segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Vê se isso é assunto para uma segunda-feira!


O primeiro assassinato é como o primeiro amor. Você nunca se esquece.
Que fascínio nos traz a morte? A frase acima foi dita por um russo de 33 anos, que, depois desse primeiro e inesquecível assassinato, assumiu ter matado outras 48 pessoas. Qual será o gosto de matar? Sensação de poder? Sensação da capacidade de definir o indefinível, consolar o inconsolável, curar o incurável? Ter poder sobre a vida e a morte satisfaz a necessidade de saber o que é a vida e a morte?
Assim como o desconhecido, como o que foge à nossa percepção lógica, a morte fascina e intriga as mentes inquisitivas. Quem não aceita simplesmente o dogma de que quem é bonzinho vai para o céu e quem não presta passará a eternidade nas profundezas – tirante os políticos, que sempre dão um jeito de maquiar os próprios currículos – passa boa parte da existência imaginando o que acontece depois que termina nosso estágio físico no planeta, ou depois que nossa massa corpórea deixa de ser tocada pela fonte da vida, seja ela qual for. Será que tudo se acaba? Será que a morte é uma grande noite de sono sem sonhos? Será a escuridão?
Há teorias, claro, embora nunca suficientemente comprovadas para os pequenos tomistas que são os portadores de uma inteligência pouco mais que mediana. Divisão da existência em diversos planos paralelos? Reencarnação? Fonte de energia cósmica? Há coisas que não se explicam – a própria formação do universo e da vida nele – e, se a alguém foi dado conhecer essas explicações, esse alguém ainda não voltou da viagem para nos falar a respeito.
Há também as visões poéticas, claro, uma forma de compensação: se algo não nos satisfaz a lógica, pelo menos nos alimenta o espírito. Quintana [Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver] acha que a vida e a morte são fases de uma viagem: Essa vida é uma estranha hospedaria/De onde se parte quase sempre às tontas/Pois nunca as nossas malas estão prontas/E a nossa conta nunca está em dia.
Para Cecília Meirelles, o desconhecido traz só uma certeza – é triste: E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...
Para Francisco Otaviano, a morte é uma coisa só – o fim: Morrer, dormir, não mais: termina a vida/E com ela terminam nossas dores/Um punhado de terra, algumas flores/E às vezes uma lágrima fingida. Para Florbela Espanca, também: Dona Morte dos dedos de veludo/Fecha-me os olhos que já viram tudo!/Prende-me as asas que voaram tanto!

Tá bom, sei que hoje é segunda-feira, e a morte não é assunto para dia nenhum da semana. Mas... tem dia mais metafísico do que este, depois do feriadão de Finados, para tentar rotular a existência humana?

Um comentário:

fábio mello disse...

Marcão, há no Orkut uma comunidade chamada "Profiles de gente morta". É uma espécie de cemitério virtual. Nela, comunidade, estão os perfis de pessoas que continuam, após a morte, virtualmente no site. Levaram a senha para o túmulo. Com isso fica impossível, até mesmo para parentes próximos, apagar os perfis.

É simplesmente impressionante a quantidade de jovens que se suicida, ou tem outras formas de morte violentas. - como acidentes de trânsito e assassinatos. É uma carnificina.

Me desculpe, o comentário não tem nada a ver com o tema proposto. Só quis deixar registrada a minha perplexidade.