segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Desejo de matar


Pode o ato de matar tornar-se corriqueiro, ou mesmo prazeroso? Existe algum desvio de personalidade – tomando-se por referência que matar é uma conduta antinatural – em que tirar a vida de alguém pode ser tão simples como amarrar os sapatos e tão deleitoso quanto um prato de canja numa noite fria?
No primeiro episódio de Desejo de Matar (Death Wish), o arquiteto Paul Kersey (Charles Bronson) corre a vomitar depois de derrubar a primeira de sua infindável série de vítimas, sugerindo a repulsa ao ato ou à extensão dele – a visão da carcaça humana que, momentos antes, era tocada pelo dom do movimento. Esse espasmo inicial foi, no entanto, a única reação orgânica de Kersey ao poder de tirar a vida que avocou para si. Até o quinto e derradeiro episódio da saga, só faltaram imagens de Bronson lambendo os beiços para explicitar a satisfação que tinha com o papel de justiceiro que assumiu.
Eu pensava que isso só acontecesse no cinema, porém – tanto o vomitório pelo desvirginamento quanto a banalização e até o prazer pelo homicídio. Até que uma entrevista com um garoto de 16 anos na Folha Online de sábado veio obrigar-me a uma revisão de conceitos. Não sei se o adolescente arrevessou, como Paul Kersey, quando cometeu seu primeiro assassinato, em julho, mas, por suas próprias palavras, deu para saber que ele não vê problema em continuar matando: “Depois da primeira eu tomei gosto.”
Por enquanto, de acordo com o noticiário, o rapaz matou três pessoas em Rio Brilhante, no Mato Gosso do Sul: um homem de 33 anos em julho, a facadas, uma moça de 22 anos (agosto) e uma adolescente de 13 (outubro), estas duas mortas por estrangulamento. Nos três casos, ele arrumou os corpos em forma de cruz, insinuando uma conotação religiosa para o que estava fazendo. No corpo da primeira vítima, aliás, ele escreveu com sangue a inscrição INRI.

Por que então matou a primeira?
Ele se dizia cristão, mas era gay, por isso.
Os três corpos foram encontrados da mesma maneira, dispostos em formato de cruz. Por que você os deixou dessa forma?
Os três se diziam cristãos, falsos cristãos.
Você está arrependido?
Não.

O rapaz fazia uma pequena entrevista com suas prováveis vítimas, questionando-as sobre a religião, a virgindade, a opção sexual. Dá para inferir que do resultado desse primeiro contato dependia o destino de cada um. Tanto que a polícia encontrou com ele uma lista contendo nomes de supostas vítimas, com anotações como SALVA ou MORTA diante de cada nome

Você matou as três pessoas?
Sim
Por que decidiu matá-las?
Pelo que elas me falavam. Elas respondiam a algumas perguntas, como qual a idade em que tinham perdido a virgindade, qual a opção sexual.
Quando passou pela sua cabeça pela primeira vez matar uma pessoa?
Eu não tinha saído com a intenção de matar a primeira vítima. Depois da primeira eu tomei gosto.

15 comentários:

Anônimo disse...

É, Zanfra, deve ser igual cerveja ou cigarro. Nos primeiros, a gente acha amargo, ruim, engasga, tosse...depois, vicia.

Anônimo disse...

O pior é se for tão difícil de largar quanto o vício da cerveja e do cigarro...

fábio mello disse...

"Mato por prazer". É o que está tatuado no braço de Pedrinho Matador, com quem tive a "honra" - e o medo - de ficar frente a frente, há alguns anos, quando trabalhava numa emissora de TV.

http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT530112-1664-1,00.html

Mesmo cercado de toda segurança, fiquei simplesmente apavorado na presença do cara.

Anônimo disse...

E depois de tanto tomar cerveja,digo,matar,vai começar a dar uma vontade de mijar no cadáver.
Rui
(mas o pior é entender esses caracteres que aparecem aí embaixo para validar emu parco comentário)

Cale-se,Zanfra!Deixa isso para seu irmão mais velho! disse...

E depois de tanto tomar cerveja,digo,matar,vai começar a dar uma vontade de mijar no cadáver.
Rui
(mas o pior é entender esses caracteres que aparecem aí embaixo para validar meu parco comentário)

Anônimo disse...

Oi Zanfra,

O pior de tudo é que nem as vítimas, nem o matador eram cristãos, já que ele ignora que um bom cristão não pode matar... Pelo contrário deve aceitar e perdoar as limitações do próximo.

Anônimo disse...

Esse é o perfeito "serial killer".
Engraçado como eles usam uma "razao" nobre para cometer os atos bárbaros, como numa equacao onde menos com mais = zero..

Carlos Martí disse...

É Cintia, acho que razão não existe mesmo, mas inclusive um assassino necessita justificar-se moralmente, quem sabe como compensação por ter ultrapassado a última fronteira, justamente a da moral, das regras de convivência. De outras, como a afetiva ou a social, provavelmente ele já se sente despojado, pela própria sociedade.

Marco Antonio Zanfra disse...

Este blog está cada vez mais internacional: Cíntia dos Estados Unidos, Carlos Martí da Espanha...

Anônimo disse...

Carlos (primo, desculpe por fazer do seu blog um painel de recados),
Voce pode nao acreditar, mas eu me lembro de voce, muito vagamente mas me lembro..
Quando eu e meu marido formos a Espanha de novo queremos ir a Valencia.. e talvez voce possa nos dar umas dicas, quem sabe ate nos encontremos ..
Abrazos

Carlos Martí disse...

Zanfra, não deixa o blog virar mercado (pelo menos aqui na España, o mercado é o lugar de necontro e de colocar a conversa em dia...), jejejeje... brincadeira. Cintia, será um prazer.

Marco Antonio Zanfra disse...

Pelo visto, estamos criando um novo tipo de blog, o "blog de relacionamento". Vai desbancar o orkut.

Anônimo disse...

Vai ver o rapaz se viu participando de uma nova Cruzada. São falsos cristão? Empalamento neles! Vamos purificar com seu sangue impuro a terra que eles dessacralizam com seus passos corrompidos! Já vi esse filme: os fanáticos religiosos crêem ter autorização divina para matar. A religião é a forma de tornar sublimes seus desvios psicopatas.

Anônimo disse...

O autor do blog nunca matou? Nem um passarinho, uma formiga, uma barata, um camundongo? A sensação é a mesma de matar um ser humano, variando apenas no grau de satisfação. Não há mistério algum.

El matador!

Anônimo disse...

Pff! Aposto que o dito cujo que se intitula "el matador" morre de medo de baratas. Devia chamar El Matador con Baygon.

///Carla