segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A refrescância da morte

Antigamente, quando a gente via na TV uma propaganda com imagens de uma turma sarada jogando vôlei na praia, suando debaixo de um sol escaldante e depois despejando sem escalas uma garrafa de refrigerante geladinho goela abaixo, a gente quase sentia o mesmo efeito refrescante que sentiam os personagens da tela. Era a catarse do refrigério. Dava até sede.
Hoje, no entanto, essas mesmas imagens nos remeteriam a duas conclusões muito menos simples e nem um pouco refrescantes. A primeira é que, se a turminha sarada não estivesse devidamente lambuzada por um filtro solar de fator 15, pelo menos, correria o sério risco de deixar de lado as agradáveis recordações do lazer para enfrentar um câncer de pele num futuro próximo; a segunda é que, se escapasse do melanoma, não estaria livre de ser alcançada um câncer de pâncreas, associado ao prazer do refrigerante que reidratou com ímpeto juvenil sua garganta ressequida.
Ou seja, as soluções estão cada vez mais deixando de ser simples. Os pequenos prazeres estão cada vez mais restritivos e perigosos. Quem diria, até pouco tempo atrás, que jogar uma partida de vôlei na praia e depois refrescar-se com uma Fanta gelada poderia representar risco de vida?
Reconheço que a camada de ozônio enfraquecida pela ação irresponsável do próprio homem está sendo insuficiente para conter a voracidade dos raios ultravioleta, e o sol é realmente uma ameaça à espreita, quente, visível e constante. Mas e os refrigerantes? Eles existem desde minha infância, são preparados e adoçados da mesma maneira desde que eu era um garotinho, e só agora, cinquenta anos depois, descobriram que podem ser cancerígenos?
Já fui mais natureba, já fui adepto de sucos naturais, mas hoje sou fã de Fanta laranja, não dispensando eventualmente um guaraná. Virei dependente químico do gás carbônico, e acho que não tomaria um refrigerante se não houvesse aquelas bolhinhas de gás chapiscando minha garganta. Por isso, não deixa de mexer com meus temores – mais evidentes agora que estou na flor da idade, mais precisamente na flor da terceira idade – a informação de que ingerir duas ou mais latas de refrigerante com açúcar por semana aumenta em 87% o risco de câncer no pâncreas.
Mexe mais ainda com meu senso de preservação porque essa não foi a primeira porrada que tomei em relação aos refrigerantes: não faz muito tempo, uma pesquisa da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor indicou que sete entre 24 refrigerantes analisados – entre eles a minha Fanta – tinham benzeno, uma substância potencialmente cancerígena (relacionado a casos de leucemia e linfomas) surgida da reação entre o ácido benzoico e o ácido ascórbico, a popular vitamina C.
Lógico que essa primeira notícia me abalou. Comecei até a sentir um gostinho estranho no refrigerante, principalmente porque associava o benzeno à benzina, produto que a gente usava para limpar equipamentos no curso de eletrônica do segundo grau. Mas depois passou, como tudo passa! Como vão passar esses assomos de medo provocados pelos 87% de risco de câncer de pâncreas que estão pairando sobre minha cabeça, a ameaça mais nova a ser acrescida ao rol de ameaças que nos acompanham somente por estarmos vivos.
Primeiro, porque as verdades absolutas sobre a saúde vêm e vão, e às vezes deixam de ser verdades absolutas em menos de um mês. Segundo porque, mesmo que eu deixe de tomar minha Fanta e viva mergulhado num pote de protetor solar, novas e incontáveis ameaças vão sempre estar atrás da moita. Não acabaram de descobrir que a nicotina é residual, fica impregnada nas paredes dos locais onde se fumou durante alguns meses, e que mesmo nem estando por perto quando alguém fumou naquele local você pode ser atingido por seus efeitos maléficos?

16 comentários:

Cintia disse...

Desencana.. Como voce mesmo disse, essas verdades vem e vao, sem falar nos maleficios desconhecidos que ainda estao por descobrir das mais simples coisas da vida..

Blog do Morani disse...

Zanfra!

Não esquente. Minha sobrinha Eliane,conhecida entre nós como Petinha, filha de minha falecida irmã gêmea Marina, morreu de câncer no pâncreas aos 43 anos sem nunca ter bebido Fanta, e os outros refrigerantes não faziam parte de sua dieta. Provou isso aqui em casa, quando de sua última visita. Só bebia água, limonada e laranjada.
E o café? Diziam ser um perigo para a saúde. Ficou provado não ser nada prejudicial, mas mesmo assim só tomo cháfé (café pra lá de ralo!)Nescafé? Jamais! Agora, ninguém fala muito sobre o trigo, o açúcar refinado (veneno doce) e o abuso ao sal - este, sim, o mais agressivo à saúde. O meu açúcar é o mascavo, mas pouco.

Marco Antonio Zanfra disse...

Disseram tudo, Morani e Cíntia: quanto mais você se preocupa com a morte, menos você vive. É como diz nosso sábio e valente vice-presidente, em sua velha luta contra o câncer: "Se o Criador não quiser que eu vá, não tem câncer que me derrube; quando Ele quiser me levar, não tem tratamento que resolva."

Ricardo Câmara disse...

Prezado Zanfra;
Levando-se em consideração que a propaganda é a alma do negócio, pode-se deduzir que o consumo dos produtos, sejam eles quais forem,se faz pela marca comercial.Tomamos como exemplo, a Coca-Cola, empresa que existe há mais de cem anos, ainda investe no marketing, nunca patenteou sua fórmula, pois fazendo isso, logo mais após vinte anos, estaria sob domínio público e por essa razão,entraria em falência devido à concorrência se apoderá da receita. Entretanto, preferiu (a Coca-Cola), manter sob sete chaves o segredo desse refrigerante que grassa o mundo inteiro.As pesquisas em si,têm um caráter verídico, algumas matérias pagas pelo meio informativo para se abrir espaço para concorrência, enquanto em outras nos alertam quanto à composição química nociva ao ser humano dado a ingestão de substâncias contida nessas bebidas.Há muito já se falava que o consumo de refrigerantes, de um modo geral, enfraquece os ossos. E só lembrando que os fabricantes (os donos) desse tipo de bebida não têm o hábito de adota-lo à mesa, peferem um vinho ou suco natural.Agora, cabe ao ser humano decidir se levar pelo marketing ou procurar meios mais salutares.Decidam!!!

Gleydson disse...

É... Somos guiados por estatísticas o tempo inteiro. Aprendi que isso vale pra qualquer área, principalmente a médica! As "opiniões" nada mais são que riscos pra mais ou pra menos. Celular causa câncer nos miolos? Bom, vai depender de quem vai bancar a pesquisa e se alguém vai sobreviver pelo menos uma geração pra compor os números.

E como vocês mencionaram nos outros comentários, a gente tem mais que se preocupar é com a vida mesmo. A morte vai chegar a qualquer hora.

cilmar machado disse...

O que dizer então dos adoçantes artificiais? Os fabricantes de açúcar refinado deram ampla divulgação de que eles são cancerígenos. Muito se comentou, mas nada se provou e os adoçantes artificiais continuam no mercado. Se formos levar a sério até mesmo os produtos enlatados e embutidos têm conservantes perigosos à nossa saúde. Encanar por algo assim é decretar a subserviência aos interesses dos grandes empresários do ramo alimentício e que tais. Viver também é arriscar! Tome sua Fanta laranja sossegado, Zanfra! Siga o conselho do Zé Alencar e viva feliz!...

Vico disse...

Concordo com todo mundo: tome sua Fanta sossegado e viva feliz... mas não se esqueça das restrições que devem nortear o comportamento das pessoas na flor da terceira idade!

Carlos Martí disse...

Deus está morto. (Nietzsche)
Nietzsche está morto (Deus)
E eu, no me sinto muito bem...

Kafka disse...

Só uma perguntinha: no tempo em que nosso blogueiro morava no Japão, como fazia - importava a Fanta para manter o vício? Não é no Japão que se preserva a alimentação natural?

Marco Antonio Zanfra disse...

Em primeiro lugar, caro Kafka, não há vício. Consigo sobreviver sem crises de abstinência mesmo se ficar dois dias longe da Fanta.
Em segundo lugar, o império da Coca-Cola é maior do que o espírito naturalista japonês: lá tem Fanta, sim, embora o líquido seja amarelo (e não cor de laranja, como o refrigerante brasileiro), menos doce e com sabor menos marcante, talvez pela concentração menor de aditivos químicos.

R. Pimenta disse...

Tenho um avô que morreu aos 97 anos e que fumava, bebia, comia carne de porco etc. Se tivesse seguido as "recomendações" da boa saúde, tenho certeza de que teria morrido mais cedo. Para explicar essa longa vida dele, um detalhe: ele nunca tomou Fanta!

Marco Antonio Zanfra disse...

Bom saber disso! Quem sabe eu não me torne mais longevo se deixar a Fanta de lado e voltar à cachaça e aos cigarros...

Eliz disse...

Oi Zanfra,

Apesar de estar de férias, sempre arrumo um tempinho para entrar no seu blog e comentar, mesmo que seja uma hora da manhã.... Acho que você faz bem em tomar fanta semanalmente, pois se trata de um produto afrodisiaco, tem até um ditado popular "toma fanta que levanta".... Ehehe

Marco Antonio Zanfra disse...

... e com a Mirinda mais ainda, né? Credo, que piadinha velha! Só é desculpável pelo adiantado da hora...

Eliz disse...

É Zanfra,

Estamos demodê (fora de moda) com essas piadinhas... Aliás, acho que fanta está fora de moda, o ideal é tomar Sukita, mas aí você corre o risco de ser chamdo de tio... Rsss

Anônimo disse...

Prezado Zanfra
Essas ondas de notícias vem e vão.
No meu caso, gosto do Guaraná e era "o remédio" que eu pedia nasfortíssimas gripes que tinha quando criança.
Tudo que sei é que precisamos trazer em nós a portabilidade de desenvolver qualquer tipo de câncer.
Por isso....Sarává...Mangalô ...3 x e continuemos com nossos refrigérios.
bjussssssss
Sonia Carotta