passeio perto de um exame que eu fui obrigado a fazer: eletroneuromiografia. Tortura, pura e simples.

Zélia Pinheiro disse...

Olá Zanfra,
A sua hipótese para os desaparecimentos em Luziânia, parece ser a mais plausível, até porque Luziânia é uma pacata cidade do interior goiano, porém, fica perto de Brasília, se é que pode significar alguma coisa...
Quanto ao exame, foi exatamente como eu me senti:Horrível e pensei que morreria, como sou uma pessoa de fé, logo entreguei mniha alma a Deus. E quando voltei das "profundezes", digo do tubo, relatei isso ao atendente e reclamei pela falta de humanidade de submeter alguém àquilo sem uma aula prévia sobre o desconforto da mesma.Pra variar ele me encarou como se eu fosse maluca, afinal aquilo é tecnologia, e portanto, coisa fina, de última geração, etc, etc,etc. Conclusão: é por isso que em todas as pesquisas de satisfação sobre o sistema de saúde, os profissionais são tão mal avaliados. È pela falta de ouvir e conversar, perceber a dor do outro,seus medos, dúvidas, é procurar se sentir mais humano e menos tecnológicos, menos deuses!!!

Anônimo disse...

Fosse o tempo dos grandes repórteres, algum grande jornal já teria enviado o Zanfra para Luziânia e - antes do que a polícia - ele já teria elucidado o caso.

abs
jose luiz teixeira

Ricardo Câmara disse...

Prezado Zanfra;
Analisando todas as hipóteses apresentada nesse texto,não só referente ao sumiço dos seis rapazes de Luziânia (GO), mas no país inteiro, a lista de desaparecidos é imensa e fica um certo mistério entorno dos corpos não encontrados ou identificados pelos familiares.É claro que no imaginário popular há muita especulações e dentre estas,não olvidaria acrescentar um clandestino comércio de tráfico de órgãos muito bem organizado e longe da fiscalização a qual se corrompe facilmente quando o DINHEIRO a seduz.Só lembrando que a fila de espera para receber um implante de órgão é extensa e essa ordem cronológica, receia-se que não seja obedecida. Daí, entra "aqueles", omissos na identificação, organizam um esquema de sub-repção e conclui o que se espera.Bom,a conjectura popular tem a sua imaginação e espera-se que se conclua o contrário, desmistificando "o imaginário popular"...

cilmar machado disse...

Acredito mais na hipótese de recrutamento forçado para trabalho escravo em qualquer cafundó do Brasil. Dizer-se que seis rapazes, que não se relacionavam embora habitassem no mesmo bairro, tiveram coincidentemente a mesma idéia de se mandarem ao mesmo tempo da pequena Luziânia seria um exercício de imaginação maior que o desenvolvido pelo Zanfra ao longo de sua crônica. E o tal carro preto (seria o fuscão preto?) que circulou misteriosa e silenciosamente pela área? Será que a polícia não aprofundou essa pista bastante real?
No mais, só hipóteses fantasiosas e espatafúrdias, embora interessantes e tragicômicas...
Sogra que é bom que sumisse (a minha já está do lado de lá), os caras não quiseram sumir com elas, não é?...

Vico disse...

Só existe possibilidade de ter acontecido coisa ruim? Ninguém pensou, por exemplo, na possibilidade de uma viúva milionária, à beira da morte, ter resolvido adotar seis jovens para herdarem sua fortuna? Ou de um milionário excêntrico, também à beira da morte, ter como último desejo oferecer um mês de férias em Paris a um grupo de seis desconhecidos? Todo mundo só pensa em desgraça: trabalho escravo, abudação alienígena, tráfico de órgãos... Gente, vamos desarmar nossos coraçõezinhos!

Anônimo disse...

Qualquer exame invasivo é uma tortura: catéter, punção na coluna, toque retal, sonda na uretra... Quem não passou por nenhum deles não pode reclamar de um simples ataque de claustrofobia durante uma tomografia computadorizada.

Marco Antonio Zanfra disse...

Nesse caso, caro(a) anônimo(a), posso ter ataques de claustrofobia, sonambulismo, histeria e estrelismo, pois já fiz o toque, já tive uma sonda na uretra e já fiz radiografia dos rins com injeção de contraste. Aliás, por falar em "exames invasivos", quer algo mais invasivo do que um exame de próstata?

cilmar machado disse...

E o exame ginecológico? A mulherada também é ¨ invadida ¨, sem dó nem piedade. Talvez isso nos console ao fazermos o exame de próstata, não é?...

Serafim disse...

CARO ZANFRA

Em se tratando de Brasil o mais provável é o trabalho escravo,coisa comum lá praquelas bandas.
Aproveitando o gancho do Jose Luiz Teixeira,que tal voltar a ativa,fazer uma viagem a Luziânia e resolver o caso?
Quanto a saúde,já fiz vários exames que me apavoraram mas ainda não tive o "prazer" de "viajar pelo túnel".Espero as "passagens"estejam esgotadas na minha vez.Do jeito que vcs falam eu não volto vivo de lá.

Abraços

Viajando no "Capricho" disse...

Duvido!Serafim,o maior fornecedor de mussarela deo Boaçava, nunca viajou no "túnel"?Fica confiando no PSA,que na sua tradução à língua portuguesa ,significa :Antígeno prostático específico.Mas no português "CAPRICHOSO" quer dizer:"Pode Somente o Anelar.

Deserção disse...

Se não fosse incorrer no crime militar mencionado logo acima,faltando poucas horas para o fim de minhas férias,bem que eu topava dar uma sumidinha por uns dias.

Blog do Morani disse...

Viajando no Capricho, Cilmar Machado e Anônimo:

Quando falavam na possibilidade de eu ter que fazer toque retal - minha próstata está com 70 gramas! -, batia o pé e afirmava peremptoriamente: "Não faço!"
Fiz. Nunca um exame que eu tenha feito em minha vida de renal crônico e cardíaco foi tão rápido, indolor e simples como esse.
talzinho.
Já fiz o pelo qual o Zanfra passou: contraste para evidenciar os órgãos renais. Esse, sim, foi doloroso, porque o contraste queimava o local - onde introduziram a agulha - como brasa viva

Vico: milagres como esses só acontecem em filmes, mas estou torcendo para que tal milagre tenha se realizado aos rapazes.

Ricardo Câmara: Também seria boa essa nova hipótese aventada pelo amigo - o imaginário em toda a sua investida. Seria terrível ter que adotar outra perspectiva, mesmo sabendo que a prática da violência no Brasil é coisa comum.

Marco Antonio Zanfra disse...

Viajando do 'Capricho': Viajar no túnel é diferente de ter o "túnel" usado como roteiro de viagem. No caso do Serafim, ele disse não ter entrado ainda no túnel do aparelho de tomografia.

Kafka disse...

O autor do blog, pessoa bem informada, já andou dando uma olhadinha por Floripa, para saber se os seis rapazes de Luziânia não estariam por aí curtindo os 40 graus nas águas de Jurerê Internacional? Será que não teriam saído de casa mais cedo - afinal, a caminhada é longa - para ver o show da Beyoncé em posição privilegiada?

Marco Antonio Zanfra disse...

Só faltava essa: depois de gaúchos e paulistas, Florianópolis começar a ser invadida por goianos!

Gennara Vitti disse...

Vi o Bom Dia Brasil de hoje e parece que criaram um clima de mistério em cima do desaparecimento dos meninos. Será que há tanto mistério assim, ou a Globo está querendo faturar em cima? Por que eles não apresentam dados estatísticos sobre a quantidade de desaparecimentos diários no Brasil? Os seis que desapareceram no mês em Luziânia devem desaparecer até o meio-dia de cada dia em São Paulo...

Marco Antonio Zanfra disse...

Desculpe, mas não dá para comparar, Gennara: apesar de ser a quarta cidade de Goiás, Luziânia tem pouco mais de 142 mil habitantes; São Paulo passa de 11 milhões em 2010. Seis desaparecimentos até o meio-dia numa cidade de 11 milhões é muito menos impactante do que seis desaparecimentos no mês numa cidade com menos de 150 mil moradores.

Marco Antonio Zanfra disse...

Aliás, matematicamente falando, os seis que desapareceram em Luziânia representam 0,004% de sua população - porcentagem que, transportada para São Paulo, representaria 440 habitantes. Os seis desaparecendo no mês, da uma média de 0,2 desaparecimento por dia; em São Paulo, a média seria de 14,6 por dia. Ou, comparativamente, 7,3 "até o meio-dia de cada dia".

Paulo Pavesi disse...

Puxa! Parabens! Brilhante!

Os rapazes fugiram de casa, ao mesmo tempo, todos partindo da mesma regiao, por livre e espontanea vontade. Ou melhor, foram capturados para trabalho escravo. Sim! atualmente capturam pessoas para trabalhar de forma escrava.

Este raciocinio voce fez sozinho?

Talvez seja por isso que a policia espera uma denuncia anonima - como sempre - para "resolver" o caso, pois parece que o Brasil perdeu a capacidade de investigar.

Mensalao, foro de Sao Paulo, gastos presidenciais com cartoes de creditos, tudo isso tambem se enquadra no imaginario popular, imagino.