segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Os bebês e os venenos

Pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Pedriatria denuncia: estão envenenando nossos bebês.
Crianças entre quatro e 12 meses de vida estão consumindo açúcar, sal, gordura, corante e aditivos industriais graças a uma alimentação inadequada empurrada pelos pais. De biscoitos recheados a batatas chips, de comida congelada a macarrão instantâneo, os bebês estão trocando forçosamente as tradicionais papinhas, frutas e legumes por comida industrializada.
Preguiça? Incúria? Desinformação?
Talvez tudo isso junto. Se a família como um todo não tem hábitos alimentares saudáveis, a criança também não terá, segundo uma das conclusões da pesquisa. E se uma jovem mãe não tem vocação ou disposição para a cozinha, é muito mais prático descongelar no micro-ondas uma lasanha semipronta e alimentar a família toda com ela. Se a mãe pode comer, por que o bebê não poderia?
Ao se falar em desinformação, é bom lembrar que a pesquisa não foi feita entre roceiros perdidos no sertão do Caicó, mas em três capitais – São Paulo, Curitiba e Recife – e com famílias das classes A, B e C. Por isso, também segundo uma das conclusões do estudo, é possível inferir que a desinformação não é total, mas insuficiente para confrontar as “vantagens” despejadas pelas campanhas de marketing sobre as propriedades nutritivas dos alimentos.
A preguiça também tem seu peso, claro: não é fácil limpar cenouras e mandioquinhas, descascar batatas, espremer laranjas limas e raspar maçãs com uma colherinha todos os dias, durante um ano ou mais... ainda mais tendo à mão, prontinho, um delicioso salgadinho de queijo e um copinho de refrigerante que, como diz o rótulo, tem vitamina C mesmo!
Na pesquisa da Sociedade Brasileira de Pediatria, que envolveu 179 crianças, os médicos descobriram que os bebês estavam ingerindo, em porcentagens consideráveis, alimentos com baixo valor nutricional, inadequados e ricos em gorduras – inclusive trans – açúcar e sal. A lista de “alimentos” inclui comida semipronta congelada, balas e chocolates, leite de vaca, suco artificial, macarrão instantâneo (tipo lamen), salgadinhos, refrigerante e biscoitos recheados.
Esta lista é comum às duas faixas etárias em que foi dividida a pesquisa: de quatro a seis meses e de seis a 12 meses. Na primeira faixa, o estudo apontou, por exemplo, que 38,5% das crianças pesquisadas lambuzavam-se regularmente com bolachas recheadas. Na faixa “maiorzinha” – envolvendo teoricamente bebês mais resistentes à incúria materna – os médicos descobriram que faziam parte do cardápio diário, também, exemplares dos chamados “embutidos”, como linguiça e salsicha.

Ao ler, fiquei imaginando uma criança com menos de um ano beliscando uma porção de calabreza acebolada na mesa de um bar. E, entrando no clima, deduzi que os pais só vão chegar a esse ponto se concordarem que o bebê merece também uma cervejinha para acompanhar.

18 comentários:

Blog do Morani disse...

Amigo Zanfra:

Sabe a que eu atribuo essa nova "modalidade" de alimentar toda a família com produtos industrializados? Em meu simples modo de ver, em primeiro lugar: a publicidade constante veiculada pelas TVs nas campanhas subliminares - aquelas que entram mente a dentro das donas de casa e lá ficam para no momento propício virem à tona; em segundo lugar, porque as donas de casa hoje em dia trabalham fora. Isso já é uma desculpa. Mas, no fundo, fazer o que as donas de casa faziam em tempos de antanho, hoje não dá mais. Há preguiça também, sem dúvida. Mais um motivo, esse importante: as moçoilas de hoje têm aversão por cozinha, por serem donas de casa, por lavar roupa, por descascar legumes e tomar conta de bebês. Convivi isso e sei o que falo. Não é muito mais fácil abrir uma lata, rasgar uma embalagem de macarrão instantâneo ou de uma sopa qualquer? Sim, é. Por isso as adolescentes de hoje começam a sentir os problemas de saúde mais cedo. Minha neta é uma! Falo, pois, de cadeira e a cavaleiro da situação. É isso aí.

Marco Antonio Zanfra disse...

Temos um exemplo dessa preguiça numa "agregada" da família, Morani: não podemos dizer que ela não dá papinha à filha, mas essa papinha é feita a partir de uma lata de "seleta de legumes". Descascar e picar cenouras e batatas, nem pensar!

Ricardo Câmara disse...

Prezado Zanfra;
A mulher que concebe uma criança ao mundo é imperativo, e faz parte do ciclo natural, amamentar o filho(a)durante os primeiros meses de lactação e, posteriormente,aos poucos, adaptá-los a uma outra alimentação até o individuo se fortalecer fisicamente e mentalmente, pois necessitam de outras vitaminas à medida que vão crescendo. Entretanto, o que se percebe nas mães jovens de hoje é a falta do leite materno em tempo hábil, ou seja, assim que nasce uma criança, a maioria delas desmama com antecedência e por motivo de "estética," a mamãe não quer que as suas tetas fiquem dilatadas e por isso,se deixa levar pelos rótulos dos potes das indústrias alimentícias, prometendo proteínas, vigor e dentre outras gororobas que redundam numa geração de água-com-açucar que se sofrer uma queda na velhice, se desmorona todo o arcabouço.

Vico disse...

Tem gente viciada em BigMac com batatas fritas que acha que esse lanche é um maná dos deuses. Como é que esse tipo de gente vai conjuminar em seu cérebro restrito que esse "maná dos deuses" não pode ser consumido por crianças? Eles não fazem por mal: suas mentes é que não conseguem alcançar a extensão do malefício que a comida industrializada traz aos organismos mais sensíveis dos bebês.

Anônimo disse...

Pois é, Zanfra. Você deve se lembrar que há algumas décadas, a Nestlé convenceu as mmães brasileiras a deixarem de amamentar e ´só dar leite ninho para a meninada. Foi duro reverter esse processo.

abs
jose luiz

cilmar machado disse...

A verdade é que os tempos modernos estão aí e já não se concebe mais a Amélia de outrora, zelosa e preocupada com o valor nutritivo dos alimentos a serem ingeridos pelos bebês e pela família. Hoje, a mulher trabalha fora e realmente, por mais que se esforce, não tem tempo para dedicar-se a essa tarefa. Vivemos realmente a época da praticidade que os produtos industrializados nos oferecem. Ao invés de chorar o leite derramado e nos perdermos em saudosas lembranças dos tempos da vovó, não seria mais racional exigirmos de nossas autoridades maior acompanhamento e fiscalização na elaboração dos alimentos que consumimos?...

Marco Antonio Zanfra disse...

Há um paradoxo aí, Cilmar: "tempos modernos" deveriam significar tempos de luz, de conhecimento, de informação; e portanto tempos em que é inconcebível amparar-se na ignorância para enfiar goela abaixo alimentos inadequados para um organismo ainda frágil. A fiscalização não adiantaria porque os alimentos em si não são impróprios para consumo: estão impróprios para o consumo de bebês, e para avaliar isso bastaria o mínimo bom senso da "mãe". Outra coisa: é certo que muitas mulheres trabalham, mas à vezes nem é isso que as impele para a "facilidade da comida pronta"; no caso da "agregada" que eu cito em resposta ao Morani, ela não trabalha - nem em casa, onde passa o dia navegando na internet.

cilmar machado disse...

Qualificar os ¨ tempos modernos ¨ de ¨ tempos de luz, de conhecimento, de informação¨ seria uma interpretação otimista e ideal que todos nós almejamos, confiantes sempre nos seres humanos. No entanto, a realidade muitas vezes não confirma isso. A tecnologia, os processamentos dos alimentos evoluíram, mas o ser humano ainda continua com seu sentimento tacanho ao buscar o lucro fácil a qualquer preço sem muito se importar em SERVIR e não somente LUCRAR. O mundo pode ter evoluído, mas o Homem NÃO!...

Gennara Vitti disse...

Pois o ato de amamentar é algo tão simples e sublime, tão necessário e definitivo... Não entendo como, graças a uma necessidade estética discutível e até reparável (o silicone está aí, gente), a mulher nega o peito a um filho, mesmo sabendo que seu alimento pode salvar a vida dele. Amamentei meu filho até quase um ano de vida e só parei porque ele não quis mais o peito (acho que estava preferindo num BigMac). E me orgulho disso, mesmo que essa minha entrega tenha acarretado algumas leves mudanças em meu corpo. Bata frita, lasanha congelada, papinha de seleta de legumes!? Não dá para entender. O leite materno é bem mais barato e mais nutritivo!

cintia disse...

Concordo com todo mundo... Ha falta de tempo, falta de conhecimento e falta de vontade..
Tenho um amigo brasileiro aqui que quando os filhinhos dele eram bebes, nos fins de semana ele fazia um batalhao de sopinhas e papinhas com produtos de primeira, o suficiente para uma semana.. Ta certo que ele congelava, mas acho que ele encontrou a formula de equacionar a falta de tempo com qualidade.. so ficou de fora da equacao a preguica.

Romer Simpson disse...

A "chupeta" do meu filho era um salgadinho da Elma Chips.Chupava o salgadinho até dissolver enquanto eu me restatelava na rede tomando várias cervejas e assistindo programação inútil na TV.Brincadeiras à parte,acostumei a minha prole,com o sábio hábito de comer.Aliás,percebo que,hoje em dia,comem melhor que eu,já que sou chegado a uma gordurazinha.Dividia com a minha "sensorte" as tarefas de preparar a comida,leite e trocar fraldas,já que podíamos trabalhar meio período(alternados).Aliás,hoje em dia,só não troco fraldas.O resto é comigo mesmo.E como bons Zanfras,somos excelentes cozinheiros(Serjão que o diga e a Cíntia pode confirmar).Meus três filhos comem de tudo um pouco,com suas preferências,é claro.O mais velho é um dois mais novos estudantes da USP(Fã do bandejão).

Cintia disse...

Acho que os homens da nossa familia cozinham muito melhor que as mulheres..

Rui a Marco: para comprovar e assinar essa afirmacao, tenho ainda que provar dos seus quitutes.. quem saabe um dia..

mas que eu nao me esqueco nunca e do sabor do "Jesus ta chamando" que a Tia Anna fazia..

"Culinária brasileira" disse...

Quem batizou o "soborô" que a Dona Anna inventou de "Jesus tá chamando",foi meu ôtata,avô Iuguslavo(Croata)de origem alemã:"Come aqui,morre ali".Talvez ele já tivesse aquela concepção de que feijão amanhecido,arroz igualmente,bacon,farinha de mandioca,acompanhado de banana,é coisa para comer e morrer.Mas,comia.E quem não comia?Até tento chegar perto hoje em dia.Mas,apesar de adjetivar a comida brasileira,adorava o Brasil."Brasil,terra boa.Planta que dá!"E ele tinha porquê pensar assim.No seu terreno dava de tudo:Milho de pipoca vermelha,cebolinha,verduras,cenoura,etc.

Cintia disse...

E o mais engracado e que eu, na ingenuidade de crianca, nao percebia a ironia do nome "Jesus ta chamando".. apenas achava delicioso e lindo uma comida ter aquele nome!

Serafim disse...

Caro Zanfra

Eu,que tive o prazer de degustar as delícias da D.Ana em Pirituba,fico imaginando o que a criançada de hoje perdeu.O maior problema é essas propagandas malditas que penetram nas mentes dessas "mães" cada vez mais jovens e sem preparo nenhum para assumir o "posto".
É duro ver uma criança saboreando um pacotão de salgadinhos,pura química,como se fosse um manjar dos deuses.Simplesmente saúde artificial.

Abraços

Marco Antonio Zanfra disse...

Cíntia: Não lhe faltaram chances de saborear os "meus quitutes". Mas parece que o avião que te traz ao Brasil só chega a São Paulo!
E o "Jesus tá chamando" era realmente muito bom, né? Nada como pedacinhos de toucinho e cebolinha picada para dar novo sabor ao arroz-feijão "déjà-vu"!

Vico disse...

Pois eu acho que é melhor comer uma comida reciclada, ou repaginada - como esse tal de "Jesus Tá Chamando" de que vocês falam - do que esses pratos industrializados com que estão "alimentando" as crianças. O "soborô" pode ser velho, mas tem origem conhecida.

Anônimo disse...

Importante essa ressalva de que o conhecimento das mães é insuficiente para desmentir o que a publicidade despeja diariamente em seus ouvidos. Se elas têm noções de que a criança deve ter uma alimentação balanceada, saudável, natural, livre de aditivos, a publicidade desmente isso todos os dias, ao apresentar seus produtos mágicos e milagrosos. Em quem elas vão acreditar?