segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Live fast, die young?


Não fume. Álcool, só em ocasiões especiais, e mesmo assim moderadamente. Não abuse do sal. Cuidado com o colesterol, evite gordura animal e ovos. Tome oito copos de água por dia, coma frutas, legumes e verduras. Risque de seu cardápio as bebidas que contêm cafeína...
Não sei se vocês repararam, mas o manual de instruções que acompanha o ser humano é uma bíblia de restrições. Nada do que é gostoso é saudável. Se você quer viver muito, abdique dos prazeres da mesa, principalmente. Tudo o que é mais saboroso deve ser consumido com moderação, caso contrário você não vai viver o suficiente para chegar ao fastio. Quer lambuzar-se? Faça isso no sentido figurado.
Chega uma fase – normalmente quando você já tem um pouco mais de tempo de casa – em que, se facilitar, o manual de operações vai te obrigar novamente a consumir papinhas de frutas e legumes, mingau de araruta e um filezinho de peixe bem magro e grelhado. Sem sal, claro.
Como sou do tipo bem temperado – sal, pimenta, aji-no-moto, mostarda, páprica, noz-moscada, açafrão – botei há muito tempo na estante esse livrinho de conduta e vou vivendo como minhas papilas gustativas exigem. Não sou epicurista, mas não me dou o direito de negar-me alguns poucos prazeres gastronômicos.
Sei que corro riscos, mas, se vocês ainda não notaram, o manual de instruções não traz em seu bojo nenhuma página onde pode ser lido “certificado de garantia”. Porque não há certificado de garantia. Você pode seguir à risca todas as instruções que lhe são impostas desde a mais remota infância e, de repente – paf! – aquele ser cavernoso com a voz gutural que carrega uma ceifa te pega na esquina. Nada daquela moderação que você manteve a vida inteira garante que o segador não vá te alcançar.
Não é nada difícil – e eu já vivi situações assim – o sujeito morrer gozando da mais perfeita saúde. Neguinho não fumava, não bebia, tinha uma vida certinha, não abusava de comidas perigosas, ia de casa para o trabalho e vice-versa... até que um dia foi de casa para o trabalho e não cumpriu o vice-versa: teve um ataque cardíaco no meio da redação, e por pouco não atrapalha o fechamento do jornal.
Por isso, a pergunta: vale a pena poupar-se dos pequenos prazeres terrenos em troca de uma longevidade questionável? Já que a gente vai morrer mesmo, por que não viver intensamente – e saborosamente – o pouco que nos resta?
Principalmente porque, às vezes, o pouco que nos resta nem é tão pouco assim: existe um povoado a 650 quilômetros de Quito, no Equador – segundo nos relata, via Folha Online, o médico argentino Ricardo Coler – onde a proporção de habitantes com mais de cem anos é dez vezes superior à média mundial. Ali, conta ele, é comum encontrar idosos de 110 ou 120 anos que lêem sem óculos, conservam os dentes naturais, trabalham e mantêm vida sexual ativa.
Seriam sequazes defensores de uma vida de privações, comedimentos e abstinências? Qual o quê? Eles fumam, bebem, comem muito sal, tomam muito café, usam drogas – ou melhor, uma droga só: o chamico, cigarro feito com uma erva alucinógena. E, além de tudo, vivem num abiente insalubre, pois não há esgoto ou água encanada.
Vilcabamba tem cerca de 4 mil habitantes e nenhuma teoria sobre sua longa vida foi ainda comprovada. Não há nada na água ou no ar, não há nenhuma alimentação milagrosa, não há interferência extraterrestre. Como explicar, então?
Dentro de minha humilde laicidade, arrisco um palpite: acho que eles simplesmente vivem. Não receberam o manual de instruções, não se preocupam com ele – e, portanto, têm uma carga de estresse a menos.

Tinha esquecido de colocar: entro em férias a partir desta quinta-feira; por isso, não tenho certeza se conseguirei manter a regularidade na atualização do blog, às segundas-feiras.

13 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Jornalista Zanfra;
Excelente tema dessa semana sem desprezar os anteriores. Manter-se a longevidade é desejo de todo o ser humano.Para isso, o corpo requer um certo percentual de proteínas, conhecido por DDR-Dose Diária Recomendada para equilibrar o arcabouço. Fala-se que o alcool é prejudicial à saúde, porém em dosagem que excedam as recomendadas, pois conforme prega a ciência, algumas doses de bebida alcoólica evitam inflamações, protege o coração e livra o fígado do acúmulo de gordura. A Organização Mundial da Saúde-OMS aconselha o limite para homens, uma garrafa de cerveja, e meia garrafa, para mulheres, desde que saudáveis. Isso implica que o etanol se transforma em outros compostos no corpo humano, favorecendo a distribuição dos demais nutrientes essenciais à saúde. O que se percebe nos dias atuais é que o ser humano está se contaminando com o próprio alimento. A começar pela carne animal eivada de substâncias cancerígenas, hormônios, antibióticos e dentre outras inserções na alimentação que os animais consomem no pasto ou em criadouro intensivo, dosado pela engenharia química; os legumes que não escapam dos perversos agrotóxicos os quais se espraiam também pelos rios, lagos e mares. Tudo isso afeta o organismo do ser humano que com um certo determinado tempo, já debilitado, não suporta tamanha agressão. É mister para se viver bem, tem que se manter uma variada alimentação diária saudável, contendo todos os ingredientes possíveis que o corpo precisa (DDR), o que é praticamente impossível uma família de classe baixa e média conseguir essa performance nesse país rico em terras fertéis...

Anônimo disse...

Muito bom seu comentário, mas jogue no lixo tudo que contiver aji-nomoto (glutamato monossódico).
Tinha em enxaqueca constante e não descobria a causa.
Até que vendo a entrevista de um médico no Amaury Junior onde pesquisas descobriam o mal que tal produto causa a saúde.
Todos os produtos que contém Glutamato Monossódico fazem um mal pior que o sal.
Jogamos todos os vidors de aji-nomoto no lixo e voltamos para o sal, moderado é claro e nunca mais.
Minha avó viveu até os 103 anos e não tinha nada disto.
Era banha de porco, sal e tudo que se consumia antigamente, (gordura animal dissolve com o calor do nosso corpo). A gordura vegetal não.
Exemplo: Ponha manteiga em um frigideira e no primeiro calor ela dissolve. Já uma margarina precisa esta bem quente para derreter.
Eles precisam vender tudo que inventam.
Não adianta receitas para viver melhor se estamos cercados de produtos químicos e tudo mais.
Abraços
Otavio

Anônimo disse...

Caro Zanfra
Acabei de lincar teu blog no Sambaqui na Rede (http://sambaquinarede.blogspot.com).
Sucesso
Abraços
Celso

Anônimo disse...

Tem margem para tantos comentarios diferentes! Mas vou escolher ir por um caminho baseada em como me sinto hoje: como se meu prazo de validade tenha vencido, mas ainda nao tenha sido removida da prateleira! Meu corpo reclama de algo, mas nao sei o que é. Nao fumo, bebo pouco, tento comer o mais saudavel possivel - e possivel aqui nos EUA é quase impossivel. A equacao da longevidade é muito complicada, e nao sei se tenho condicoes de resolve-la a esta altura.. Seja o que Deus quiser..(porei a culpa n'Ele..)

Anônimo disse...

Prezado Jornalista.
Quando não se pode explicar o inexplicavel é mais facil acreditar no dito popular_" Vaso ruim não quebra".
Boas Ferias, que Deus o acompanhe e proteja. Divita-se e breve regresso.
Um grande abraço
Maria Gilka.

Anônimo disse...

Perai: que parte do texto que voce fala que vai sair de ferias que eu perdi?
Que estoria e essa?

Marco Antonio Zanfra disse...

Calma, prima. Trata-se da coisa mais natural a acontecer com um trabalhador, embora não seja tão normal comigo: depois de cinco anos e meio sem parar, vou tirar um mês de férias no Detran. Aí, vou aproveitar para fazer algumas coisinhas em casa, vou a Ponta Grossa, vou a São Paulo... Pouco antes do Natal, volto a trabalhar. Ou seja: nada para se espantar muito.

Anônimo disse...

E que tal vir me visitar? Sei que agora o dollar nao esta para turismo, mas vai baixar...um dia.. talvez..

Marco Antonio Zanfra disse...

Um dia, quando eu for um escritor famoso e puder viajar quando quiser e para onde quiser, prometo uma visita. Quem sabe a convite do Departamento de Literatura em Línguas Latinas da Chicago University...

Anônimo disse...

Taí, parece que alguém vai tratar de encompridar um pouco mais a vida: vai tirar férias. Mas se é verdade que lá se vão cinco anos sem parar, não acho que dê para recuperar muita coisa, não.

Anônimo disse...

Quando sair em viagem de férias, leve por favor essa chuva para bem longe de nossa Ilha. Eu e a população de Florianópolis agradecemos.

Maira

Fabiano Marques disse...

Nas férias, aproveite tudo e lembre-se do que diz aquele velho deitado: "O que não mata, engorda".
abrassss

Marco Antonio Zanfra disse...

Como engordar eu não engordo, que opção me resta?