segunda-feira, 28 de julho de 2008

Dente por dente


Embora nunca tenha alcançado status de “velho ditado”, a frase que eu vou citar daqui a pouco funcionava como um axioma entre os jornalistas, tanto na época da faculdade quanto nas redações, para definir o que era uma pauta, para explicar que tipo de acontecimento mereceria cobertura jornalística. Era mais ou menos assim, com pequena variação de termos: “Se um cachorro morde um homem, não há notícia; se um homem morde um cachorro, aí sim há uma grande notícia.”
O pressuposto dessa máxima sofreu algumas avarias com o início da era de culto aos cães agressivos, já que os animais passaram a morder homens com freqüência e violência que assumiram caráter jornalístico, mas tive de passar mais de 30 anos exercendo a profissão para poder ver o outro lado da moeda, ou a “grande notícia” até então teórica: um homem – ou, no caso, um menino – morder um cachorro.
Aconteceu em Sabará, região metropolitana de Belo Horizonte. Um garoto de 11 anos foi atacado por um pitbull, que lhe mordeu o braço. Ele gritou por socorro, mas, como ninguém o acudisse imediatamente, virou-se como pôde: meteu os dentes na carcaça do cão, que, talvez surpreendido pela ousadia do antagonista, suspendeu o ataque. A violência da mordida foi tal que um dos dentes do menino ficou cravado no animal.
Não sei o que passou pela cabeça do garoto, mas não creio que seja normal alguém tratar um cachorro na mesma medida, mesmo não sendo um pitbull. Do alto de meus 52 anos, eu não reagiria a dentadas nem se do outro lado estivesse um chiuaua. Acho que a recomendação para o caso de ataque de cães deve ser semelhante à que é feita para as vítimas de assalto à mão armada: não reaja.
Vale lembrar que, tal qual os assaltantes armados, o cão está mais preparado que nós para usar suas armas. E, também tal qual um assaltante, tem bem menos a perder. Que mal há de fazer-lhe a mordida de uma boquinha pré-adolescente? Acho que nem cicatriz deixa.
Não há como negar, entrentanto, que o inusitado da cena tenha um certo gostinho de desforra. As pessoas costumam ser mais complacentes com o lado mais fraco – isso explica a torcida pelo Jerry contra o Tom, mesmo que um camundongo de verdade jamais mereça a mesma simpatia – e o que o menino de Sabará fez não deixa de nos parecer heróico. É a catarse de sentirmo-nos vingados por toda a opressão a que nos vêm submetendo os pitbulls treinados para matar e os idiotas que os treinam. Apesar de absurda, a atitude do garoto serve para lavar-nos a alma.
Mas eu, de minha parte, continuo não reagindo sequer a um chiuaua.

10 comentários:

Anônimo disse...

Pois é, Zanfra. esse axioma (do homem e do cachorro) já foi suplantado. Não é mais verdade. O próximo, que os professores de Jornalismo deverão ensinar aos seus alunos será este: político que rouba não é notícia; político que não rouba é notícia.

Anônimo disse...

Que coisa! Sera que foi o instinto animal, dormente em nos humanos, que fez o menino reagir dessa maneira? Acho que taqmbem nunca me passaria pela cabeca morder o cao.. Mas sabe-se la, depende da posicao dos dois no embate, a unica coisa que ele poderia ter usado era a boca.. Imagino quantas pulgas morreram na dentada..argh!

Anônimo disse...

Bom, Zanfra... é nessas horas que nós nao sabemos ao certo qual será a nossa reação. Pelo menos eu não tenho a mínina idéia do que faria se fosse atacada por um cachorro. pela razão nao pensaria em mordê-lo, nem que fosse um chiuaua. Mas na situação do perigo, vai saber! na verdade, nao saberia qual seria minha reação sequer se fosse assaltada. A recomendação é nao agir, mas como explicar que pessoas aparentemente calmas acabam reagindo num assalto? Espero que o dono do cão seja responsabilizado.
abraço
Lílian

Anônimo disse...

Bom..
Aqui estou eu novamente.
Situação delicada esta hein?
Bom, se quando somos atacados por cãos tomamos medicamentos contra raiva e tal, será que o cão não precisa tomar também? Sim, vai que esse menino tenha o vírus da raiva ou outro qualquer...Hehehe
Reagir é realmente perigoso...
Mas eu pergunto: O que fazer então?
Correr? Gritar? Latir? Tomar "suco gami" e sair pulando? Ou então agir como Magyver e achar outra solução?
A verdade é que não sabemos como vamos reagir. Aconteceu comigo isso. Estava no meu primeiro dia de caminhada, chegando a Beira-Mar de São José, deparei-me com um PitBull, com os dentes pra fora veio em minha direção numa corrida só, e parou a uns 2 metros de mim, rosnando, nesse hora arrepiei-me todo, "chegou a arrepiar a mamica heheh", ele avançou um pouco mais e na hora, não sei como, bati o pé no chão e fing que iria ataca-lo, e o bicho saiu correndo pro meio do mato.
Mas digo q nunca mais farei isso...
Sensação horrivel depois.
Mas agora me pergunto também: será q ele ficou com medo? Me respeitou? Ou sou muito feio e ele se assustou também? Hehehehhee
Mas o certo é não reagir mesmo...
E fazer o que vier na cabeça na hora.
Agora, quanto a mordida do menino que não machucou o cão, porque sua boca é pequena, imagine só meu caro Zanfra, se ao invés do menino, quem tivesse abocanhado o cão, fosse a Cicarelli?
Hã?
Acho que o cão iria se dar mal.
Um forte abraço.
André Campos (noivo da Débora)

Marco Antonio Zanfra disse...

Ah, mas eu gostaria de ser mordido pela Dani...

Anônimo disse...

Humm...Eu não queria ser mordido pela Cicarelli...nem por um cachorro... Um gatinho até posso pensar, depedendendo do gato, principlamente se for monocelha...Ehehehe...

Eliz.

Anônimo disse...

Oi Zanfra,

Ultimamante nem mordida de mosquito eu ganho... Quem sabe um cachorro de raça, muito bem tratado, e vacinado me ataca... Rsrsrs...

Daia.

Anônimo disse...

Eu até que que ganho umas mordidadas, as vezes de cachorro, as vezes de gato, mas de menino de 11 anos ainda não ganhei, até porque seria um caso de pedofilia... kakaka

Lady kali.

Anônimo disse...

Lá em casa sou eu que mordo... Cachorro, gato, filho marido, papagaio.... Mas pitt bull ainda não tive coragem, quem sabe agora depois deste ato de coragem do guri de 11 anos, passo a mudar o alvo de minhas mordidas.... Só não venha aqui no meu setor durante a TPM, para não ser alvo de "dentada"!

Aline

Anônimo disse...

Depois de tantas mordidas, acho que o pitbull deve recolher-se à sua insignificância: a menor capacidade de dentadas parece ser a dele...