segunda-feira, 16 de junho de 2008

O velho Chita


Não posso dizer que a revelação tenha sido um choque – porque, em algum lugar, lá atrás, eu já lera algo sobre isso, e minha memória remota absorveu o impacto – mas saber que a velha companheira de Tarzan era na verdade um macaco macho desatou em mim, de certa forma, um dos liames dessa rede de heróis e heroínas que a gente constrói desde a infância, e que no fundo faz parte de nossa estrutura moral.
Mal comparando, foi como descobrir, depois de passar dos 50, que Papai Noel não existe. Ou que Al Jolson não era um negro de verdade no filme “The Jazz Singer”. Ou, ainda, que as mocinhas que certo jogador famoso levou a um hotel para conversar não eram exatamente mocinhas.
A diferença é que travestis e mocinhas têm certas particularidades audíveis e visíveis a olho nu, como voz de taquara rachada e gogó saliente, e por isso é mais fácil distingüi-las. Mas um macaco é um macaco. Como saber se é macho ou fêmea, sem ter acesso a certos detalhes anatômicos que certamente as câmaras jamais vão mostrar?
A menos que nosso macaco seja um cavalo muito mal disfarçado, ele será o que os produtores do filme querem que nós acreditemos que seja. Como os filmes podem criar gremlins, ewoks e furbys do nada, transformar um macaco em macaca – principalmente não sendo necessário tratamento hormonal ou intervenção cirúrgica para isso – parece coisa do tempo do cinema mudo.
Imagino que Johnny Weissmuller sabia muito bem que se dirigia a um macho quando brincava carinhosamente com sua Chita. Mas imagino também que, nos bastidores, ele não conseguia deixar de dirigir um certo sarcasmo a seu coadjuvante, justamente por causa de sua sexualidade difusa. Os homens costumam brincar muito com isso, e Tarzan provavelmente não fugiria à síndrome da raça.
Minha dúvida é se, agora, quando a Chita reivindica para si uma estrela na Calçada da Fama, essa dubiedade será exposta no cimento de Hollywood. Ou se – o que me parece mais lógico – é a macaca do Tarzan, e não o ator que a representava, que merecerá ser guardada para a posteridade.

O que é rotina? O Aurélio diz que é a “seqüência de atos ou procedimentos que se observa pela força do hábito”, mas não estipula um intervalo de tempo comum para que essa seqüência de atos ou procedimentos se repita e configure uma rotina. Por isso, não deixa de ser uma “inspeção de rotina” o exame que descobriu, após vinte anos de serviço, que um motorista dos bombeiros japoneses não era habilitado.
O problema é que, para nós, uma inspeção de rotina é algo que se faz a cada um ou dois meses. Soa absurdo saber que o cidadão, lá, trabalhou tanto tempo antes de a fiscalização rotineira descobrir que ele não era apto para a função.
Vale lembrar que, no Brasil, ele teria de comprovar sua habilitação antes mesmo de tomar posse no cargo. Mas quem é o Japão para querer se comparar à organização brasileira?

11 comentários:

fábio mello disse...

E o primata está 70 e tantos anos. Uma assombro. Normalmente os macacos vivem 40, 50 anos. Creio que as sessões de terapia ajudaram o Chita a superar seus traumas e crises de identidade. Ele também pinta quadros expressionistas. É fumante, segundo as más línguas. E agora luta por um lugarzinho na calçada da fama. Pô, até o Schwarzenegger pôs as patas la!
Go, Chita!

Anônimo disse...

Formado desde 77 para descobrir que a chita era macho. Francamente....

Raquiani

Anônimo disse...

Boa noite, Zanfra!!!

O frio não me impediu de passar aqui no seu blog, mas juro que me impede de digitar! (risos)

Com todas as particularidades, a Chita, ou seria O Chita...Que confusão!! Bom, a Chita é fofa, inteligente. Gosto muito de macacos, são incríveis!
André prometeu que um dia me dará um de presente (ele me mata quando ler isso.

Abraços

Ótima semana

Débora (noiva do André)

Bonassoli disse...

Mais uma pegadinha made in Hollywood.

Sobre tua outra questão lá no blog, ela respondeu. Não sei se foi por minha humilde contribuição, creio que não, mas alguns freelas têm surgido. E, claro, é questão de tempo para que apareçam cada vez mais, afinal a colega é uma excelente fotojornalista.

Abraço.

Unknown disse...

Bom dia Zanfra,
Com quantas coisas convivemos pensando ser verdadeiras e prá nossa surpresa, um dia descobrimos que não são o que realmente aparentam?
E olha que não estou falando em política.
Uma namorada, um "amigo" (da onça ou do tarzan), muitas vezes nos deixam sem chão.
Como diria o manezinho "raigam a nossa tarrafinha e nos deixam só com a fieirinha na mão."
Quem sabe se o Tarzan não gostava mesmo é de um macaco macho travestido de Chita? Sabe lá...

Um Forte abraço,

Jacinto.

Marco Antonio Zanfra disse...

Pois é, Jacinto. O que mais a gente encontra por aí é amigo "da onça"; o amigo "do Tarzan" - macho ou fêmea, tanto faz - jamais contrataria o Rei da Selva para um trabalho e o deixaria esperando pagamento até hoje...

Anônimo disse...

Diz que a vida de principiante em Holliwood nao e facil! As vezes tem que pegar o que aparece. Parece que foi o caso da/o Chita. Quando o agente dele ofereceu esse papel, ele ficou indignado, dia que nao venderia a arte dele assim (idealismo de principiante); mas depois de algumas contas pra pagar comecaram a se acumular, ele acabou aceitando, com a condicao que seria temporario... Ironias da vida!

Anônimo disse...

o que ppouca gente sabe e que o Chita teve um torrido romance com a Jane!

beijos

Anônimo disse...

Que tristeza a gente saber que a estrutura moral de alguém se forma em cima do sexo dos macacos... Ainda bem que inventaram os Pokemons, que - tal qual os anjos - são assexuados.

Fabiano Marques disse...

Será o Ronaldinho um Tarzan?

Anônimo disse...

E intão tio, td tranquilo???
Hehehe
Demorei mais apareci!
A Chita é Avaiana intão é?
Cruz credo ow!
Hahaha
Todos já falaram o que poderia ser falado aqui nest post.
Gostei daquele comentário seu, de contratar um amigo e deixa-lo esperando o pagamento até hoje...
Abraço
André (noivo da débora que não lembra ter falado a ele que iria dar um macaco)