segunda-feira, 29 de março de 2010

Uns nós na garganta...

Não posso negar que a condenação do casal Nardoni, na madrugada de sábado, tenha ajudado a desatar um dos nós que me haviam sido aplicados na garganta exatos dois anos atrás, com o estúpido, covarde e inexplicável assassinato da menina Isabela. Um tantinho descrente quando se trata de uma decisão que dependa do júri, respirei com alívio com a notícia de que nossos sete representantes não se tinham deixado levar pela falácia da defesa a respeito de uma alegada inexistência de provas. Já vi casos com mais evidências condenatórias em que o réu foi absolvido. Por isso, fiquei não com um, mas com os dois pés atrás.
Depois que o juiz parou de contar quando registrou o quarto voto pela condenação – que, na minha opinião, caminhava claramente para a unanimidade – meu coração voltou a bater e eu voltei a ter um pouco de fé na Humanidade. Esse voto de confiança foi tão consistente que ainda deixa sobras para um eventual porém improvável segundo julgamento: se a defesa conseguir a anulação do júri, tenho certeza de que uma segunda e definitiva condenação aguarda o casal de carrascos.
Não posso dizer, contudo, que esteja com a alma totalmente lavada diante dos 31 e 26 anos de confinamento que aguardam Alexandre e Anna Jatobá. Herdei do caso Isabela Nardoni outros nós na garganta que se afiguram um tanto mais complicados de desatar.
Um deles tem cargo – madrasta – e nome: Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá. Tenho plena convicção de que foi ela quem detonou o processo que terminou com a morte da enteada, deixando até mesmo marcas de suas garras no pescocinho da criança. E acho que 26 anos atrás das grades é pouco para punir uma pessoa ciumenta, manipuladora e possessiva que não mede vida ou morte para satisfazer sua mesquinhez.
Alexandre Nardoni é um banana. Subjugado pela própria pusilanimidade, fez o que fez para encobrir o crime que a mulher começou. Merece os 31 anos porque deixou que sua tibieza suplantasse sua condição de ser humano e, acima de tudo, pai. Mas a madrasta merece mais que ele: merece uma pena que deixe clara sua condição de “mandante” do crime.
Outro nó, ainda mais difícil de afrouxar, é a própria condição dos criminosos: até quando eles vão sustentar sua inocência? Até quando eles vão afirmar que a morte de Isabela foi quem sabe obra do Espírito Santo? O que é preciso para que o casal Nardoni tenha um momento de lucidez e assuma a autoria do assassinato, contando com as próprias palavras o que a perícia sugeriu por detalhes científicos? A partir da confissão, tenho para mim que seria mais fácil desatar mais um nó, um penúltimo, que dificulta a respiração nesta pobre e alquebrada garganta, e é um nó que só vai desaparecer quando os algozes de Isabela assumirem um real, vigoroso e honesto arrependimento por sua morte cruel.
O arrependimento dos assassinos afrouxaria este penúltimo nó, mas deixaria um derradeiro, que jamais será desfeito: é o nó que teima em apertar forte cada vez que a gente vê uma foto com o sorriso luminosos de Isabela Nardoni e se lembra de que ela foi impedida para sempre de sorrir de novo.

16 comentários:

Gleydson disse...

Um pai matar a própria filha... Não existem mesmo limites.

Se a gente para pra pensar em uma coisa bem cruel que pode ser ou foi feita, tem alguém que sempre supera.

O pior é ainda pensar que esses 31 anos serão convertidos facilmente em 5, 10 anos, adicionando mais um nó.

Abraços e um minuto de silêncio pela pequena.

Anônimo disse...

Prezado Zanfra
O que mais me assombrou,em tudo, foi exatamente o casal alegar, até o último instante, inocência.Só posso concluir que eles precisavam acreditar que não cometeram aquele crime "hediondo",infelizmente não foi assim.Quem os orientou a persistirem nessa mentira,talvez,seja pior ainda e está livre,solto e a quem mais irá orientar? Espero que essa carreira também tenha chegado ao fim.Dá para deduzir quem foi,né?
No mais, nos faltam palavras.
Por fim,vamos nos lembrar daquele sorriso irradiante feliz e puro de Isabela,ao olharmos para o céu.bjusssssssssssssssss
sonia carotta

Vico disse...

Estou em dúvida se o caso Isabela Nardoni me deixou com um nó na garganta ou com um nó no peito. Mas, em qualquer caso, é bastante dolorido.

Blog do Morani disse...

Sua abordagem desta segunda-feira está excepcional. Eu tinha quase certeza de que você não deixaria passar em brancas nuvens esse caso que a todos nos trouxe "nós e mais que "nós" - um nó corrido de forca a nos apertar como um todo, até nos deixar sem respiração e moralmente mortos. Espero que dessa vez não se concretize o que disse Gleydson, mas há possibilidade, sim, de eles, por bom comportamento e trabalho dentro da Penitenciária, terem diminuidas suas sentenças voltado ao convívio da sociedade. Já não quero admitir um novo julgamento. É a Lei: aos que forem condenados por mais de vinte anos outra oportunidade, diante de jurados e Juiz. Acho a pena recebida pelo casal um convite de férias.

Anônimo disse...

Zanfra, está aí um caso para um novo Trumman Capote. Vc se habilita???

abs
josé luiz teixeira

Marco Antonio Zanfra disse...

Acho que Truman Capote seria pouco para contar a história real, Zé. Talvez só com a ajuda de Freud, Lombroso e Chico Xavier ele conseguisse deslindar a mente doentia do casal.

Gennara Vitti disse...

Esse finalzinho do texto parece meio piegas, mas acho que não tinha outra maneira de escrever. Todas as fotos que a gente vê da Isabela ela está com esse sorriso luminoso de uma criança que não tem qualquer noção de que o mundo é ruim e de que as pessoas podem fazer alguma coisa contra ela. Dá esse aperto no peito, sim, sentir que esse sorriso foi apagado de forma tão brutal e que uma grande quantidade de vida, de tristezas e felicidades, de amores e esperanças foram negados a ela. Não há condenação e anos atrás das grades que compensem tamanha dor.

Cintia disse...

Acho que no fundo eles acabaram por acreditar na mentira que inventaram...

Quero protestar contra o o blogger quanto aos comentarios.. escrevo um longo texto, quando publico... nao publica! Dai, por preguica E por falta de memoria do que eu escrevi, deixo pra la e privo seu blog dos meus aguardados comentarios!

Marco Antonio Zanfra disse...

Você tem uma opção simples: antes de "salvar" o texto, dê ctrl+C nele; se não for publicado corretamente, você tem o original na memória para tentar novamente. O que nós não podemos é ser privados de seus aguardados comentários...

Cintia disse...

O problema e que nem sempre me lembro deo Ctrl C meu comentario..

Fabiano Marques disse...

hehehehe
eu até ia fazer (um comentário),mas estou meio de saco cheio dessa história do caso Isabela.
Sou contra o julgamento que a imprensa fez sobre o caso. Na verdade, sinto-me feliz pela condenação e triste pela atuação nojenta dos jornalistas.
Cheguei a me perguntar se sou mesmo jornalista. hehehehe

Serafim disse...

CARO ZANFRA

A condenação já era prevista mas o "carnaval" que a imprensa,como bem disse Fabiano Marques,fez foi lamentável.Quantos casos parecidos não existem por aí?

Abraços

Eliz disse...

Oi Zanfra,

O advogado do casal deu uma declaração muito verdadeira (apesar de toda falácia) após o julgamento, que apesar da condenação o que reamente aconteceu naquela noite ninguém sabe (exceto o casal Nardoni e talvez o advogado), e muito provavelmente jamais vamos saber, talvez por isso (e nao somente por isso) por muito tempo sentiremos um nó na garganta!

Marco Antonio Zanfra disse...

Pois é, Eliz: será que um dia nós vamos saber o que aconteceu exatamente naquela noite, o que passou pela cabeça dos assassinos para que as coisas chegassem ao ponto em que chegaram?

Zélia Pinheiro disse...

Olá Zanfra,
Concordo com você, o Nardoni é um banana e a sra.Nardoni uma madrasta malvada. Agora o que me espanta é quão desprotegida estava esteve garota! Eu como mãe que percebesse hostilidade na madrasta como ficou evidente pelos depoimentos da mãe, jamais confiaria minha filha, mesmo estando com o pai imagina!(este que a mãe conhecia muito bem)! Então esta criança esteve o tempo todo desprotegida, sob a maldade da madrasta, a covardia do pai e negligência da mãe! Portanto, morreu por falta de proteção e cuidado!!! Pode até ser uma postura que vá gerar polêmica, mas na minha opinião houveram tantos erros quanto é possível me lembrar, sem contar o avô(pai do Nardoni), nunca vi ele sofrer pela neta mas sempre tentando livrar a cara do filho. conclusão: Além dos dois condenados e o advogado tem mais gente que sabe né?
Zélia Pinheiro

Marco Antonio Zanfra disse...

Tem razão, Zélia: tem mais gente que também deveria estar em cana!
Quanto à mãe da menina, será que ela não era obrigada por sentença judicial a deixar Isabela passar um tempo com o pai? E outra: até que ponto você pode prever que uma simples hostilidade pode transformar-se em sanha assassina?