quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Trinta anos atrás


A Folha está completando noventa anos. Para comemorar, disponibilizou na internet as quase 33 mil edições que pôs nas bancas desde 1921.
Como um dos soldados do jornal em quase dez por cento desse período de 90 anos – no tempo ainda em preto e branco; alguns de meus estimados e longevos leitores devem lembrar-se disso – tratei de procurar nesse acervo algo que marcasse minha participação na história do jornal. E achei.
Tal qual um paleontólogo, localizei uma edição de mais de trinta anos atrás, com um fato raro: o repórter – ele mesmo – virar chamada de primeira página do jornal por causa de sua matéria.
Está na imagem aí em cima, para quem quiser ver: aquele rapazinho cabeludo do lado esquerdo da página – do lado direito está Jimmy Carter beijando sua mulher Rosalyn, não confundam! – é este que de vez em quando perturba a tranqulidade de meia dúzia de sete ou oito leitores com mal-traçadas linhas como estas.
A pauta: por ordem do chefe de reportagem Adílson Laranjeira, fui ao Detran de São Paulo ver se estava sendo cumprida sem restrições a norma que possibilitava obter a carteira de habilitação sem passar por uma autoescola. Achava-se que os burocratas do departamento boicotariam os cadidatos chamados particulares, para evitar que as autoescolas perdessem parte de sua bocada, reduzindo sua arrecadação e, consequentemente, minguando a distribuição de mimos aos dedicados funcionários do órgão de trânsito.
Mas não: o particular aqui não só conseguiu tirar sua CNH sem qualquer dificuldade, como conseguiu tirá-la pela segunda vez.
Como a pauta inicial perdeu seu norte – já que o Detran não estava restringindo a habilitação dos particulares – ficamos com o plano B: um motorista já habilitado conseguir uma nova habilitação a partir de um segundo prontuário, em nada relacionado ao primeiro, o que possibilitaria a condutores com a carteira cassada tirar um segundo documento e voltar às ruas.
A matéria saiu na edição de 30 de outubro de 1980, uma quinta-feira, sob o título Como tirar duas cartas no Detran:
O repórter Marco Antonio Zanfra, da “Folha”, conseguiu ontem sua segunda Carteira Nacional de Habilitação, no Detran, e com isso provou que qualquer pessoa que tenha cometido infração grave ou mesmo crime de trânsito, com a consequente apreensão da carteira, possa “contornar” o fato, indo ao órgão estadual de trânsito e solicitando novo documento.

Hoje, quase 31 anos depois, os tempos são outros, claro. Os Detrans estão informatizados e não haveria como, por vias legais, conseguir uma segunda carteira como eu consegui. Felizmente para mim, que, como assessor do Detran de Santa Catarina, não corro o risco de ter de explicar o inexplicável a repórteres chatos como eu fui.

12 comentários:

assis angelo disse...

grande marco!
foi bom trabalhar com você naqueles tempos na Folha, ao lado de Celsinho, Hipólito Oshiro, Zé Luiz, Valmir Salaro e outros tantos, incluindo Afanasio Jazadji que viru deputado e ex-deputado.
grande abraço,

Fernando Morgado disse...

Que coisa, não, Zanfra, quer dizer que o seu destino já estava traçado, rumo ao Detran trinta anos atrás? Espero que você seja um assessor competente, embora pareça moleza, já que tem tempo de sobra para mandar e-mails para o Sacolão.

Anônimo disse...

Boa, essa Zanfra. Eu t5b estou vasculhando meu passado lá!

abs
josé luiz

Nereu Leme disse...

Grande Zanfra. Muito legal.
Vou procurar meus acervos também.
Pensei que era você beijando a mulher no canto direito da página.
Mas, logo depois vi sua carta ao lado.
Ufa!

Filha de peixe... disse...

Pelo menos vc reconhece a chatice. E se eu não te conhece do tempo dos cabelos longos e cacheados diria que esse na foto não era você!

Serafim disse...

CARO ZANFRA

Vendo essa foto lembrei dos tempos da Facul quando vc exibia a vasta cabeleira com seus caracóis.Se como repórter conseguiu 2 carteiras de Habilitação só espero que como assessor não tenha conseguido.......

Abraços

cilmar machado disse...

Vocês viram a reportagem do Marcelo Rezende, no Domingo Espetacular, da Record? Mostra como é fácil adquirir-se um documento totalmente falso, no centro de Sampa, pagando-se aos falsários. No entanto, dentre os inúmeros documentos ilegais conseguidos pelo repórter e sua equipe, não se vê a CNH. Estariam os Detrans de todo o país melhor aparelhados para detectar as falcatruas ou, coincidentemente, Marcelo não se preocupou em ter uma carteira nova?
E agora, o que será da nova Cédula de Identidade que, em breve, será implantada? Será confiável?...
Parabéns Zanfra, pelos anos de dedicação à profissão que abraçou. Os anais da Folha ressaltam e identificam um profissional zeloso, competente e batalhador.

Cintia disse...

Nossa, como me lembro dessa reportagem! Tinha o recorte guardado no meu bauzinho, mas infelizmente meus tesouros se perderam desde o seculo passado..

Cintia

Cintia disse...

A proposito, qual o link dos arquivos?

Marco Antonio Zanfra disse...

É só entrar em www.folha.com.br e clicar em ACERVO FOLHA, que está em amarelo, na parte superior da página. Não sei até quando estará aberto ao público.

Cintia disse...

Que legal!! Pena que pra mim o site nao navega bem.. Mas pude achar um monte das suas maetrias e, obvio, nao podia deixar de procurar pela minha paixao platonica que foi o Ademir Barbosa.. Qual carnaval que voces cobriram juntos?

Marco Antonio Zanfra disse...

Ih, vários... tanto pela 'Folha' quanto pela revista 'Agora!'.