quarta-feira, 13 de julho de 2011

Beba com moderação!

Pronto!
Bastou que eu finalmente cedesse à insistente orientação para tomar dois litros de água por dia, hábito que sempre me pareceu puro desperdício, para que surgisse uma voz destoante e dissesse que não há evidências científicas para afirmar que tomar oito copos por dia deva ser uma obrigação. Passei cinquenta e cinco anos ingerindo a quantidade diária de água que minha sede prescrevia – um a dois copos, se muito – e, depois de admitir finalmente tornar-me um aquífero ambulante, descubro que meu corpo era quem tinha razão.
Nosso organismo se autorregula, confirma Daniel Rinaldi, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia. Para ele, não há mesmo evidências de que as pessoas precisem beber dois litros de água por dia. Mas isso eu sempre soube.
Costumo basear-me em minha inteligência orgânica para viver: como muita fruta, bebo café, os alimentos eles próprios têm água. Com minha alimentação normal, portanto, estaria suprida minha carência hídrica. E se houvesse necessidade de mais água para manter o nível do reservatório, nada mais lógico que eu sentisse sede, certo? Sempre funcionou assim e nunca me senti desidratado.
Pelo contrário: nas vezes em que tentei forçar alguns copos de água a mais garganta abaixo, creio ter chegado o mais perto que se pode chegar, vivo, da sensação de afogamento. Além do empapuçamento e da impressão de que a barriga estava fazendo glub-glub e todos estavam escutando, sentia apenas crescer desproporcionalmente meu índice de frequência ao banheiro. E isso dava a ideia de que meu corpo nada mais era do que um mero carro-tanque, um intermediário no transporte da água desde a fonte até o vaso sanitário. Mais fácil, e menos desagradável, seria despejar a água diretamente da garrafa.
Depois de todos esses anos deixando que minha bacia hidrográfica se autorregulasse, porém, fui convidado a entrar na turma dos dois litros – ou dos oito copos, o que empapuçar menos – por recomendação médica: meu último exame de urina acusou a presença de “raros cristais de oxalato de cálcio” e isso, segundo o urologista, é sinal amarelo para o risco de cálculos renais. Como tive pedra no rim aos vinte e um anos e sei o quanto doi...
Mesmo as vozes destoantes admitem benefícios comprovados da grande ingestão de água aos pacientes com histórico de nefrolitíase, e por isso não vou abandonar o ainda estranho hábito de virar três ou quatro garrafinhas ao dia, ainda que meu corpo as julgue supérfluas. Além de limpar as vias urinárias, sei que deve ter outros benefícios. Meu irmão, por exemplo, achou que eu estava com “o rosto mais cheio” da última vez que me viu – e isso, dada minha histórica magreza, é um elogio.
Quem sabe a água não faça milagres...

8 comentários:

Blog do Morani disse...

Ai Zanfra:

Houve uma época em que eu bebia dois litros de água. Eu deixava dois litros separados cheio até o gargalo. A sede só recrudescia à noite. Então eu ia à geladeira lá pelas sete horas e bebia quase todo o primeiro litro. Lá pelas oito e meia tomava o resto. A minha sede não era aplacada. Até a hora de dormir o resto da outro litro estava terminando. Minha esposa Léia não sabia a razão de tanta sede. Eu dizia que amava beber água gelada e muita. Mal sabia eu que os meus rins já se encaminhavam para a falência. Fiz urografia excretora. A pasta grossa que colocaram à minha veia mexeu com um cálculo de muitas pontas. Esse cálculo foi expelido e eu urinei sangue por dois dias. Ele cortou a passagem até chegar à uretra e ali parou. Teve de ser retirado com uma pinça, três dias depois por eu ignorar que o dito cálculo estivesse preso. O caminho para Niterói, para a retirada do órgão direito, foi em um estalar de dedos. A urografia mostrava que o contraste não passara. O nefrologista, que já faleceu, me disse que eu estava sem o rim direito. Fui. Lá se constatou que o que impedira a passagem do contraste fora o cálculo estrelado.
O nefrologista-chefe olhou o cálculo, que eu levei, me liberando à mesma hora. Eu nada tinha que pudesse sofrer cirurgia de extração do rim direito. Isso tem quase 40 anos! Atualmente, para concluir, perdi o tal rim. O esquerdo trabalha a contento, mas sobrecarregado. Hoje não tenho sede. Tomo apenas 4 copos por dia devido a uma dieta alimentar para recuperar parte de minha musculatura, devido à retenção de líquido e 4 Lasix por dia! Toco a minha vida sem o órgão direito e passo bem. Está lá, quietinho ao mesmo lugar.
Abraços e pé à tábua!!!

Zélia Pinheiro disse...

Olá Zanfra,
Se você continuar falando da sua longa história (temos a mesma idade) de pouca água e que por isso é tão magro, serei capaz de para de tomar água de vez. Você não sabe que para uma mulher, se alguma coisa for sinônimo de emagreccimento é tiro e queda? Dizem até que a serpente depois de todos os argumentos em vão disse à Eva: - come, boba, emagrece!
Meu sonho de consumo é ser considerada "magrela", até hje ficou só no sonho...
Abraços!!!

cilmar machado disse...

Para mim, tudo que é exagerado não faz bem ou, ao menos, não é natural. Nosso organismo é uma máquina que se auto regula e ¨grita ¨ quando algo lhe falta. Então, essa de tomar dois litros d’água por dia é para o Homem Submarino, não para mim! rs rs rs

Célia Bretas Tahan disse...

Tomo três litros por dia e não me arrependo. Sei que, em todas as recomendações médicas, sempre tem uma voz discordante. Só que, desta vez, o tal discordante está sozinho. E, como você, minha mãe parou de ter pedras nos rins quando passou a tomar mais água. Então...

Fábio Zanfra disse...

Depois da cerveja e da coca cola a água é a melhor bebida.

Marco Antonio Zanfra disse...

O engraçado é que, no tempo em que eu tomava cerveja, meu organismo não se melindrava tanto: eram pelo menos dez garrafas de 600 ml ao dia, num total de seis litros; para tomar dois litros de água, hoje, chego quase a vomitar.

Luiz Vita disse...

Zanfra, gosto mais da recomendação de tomar 1 litro de cerveja por dia, ou um litro de vinho....

Bila Remzetti disse...

Por isso que eu só tomo um litro e meio hehe