segunda-feira, 19 de maio de 2008

Österreich


Ah, Viena! Nesta época do ano, a cidade da música raramente apresenta temperaturas superiores a 20º, o que torna as estadas nos cafés e nas heurigen particularmente agradáveis. O Danúbio nem é mais tão azul quanto solfejou Strauss, mas a primavera vienense continua marcada pela brisa amena que circula pela Ringstrasse como casais valsando com a leveza sutil de uma allemande.
Freqüentar Viena na primavera é sonhar, é viajar ao tempo dos Habsburgo e encontrar a imperatriz Sissi passeando pelos jardins do palácio Schönbrunn, a chorar sua dor pelos olhos aquosos de Romy Schneider. É apreciar com especial cor as artes do Kunthistorisches Museum ou do Leopold Museum ou a visão panorâmica, ainda que submetida a uma ligeira névoa pela manhã, da Riesenrad. É esbarrar com Sigmund Freud tomando um café no Landtmann. É garimpar pelas criptas da medieval Stephansdom à procura do inexistente túmulo do três reis magos.
Dizem que a capital do império austro-húngaro é a cidade mais interessante que a Áustria nos deu, mas não podemos esquecer que o mais central dos países europeus não é só Viena. Há a Salzburgo de Mozart, há Innsbruck no Tirol, há Klagenfurt... E a Áustria não é só geografia: a Österreich é arte, é cultura, é esporte, é política...
A Áustria é berço de grandes nomes. Na música, além de Mozart, temos Haydn, Strauss (pai e filho), o dodecafônico Schönberg, Franz Schubert... Nos labirintos da mente humana, temos Freud e Adler... Na pintura, vários, mas eu me lembro apenas de Klimt. Na política, ainda que tristemente lembrado, Adolf Hitler. No automobilismo, Niki Lauda, Gerhard Berger e Jochen Rindt. E, nas artes da telona – se bem que: até que ponto pode se considerar arte essas suas performances? – Arnold Schwarzenegger.
Mas, agora, vem cá: se alguém te pedir para citar algum personagem famoso da Áustria, você vai-se lembrar de quem? Daquele que manteve a filha trancada no porão durante 24 anos e teve seis filhos com ela, ou daquele que matou a machadadas - para “poupá-los da humilhação” - a mulher, a filha de sete anos, os pais e o sogro?
É triste, amigo: você passa séculos construindo um império, ou um currículo, e o povo vai lembrar-se de você no dia em que um escorregão na rua levou-o cinematograficamente de bunda ao chão...

A palavra Deus para mim é nada mais que a expressão e produto da fraqueza humana; a Bíblia é uma coleção de lendas honradas, mas ainda assim primitivas, que são bastante infantis.
Para mim, a religião judaica, como todas as outras, é a encarnação de algumas das superstições mais infantis. E o povo judeu, ao qual tenho o prazer de pertencer e com cuja mentalidade tenho grande afinidade, não tem qualquer diferença de qualidade para mim em relação aos outros povos.
Até onde vai minha experiência, eles não são melhores que nenhum outro grupo de humanos, apesar de estarem protegidos dos piores cânceres por falta de poder. Mas além disso, não consigo ver nada de 'escolhido' sobre eles.

Para quem não sabe, estes textos fazem parte de uma carta escrita por Albert Eistein a seu amigo, o filósofo Eric Gutkind, em 1954, um ano antes de sua morte. Eu, que já botava fé nesse rapazinho desde a época em que ele elaborou a tal da Teoria da Relatividade, agora virei fã de carteirinha.

9 comentários:

Anônimo disse...

Pois é... Infelizmente o ser humano é assim... Acho que é mas fácil lembrar as tragédias do que das maravilhas e belezas do lugar...

Anônimo disse...

Acredito e penso que fatos isolados de alguns seres humanos, desde os Incas,Bárbaros e outros, jamais imaculam um País. O ser humano é imprevisível, todos sabemos.
Este casos isolados de que falastes e não vou repetir por me dar respulsa, nunca irá manchar a história da Áustria, suas belezas naturais, aperfeiçoadas pelo homem e da sua população.
Betinho Hirtz - Jornalista

Anônimo disse...

Assim como as grandes obras-primas que a Austria produziu, quando o assunto e aberracao tambem nao deixa por menos, hein?

Quanto ao Einstein, so discordo quando ele fala da "falta de poder" dos judeus.. Acho que, ao contrario, sao poderosissimos!
Sera que eu entendi direito?

Marco Antonio Zanfra disse...

Lembre-se de que ele escreveu a carta em 1954, seis anos depois da assinatura do Tratado de Latrão, que criou o Estado de Israel. Provavelmente eles não tinham tanto poder então, ou ainda não haviam botado as manguinhas de fora.

renan disse...

Olá, Zanfra.

Sou acadêmico de Jornalismo e estou fazendo meu TCC sobre a cobertura policial dos crimes envolvendo crianças e adolescentes.

Por isso, gostaria de algumas sugestões de livros que tratem do tema "Jornalismo Policial".

Abraços e grato pela cooperação,
Renan

Anônimo disse...

Oi Zanfra,

Ao começar a ler o post de hoje fiquei imaginando Viena, seus lugares... a princesa Sissi, descritos de maneira tão encantadora por Einstein...Então lembrei que foi na Áutria que Adolf Hitler nasceu, inclusive acho que tem uma senelhança física entre ele e o Josef Fritzl,os mesmos olhos esbugalhados... Mas prefiro lembrar das coisas boas da Áustria!

Eliz.

Marco Antonio Zanfra disse...

Ao Renan,
Sem falsa modéstia, o único material que trata de cobertura policial que eu conheço é o Manual do Repórter de Polícia, de minha autoria, cujo acesso pode ser feito por link nesta página.

Anônimo disse...

Bom, como não conheço Viena, e conheço somente alguns dos personagens citados, não tenho como comentar.
Embora aqui no Brasil, temos lugares parecidos com Viena, e alguns até mais lindos, prefiro lembrar do Brasil.
Quanto aos fatos "chocantes", creio que o Brasil esteja a frente de Viena, pois coisas como estas acontecem, infelizmente, muito aqui no Brasil (Pai joga filha da janela, Namorado mata e enterra namorada, Pedreiro estupra criança de 2 anos dentro de uma igreja, e ai vai...). Como diz o Prates: - Manda esses vagabundos pra minha delegacia pra ver, manda...
Infelizmente convivemos com coisas assim absurdas por aqui.
E eu, confio e acredito em Deus, hoje e sempre.
Mas tambem respeito que não acredite nem confie.
Um abraço.
André Campos

Fabiano Marques disse...

Pô cara, pode colocar meu nome no berço dos grandes nomes da Áustria.
A família do meu avô materno é toda de lá.
Coloca meu nome nem que seja pra fazer bagunça entre os notáveis do berçário.
Como diria Einstein: "O pensamento lógico pode levar você de A a B, mas a imaginação te leva a qualquer parte do Universo."

P.S.: Veja o que causou o teu comentário sobre o número da roupa íntima daquela moça do celular. Uma delação divertida. hahahahah

um abraço véio