segunda-feira, 7 de abril de 2008

No céu dos macacos


Impossível dissociar a figura do ativista armamentista Charlton Heston – devidamente ridicularizado por Michael Moore, em “Tiros em Columbine” – do ator Charlton Heston, dono daquela voz bíblica que parecia dar credibilidade punitiva aos Dez Mandamentos. Mas, agora que ele se foi, depois de ser desconstruído lenta e cruelmente por uma doença degenerativa, prefiro ter boas lembranças.
É claro que os mais jovens, aqueles que só tiveram contato com o Charlton Heston-presidente da National Rifle Association, vão lembrar dele como o ferrenho defensor dos direitos de os americanos portarem armas. É claro que a imagem de alucinados distribuindo tiros nas Columbines da vida vai pregar-se à pele daquele que um dia foi Ben Hur. Mas eu – que tive a mesma idade desses mais jovens algum tempo atrás – não me permito, e não quero, fazer essa associação.
Quero lembrar-me dele como o astronauta George Taylor, aquele que primeiro confirmou a teoria de Darwin ao contrário em “O planeta dos macacos” (Planet of the apes, 1968 ), ou como o cientista Robert Neville de “A última esperança da Terra” (The Omega Man, 1971), que enfrentou os zumbis produzidos pela guerra biológica tendo como apoio moral a lindíssima Rosalind Cash.
Para quem pensa que Neville era negro e tinha o tipo físico de Will Smith (I am legend, nome original, aliás, do livro de Richard Matheson em que se basearam os dois filmes), uma novidade: com pouco ou nenhum efeito visual, ele tinha a cara de Charlton Heston 36 anos antes de ser personificado por Smith. E, não custa repetir, era coadjuvado por Rosalind Cash, que, como Lisa, deslizou a primeira cena de nu que este então adolescente viu num filme na TV.
Quanto a “O planeta...”, Heston deu muito mais credibilidade a um humano que encontra a Terra devastada do que Mark Wahlberg, na versão de 2001. O filme em si era, aliás, muito mais aterrorizante, talvez pela novidade de repensarmos os primatas como destino e castigo. As cenas em que Taylor confirma que está diante de nosso futuro são de arrepiar, mais pelas cenas do que por Taylor; mesmo assim, acho que, sem Charlton Heston, seria menos estarrecedor.
Não vi “Ben Hur”, não vi “Os Dez Mandamentos”, não vi “El Cid”, obras mais notáveis da filmografia de Heston, mas creio ter bons elementos para lembrar-me dele: um ator cuja canastrice cabia justíssimo nos padrões das grandes produções de Hollywood dos anos 50 e que teve a integridade para postar-se diante do inevitável: “Devo ter coragem e resignação”, disse ele ao assumir a doença que destruiria sua memória e suas funções vitais durante longos seis anos.

9 comentários:

Anônimo disse...

Primo
Sei nao... talvez por estar aqui nesta terra de "Ode as Armas", nao consigo ter simpatia por ele, tadinho! Nunca me coube a falta de senso que essa guerra pro-arma tem. As razoes sao erradas, as desculpas tronxas, as justificativas seguindo as receitas da logica sofista. Acho que voce so gosta dele porque o faz lembras da Rosalind Cash :)

Anônimo disse...

A proposito, fui so imdb.com para ver a Rosalind Cash e, pasme! so tem uma foto dela, nao muito boa (continuo sem saber quem ela era).

Anônimo disse...

Zanfra,
vi Ben Hur, vi Os Dez Mandamentos e nao me lembro da Rosalind Crash. Sei que tenho grandes lembranças de Charlton Heston (confesso que quando vi seus filmes ate cogitei botar seu nome em um de meus futuros filhos), felizmente sao so boas lembranças que ficaram. Acredito que pelo conjunto da obra ele esta eternizado.

JACINTO PEREIRA

Anônimo disse...

Não era um ator da minha época...mas é difícil quem não o tenha conhecido...só pela quantidade de vezes que filmes como Os Dez Mandamentos, Ben-Hur e Planeta dos Macacos passaram depois na TV. Aos dois últimos assisti somente na televisão. Mas o primeiro...Os Dez Mandamentos... a produção é de 1956 mas tenho certeza de que assisti no antigo Cine Coral (que ficava na Rua João Pinto), quando éramos crianças na faixa de 10 a 12 anos, e podíamos ir sozinhos de ônibus para o centro – não havia perigo algum. Isso foi na década de 70 (demorava tanto assim p exibirem os filmes em Florianópolis?). Lembro-me de como fiquei impressionada....Nossa!! E os efeitos especiais, p a época, então? Grande protótipo Hollywoodiano dos anos 50 e 60 esse Moisés!
Maria Augusta Probst

Marco Antonio Zanfra disse...

Se não deu para entender no texto: Rosalind Cash, com seu cabelo estilo 'black-power', trabalhou no filme "A última esperança da Terra" (The Omega Man, 1971). Na cena a que me referi, ela experimenta algumas roupas na frente do espelho numa loja vazia (a Humanidade foi dizimada, lembre-se), enquanto espera Neville (Heston). Os dois, juntos, escondiam-se da "Família", uma comunidade pós-apocalíptica de albinos que se vestiam como monges (não dispensando o capuz) e vagavam pela noite para destruir os diferentes Neville e Lisa.

Anônimo disse...

Dae Tio Zanfra!
Bom, nem sei o que falar neste post!
Pois não sou desta epóca (aliás, acho que só você e o Jacinto são)!
Mas confesso que assisti o filme do Will Smith (I Am Legend) e gostei muito, um filme muito empolgante.
E tambem tenho certeza que os efeitos especiais da minha apoca, são mais emocionantes tambem... Rsrsrs.
Mas já ouvi falar dos filmes do autor citado no post, e confesso, que depois da leitura e dos comentários aqui escritos, vou tentar assistir a todos.
Fugindo muito do assunto, só quero provocar um pouco o autor do blog, carissimo ZANFRA:
Cuidado verdão, o penta campeão brasileiro, está vindo com força e fúria!
Hahaha
Abraço Tio!
André Campos

Fabiano Marques disse...

Admito publicamente. Não vi Ben Hur. Mas ainda há tempo.

Bonassoli disse...

Zanfra, semana passada, enquanto baixava a série "Planeta dos Macacos", da qual não lembrava direito, descobri que 2008 é o 40º aniversário do longa-metragem original. Pauta! Me apressei em fazer uma matéria para o jornal.

Por motivos que o amigo bem conhece, o texto programado para a edição do fim de semana acabou sendo publicado na última terça, dia 8. A morte de Heston acabou sendo um "sub-gancho".

Também prefiro lembrar dele como o Mestre dos Canastrões e de seus filmes espetaculares. Todos os citados pelo amigo merecem, sim, ser vistos e revistos, sempre. Até porquê são de uma era (que eu não cheguei a acompanhar, pois só fui nascer lá por 1972) em que efeitos especiais eram "desnecessários".

Nada contra efeitos especiais, mas tudo contra roteiros meia-boca que, infelizmente, infestam Hollywood. George Taylor vai ser sempre um dos meus heróis favoritos.

E, se houve Rosalind Cash, em "Planet of the Apes", o homem teve a companhia de Linda Harrison (what a pair of legs!!).

Marco Antonio Zanfra disse...

Pois é, Magoo, me esqueci da Linda Harrison, que fez o papel de Nova, uma apetitosa selvagem!!! Se bem que a Kim Hunter também tinha lá o seu charme... quando não estava caracterizada como a doutora Zira. E eu acabei me esquecendo ainda de um outro filme legal que o Charlton Heston fez, embora tenha sido apenas uma ponta: em "Quase um anjo" (Almost an angel, 1992)ele faz "apenas" o papel de Deus, que dá as boas-vindas ao crocodile dundeee Paul Hogan no céu.