segunda-feira, 14 de julho de 2008

Kapôu, tzzzziiiiimmmm, argh!


Alguém aí se espantaria se eu contasse que já andei armado? Como repórter, quero dizer: com bloco de anotações, caneta esferográfica e um Rossi de aço inox, cinco tiros, cano curto, alojado na cintura? Para quem conviveu comigo no tempo em que trabalhei na revista Agora!, isso não é novidade. Mas, como a maioria dos meus seis ou sete fiéis leitores pertence a uma nova safra, acho que vale a pena contar a história.
A revista, para quem não conheceu, foi o supra-sumo do jornalismo policial nos anos de 1984 e 1985. Durou exatos 52 exemplares e reuniu grandes repórteres da área. Na redação, havia um certo consenso de que, por envolver pautas no meio da marginalidade, os jornalistas precisariam de algo além da carteirinha de imprensa para se garantir. Encampei idiotamente o espírito belicista do grupo e, como os demais, meti uma arma na cinta.
Agora, imagine esta figura destemperada e explosiva, dada a constantes, dedicadas e prolongadas reuniões etílicas, com um negócio mortal desses nas mãos! Felizmente, não cheguei a ferir ninguém. Mas andei, bêbado, dando uns tiros de exibição em plena rua Guaicurus, no coração da Lapa, pouco depois das sete da noite de um dia de semana, o que mostra o quanto a combinação arma + eu não era uma receita muito aconselhável.
Durou pouco esse meu arroubo bélico, porém, para felicidade geral da nação. Foi logo depois de, na prática, sentir que, como repórter, não poderia assumir comportamentos que assumi, em busca de uma entrevista. Foi no dia seguinte a uma tentativa de matéria em que eu e o fotógrafo da revista – o falecido Ademir Barbosa – tentamos, no melhor estilo swat, arrancar uma entrevista de um chefe de quadrilha.
Foi assim: descobrimos que um tal de Bolinha, cuja quadrilha estava aterrorizando Osasco, escondia-se numa favela em Quitaúna, periferia do município. Localizamos o barraco e, em vez de bater, pedir licença e solicitar a entrevista, o fotógrafo meteu o pé na porta e nós dois, armas na mão, detonamos uma invasão que poderia transformar-se em uma ou mais desgraças. Se não deu para visualizar a cena e suas prováveis conseqüências, eu descrevo:
1 – quando o fotógrafo meteu o pé na porta, eu estava logo atrás dele; se houvesse alguém no barraco que reagisse à invasão, meu primeiro tiro certamente atingiria as costas do Ademir; quer dizer, poderíamos até conseguir uma boa entrevista, mas, por força das circunstâncias, não teríamos fotos;
2 – se houvesse alguém no barraco, de duas uma: se fossem Bolinha e seus asseclas, repórter e fotógrafo não teriam, a despeito das armas, cacife para enfrentá-los à bala e, portanto, seriam abertas duas vagas na Agora!; se fosse uma família de sem-teto que descobrira o barraco vazio e resolvera alojar-se, sabe-se lá quantos pobres coitados não seriam mandados para o inferno mais cedo, talvez até sem entender direito o que estava acontecendo;
3 – ora, desde quando repórter tenta fazer matéria de arma na mão e pé na porta?
Como eu disse, livrei-me do Rossi no dia seguinte, num raro mas efetivo momento de autocrítica - e a tempo de evitar uma grande besteira que, ao que tudo indica, aconteceria mais cedo ou mais tarde.
Hoje, defendo o desarmamento, basicamente porque arma não é para qualquer um. Arma é uma ilusão de segurança, que pode voltar-se contra a própria pessoa que a empunha, como no caso dessa mulher na Califórnia que sacou uma pistola Magnum 44 para enfrentar os ratos que cercavam seu trailer, deixou a arma cair, acabou ferindo-se com o disparo acidental e acabou atingindo um curioso que assistia à briga. Foi pouco, pensando bem, para a capacidade de destruição que a mulher tinha em mãos. Acho que nem Clint Eastwood enfrentaria ratos com uma Magnum.

No meu caso, fico pensando às vezes o que aconteceria comigo e com a Humanidade em geral se eu não tivesse aquele momento de autocrítica...

13 comentários:

Anônimo disse...

Meu Deus!
Fiz até o sinal da cruz aqui!
Imaginem só, o nosso Querido Sr. Tolerância Zero armado...
Aliás, nem queiram imaginar não...
Enquanto estava lendo o post, fiquei pensando Zanfra: Você entrando numa segunda-feira na Ciretran da capital, com pressa, cheio de e-mails pra responder, e de repente alguem pára você no corredor e pergunta: VOCE TRABALHA AQUI?
Pois é, acho que segundos depois, a pessoa não teria mais nada pra perguntar..
Hhehehe
Ou então, naquele dia que a Nana (lembra dela?) perguntou a você: e no lado do meu nome você vai colocar o que Zanfra?
Você respondeu: Chatinha Padrão...
Mas se estivesse armado seria "Falecida Chatinha Padrão"...
Kkkkkkkk...
Ufa, ainda bem que você se livrou desta arma...
Ou melhor, ainda bem que conhecemos você depois de ter passado a sua fase "Bradock ou Rambo" de ser...
Hehehe
Outra coisa me deixou com uma pulga atrás da orelha: Sera que quando você atirava com sua arma, a pressão dela não te jogava longe não?
Afinal, você com seus músculos, tinha toda força e habilidade para realizar disparos?
Kkkkkkkkk

Tirando a brincadeira, esse assunto é serio, imaginem quantos como você, possuem hoje em dia uma arma em casa para sua "propria segurança"?

Um abraço Tricolor...
E saudações a lá Eder Luis!
Calado Valdivia, Luxemburgo e sua Gangue também..
Hehehehe
Fui!
André (noivo da Débora (graças a Deus ela não tem arma)).

fábio mello disse...

Saudações Tricolores.

É, meu caro, você teve muita sorte. Andar armado é um perigo.

Marco Antonio Zanfra disse...

Uma vitoriazinha e os são-paulinos ressuscitam...

Anônimo disse...

Mas, ca entre nos, naquela epoca da Agora voce vivia se metendo em problemas, ne? Voce nao teve que se esconder por um tempo por canta de alguma reportagem incomoda?

Anônimo disse...

Quem diria...
Zanfra armado... e perigoso! Nunca imaginaria isso de um ser que atualmente parece ser tão sereno (?!) ...pensando bem...já te vi meio “estouradinho” lá na ASJUR ...
E que história aquela da entrevista com o Bolinha, hein? Não teria sido mais prudente agendar uma hora com a Luluzinha? Hehehe (td bem...a piadinha foi fraca, admito).
Ao menos sabias atirar?
Porque muitos dos que portam armas não se dão conta de que é preciso saber fazer um bom uso delas – o que significa dizer – ter um treinamento adequado e estabilidade emocional (cada vez mais rara), até conseguir atirar com precisão.
Do contrário, melhor não tê-las...talvez, melhor mesmo não tê-las, em nenhuma circunstância e sob nenhuma escusa...Ultimamente, são tantas as notícias de vidas perdidas estupidamente, tiradas por pessoas que imaginavam saber atirar...
Bjo
Guta

Anônimo disse...

Em tempo....
Oh Zanfra, ainda bem que essa tua fase "psicobélica" já passou né?? Ahahaha
Pegou, pegou? Ah, essa foi boa vai...
Guta

Fabiano Marques disse...

Por essa eu não esperava.
Acredite, agora, quando eu precisar de uma entrevista no Detran, serei mais paciente e, pedir estatísticas, jamais. rsrsrs
Senão, posso me transformar em mais um número.
Zanfra, diz uma coisa, por acaso vc não andou conversando com a PM do Rio, andou?

Marco Antonio Zanfra disse...

Credo, Guta, como esse seu humor sutil faz falta aqui no Jurídico...

Dijaôje News disse...

Zanfra the Kid, velho pistoleiro.
Ainda bem que não "mandou muita bala".
Um forte abraço

Marco Antonio Zanfra disse...

E já ouviu falar do novo filme do Clint Eastwood, "Max Magnum 44, o implacável corregedor"?

Anônimo disse...

Caro Marco, essa passagem sua, de arma na mão, eu desconhecia. Lembra-me os tempos do Hely Vanini, do Spagheti...Ainda bem que você se recuperou e deixou a belicosidade para trás. Realmente a combinação de álcool e arma (como o carro) não é uma boa.

José Luiz Lima

Bonassoli disse...

Hahahahahahahahaha!
Espetacular! O post da semana. Não.. do mês!

Tô me torcendo de tanto rir, Zanfra.. E lá na Guaicurus? Boa rua da Lapa... Ah, a Lapa!

Fabiano Marques disse...

coloquei até um link dessa história no meu blog!