
Quem vir o vídeo vai perceber que aquilo não parece uma sala de cirurgia, mas o set de gravação de um programa “mundo cão”: várias pessoas falando ao mesmo tempo, algazarra, expressões de nojo e frases – “cara, isso aqui é pra história” e “já mandei a foto por e-mail” – inconciliáveis com a seriedade que se espera de médicos e estudantes de medicina, principalmente porque estavam, como costumam estar às vezes, tratando com seres humanos.
Creio que nem venha ao caso a forma como o peixe foi parar onde parou e de onde teve de ser retirado à custa de bisturis, mas é indiscutível que foi isso que atraiu a calhordice – armada de celulares com câmera – para a sala de cirurgia. Também não vem ao caso se foi o preconceito, o gosto pelo bizarro, a pobreza de espírito ou o culto ao grotesco que os levou até lá. O que se discute é como médicos exprimentados, cirurgiões com um nome a zelar permitiriam que uma sala de cirurgia se transformasse numa filial do “Circo do Doutor Lao”. Como profissionais sérios poderiam tolerar a balbúrdia, a presença de estudantes que se comportavam como se estivessem na hora do recreio, a documentação vídeo-fotográfica de um feito cirúrgico sem que qualquer responsável, especialmente o paciente e seus famliares, tenha sido consultado?
O Conselho Regional de Medicina vai investigar até que ponto os médicos têm participação na divulgação do vídeo. A Universidade Estadual de Londrina, responsável pelo hospital, também abriu sindicância e pode punir eventuais funcionários envolvidos.
De meu lado – sem, é claro, a intenção de chutar cachorro morto – quero lembrar que foi nesse mesmo hospital que, no final de 2008, um grupo de estudantes bêbados invadiu o pronto-socorro lotado e usou até fogos de artifício para comemorar o final do curso.
2 comentários:
Caro Zanfra:
É intolerável e imperdoável o ambiente que se formou por ocasião do ato cirúrgico, que se pretende mais respeitoso a todos eles, em que foi retirado dos intestinos de um cidadão o peixe que lá se meteu, por vias naturais. O Conselho Regional de Medicina precisa impor àquele bando de vândalos as responsabilidades cabíveis; afinal, não se estava tratando de nenhuma peça cômica,
de um quadro de programa humorístico ou o que o valhesse. Envergonha-me ver semelhante pantomima em um momento tão sério. Abraços.
Meu caro Zanfra:
Só espero que o fato ocorrido não seja o retrato do ensino universitário brasileiro que de há muito vem claudicante, especialmente de umas décadas pra cá. Amigo meu, toda vez que vai consultar-se com médico ou dentista, tem a cautela em procurar saber o ano em que o profissional se formou e a escola em que estudou, chegando ao ponto de NÃO utilizar-se dos serviços dos concluintes de 1990 pra cá!...
Exageros a parte, em nada se justifica o circo armado na operação em pauta. Lamentável...
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