terça-feira, 25 de setembro de 2007

Valores e valores


Posso estar enganado, mas acho que algumas pessoas consideram o dinheiro mais valioso do que a honra, a integridade, a dignidade. Não, não estou falando dos que se locupletam na penumbra da corrupção. Não estou falando também de prostitutas, que vendem o corpo por alguns trocados. Falo de pessoas que não se incomodam por sevícias, por honra ultrajada, por dignidade aviltada... desde que não toquem em sua pecúnia.
Generalizo para comentar o caso de uma moça que, aos 21 anos, resolveu denunciar o pai por abuso sexual. Aconteceu numa cidade do Sul de Santa Catarina. Durante nove anos, segundo ela, o pai a subjugou e a obrigou a manter com ele relações incestuosas. Hoje, casada, ela tem um filho de seis anos, cuja paternidade – já comprovada por exame de DNA – é atribuída ao pai.
Diferentemente do que acontece nesses casos, a moça não quis sigilo nas denúncias, não se escondeu por trás de pseudônimos nem se ocultou na penumbra de imagens veladas. Ao contrário, deu entrevistas, apareceu na TV, contou em detalhes o constrangimento a que era forçada. Disse que o pai batia em sua cabeça, dava-lhe socos, para obrigá-la a submeter-se. E não adiantava gritar por ajuda, porque eles moravam distantes da vizinhança, no meio da roça.
Durante nove anos ela aguentou calada, engoliu as ofensas, gerou um filho absolutamente indesejado. Só agora, quando esse filho indesejado chegou aos seis anos, resolveu denunciar a violência paterna. E sabe por quê? Porque o pai – não sei dos detalhes da falcatrua – deu “um logro” no marido dela, desfalcando suas suadas economias em R$ 5 mil.
As palavras são dela, ditas ao microfone de uma rede de TV: “Preso, ele não vai mais dar logro em ninguém, não vai mais estuprar ninguém.”
Acho que o logro veio na frente do estupro, em suas declarações, como numa escala de valores. Ela pode até não ter denunciado antes por medo, ela pode até ter sido ameaçada caso revelasse a sordidez paterna. Mas, aaaahhhh..., quem mandou mexer com dinheiro? Nada como uma ameaça financeira – muito mais concreta e palpável do que a dignidade – para destravar uma garganta constipada por mais de nove anos.
Por mais inclemente que pareça minha interpretação, dá para pensar em quê?

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