quinta-feira, 22 de julho de 2010

Tragédias anunciadas

Não sei se minha condição de estressado no trânsito veio apenas com a idade e a vivência, ou se o fato de trabalhar no Detran há sete anos contribuiu diretamente para isso. Mas a verdade é que sou daqueles motoristas à beira de um ataque de nervos, e isso é muito preocupante, porque acontece com alguém que fugiu do caos de São Paulo e está chegando perto de um colapso em Florianópolis, ainda considerada por alguns como “a ilha da magia”.
Sou daqueles que já ultrapassaram a fase de achar que campanhas educativas resolvem. Defendo em princípio o ataque voraz ao bolso do motorista irresponsável, com multas, multas e muitas multas, porque creio que a dor pecuniária é um método eficaz de educação. Em alguns casos mais graves, onde a multa parecerá inócua como um antibiótico diante de bactérias resistentes, não descarto totalmente o fuzilamento puro e simples.
É claro que defendo essas medidas radicais apenas para os casos perdidos. Ainda acho que, recebendo doses maciças de educação, cidadania e civilidade enquanto ainda crianças, os motoristas do futuro têm salvação. Os de hoje é que não têm mais jeito. O caos atual no trânsito nada mais é do que o reflexo da falta de educação, cidadania e civilidade, e isso não se aprende de uma hora para outra. O caos atual é reflexo do salve-se quem puder, porque ninguém respeita nada. A lei de trânsito não parece ter força de lei. É encarada como uma pequeno cartaz à entrada de um prédio de veraneio, proibindo que as crianças joguem bola no corredor.
O atropelamento e morte de Rafael, filho da atriz Cissa Guimarães, é apenas mais um exemplar do verdadeiro pega pra capar em que se transformou o chamado “teatro do trânsito”. Ao desrespeitar três regras básicas – entrar em área de trânsito proibido, apostar corrida em via pública e não socorrer sua vítima – o atropelante demonstrou no mínimo desrespeito básico pela vida humana, inclusive a sua própria. Com esse comportamento, essa falta intrínseca de princípios solidários e cidadãos, como esperar o respeito a uma simples lei de trânsito? Como esperar o respeito a uma simples vida? Para a desgraça acontecer, era só uma questão de marcar a data. Creio que, como esse, a maioria dos acidentes de trânsito faz parte de um rol de tragédias anunciadas.
De meu lado, por estar intimamente ligado à questão do trânsito – mais do que desejaria – confesso-me desencantado com uma provável solução para o problema que não passe por radicalismos. Não vai ser um passe de mágica que vai fazer o motorista aprender o respeito e exercer a cidadania. Não vai ser um rasgo de lucidez que vai fazê-lo comportar-se dentro da lei.
Para isso, serão necessárias medidas duras. Talvez uma lei, no estilo Maria da Penha, que privilegie a punição exemplar. Nada de cestas básicas ou serviços comunitários. Cana cerrada aos infratores e criminosos de trânsito, como no Japão. O medo da cadeia há de fazer efeito onde a educação e as multas não fizeram. E quem sabe quantas vidas não seriam poupadas...

20 comentários:

Gleydson disse...

AÊÊÊ!!! Parece que o tranco deu certo! Rerererere... Bem vindo de volta ao mundo "blogalizado".

A gente sabe que esse tipo de coisa acontece todos os dias em qualquer rincão brasileiro, mas por ser filho de quem é, acaba nos braços da mídia. Muito triste o moleque só de 18 anos morrer em uma estupidez total dessas. Agora que tenho um filho de 7 meses fico ainda mais triste com esse tipo de coisa, parece que fica mais perto.

Eu ainda não deixo de me espantar com a facilidade que certas pessoas ficam nervosas no trânsito - espero que você não seja uma delas! Rerererere... O simples fato de uma pessoa buzinar por estar com pressa já deixa os esquentadinhos prontos pra mostrar dedos e soltar bravatas. E se a outra pessoa estava com alguém doente no carro e precisava correr até um pronto-socorro, por exemplo?

Civilidade como você mencionou e um pouco de se colocar no lugar dos outros pra completar.

Mais uma vez, bem vindo! Espero que o tranco seja mais fácil na próxima. Abraços!

Cintia disse...

Oi!!!
Que esperar de um pais onde e comum se ouvir "ah, essa lei nao pega..", como se lei fosse mode pra "pegar" ou nao.. Lei e Lei, e os infratores devem ser punidos.
Aqui nos USA quem fiscaliza o transito e a policia comum. Nao tem essa de Policia Rodoviaria. Se voce nao parar numa place de PARE e tiver um policial por perto, ja vai atras de voce com as luzes piscando. Se voce for pego dirigindo embriagado, te algemam e te dao cana..

Marco Antonio Zanfra disse...

Pois aqui no Brasil o cara bêbado atropela e mata três inocentes e vai responder em liberdade... sem perder a CNH!

Rosângela disse...

Meu caro amigo Zanfra,

Diariamente trabalhamos com a possibilidade de mudanças de comportamentos no trânsito, pois acreditamos que o ser humano tem jeito!!!
Preciso discordar de você de que campanhas educativas não surtem o resultado esperado, pois senão tenho que ir para casa fazer tricô!!!!
Mas, só as campanhas não resolvem:são necessárias atitudes rígidas das autoridades, e aí eu concordo com você- precisamos fiscalizar e multar os condutores e pedestres infratores!!!

Só haverá paz e convivência pacífica no espaço público quando as pessoas aumentarem sua consciência de risco, e como um grande profeta,há muitos anos atrás disse: " Faça aos outros o que gostaria que fizessem a você".
Temos um longo caminho ainda para andar...

Enquanto tivermos candidatos que acreditem que o parcelamento das multas é uma saída possível para os infratores, continuaremos, infelizmente convivendo com as fortes dores causadas pelas mortes no trânsito.

BJ.

AH! Vê se te acalma quando estiver ao volante... não vale a pena...

Rosângela

Marco Antonio Zanfra disse...

Quando você se decidir finalmente pelo tricô, eu te passo minhas medidas para um pulôver...

Blog do Morani disse...

Eia Zanfra! Bem-vindo. Não poderia deixar de saudar seu retorno ao mundo blogalizado. Salve, amigo!
Mas não se deixe estressar por coisas que aqui em nosso país são levadas do jeito hilário. Disse bem sobre o Japão. Lá as Leis funcionam mesmo!
Pronto a enfrentar o batente? Pois que seja com o mesmo sucesso de antes. Estou fechando por hoje o meu pc. Minhas pernas incharam. Estou aqui há horas, contrariando ordens médicas. Voilá!
Abraços.

Bob Aguiar disse...

Zanfra!

Campanahs educativas podem fazer efeitos positivos sim. Exemplo:- Voce nunca viu ouviu falar em "Adestradores" que conseguem aplacar a violência de terríveis e indomáveis bitbuls, rotiweillers. Acho que é por esse caminho que se conseguirá impor Urbanismos, Civilidades e Respeito à Vida Humana, de outra forma nem mesmo a orientação "de berço" resolve. O nosso meio polui o bom instinto e a boa ação.
Sou um "aloprado pelo transito" que vive em Sampa e pior do que isso aqui, acho que no Brasil não tem não. Apenas um olhar para o lado desencadeia uma violência absurda e as vezes incontrolada.
Medidas radicais e mais multas pesadissimas e cadeia para o infratores.
Abraços
Bob Aguiar

Marco Antonio Zanfra disse...

Pelo que entendi, Bob, o motorista brasileiro não precisa de campanhas educativas, mas de "adestradores"?

Fabiano Marques disse...

A lei é dura para os velhos - e batidos - TRÊS Ps da sociedade: P...P...P...
Infelizmente é assim.
No trânsito, gentilieza, solidariedade passam longe. Andam numa via marginal que quase ninguém circula.
Nas Avenidas mesmo, nas vias principais, estão os cacos, os mal educados, os assassinos. Ah, claro, e os perdidos que tentam melhorar a situação.
Sempre que estou no trânsito e preciso mudar de faixa, ou quase sempre, os motoristas "adversários" fazem de conta que não estou ali, tentando passar, tentando seguir por um caminho.
Fazem de conta porque são idiotas e acham que vão perder 3 segundos do seu valioso tempo ficando atrás de outro veículo. Afinal, na fila do congestionameto, há centenas de carros e é preciso chegar em primeiro. Como se isso fosse possível.
É preciso levar vantagem.
É preciso passar à frente.
É preciso ignorar os outros.
É preciso se achar o máximo.
É preciso mostrar o dedo do meio, mesmo que o outro motorista tenha em seu carro, crianças, idosos, enfim, é preciso ter um comportamento imbecíl.
E rir dos outros. É preciso rir muito dos outros. É preciso ser raivoso e inconsequente. Raivoso a ponto de matar no trânsito.
Assim é o comportamento desprezível de alguns motoristas. Assim é que se mata.

Bob Aguiar disse...

Zanfra

"Se não tem tú, vai tú mesmo" diz a piadinha popular, até meio "suja"...e é assim que entendo as ações que dezem ser tomadas para aplacar a íra dos irados condutores de veículos no Brasil, principalmente na minha amada Sampa...."Fogo contra Fogo"

Abraços

Bob Aguiar

Anônimo disse...

Prezzdo Zanfra
Esta´foi uma daquelas notícias que deixam-nos engasgados.Como mãe,fiquei muito chocada e incapaz de dizer qualquer coisa,até meus sentimentos para a mãe.
bjussssssssssssss
soniacarotta

Serafim disse...

Caro Zanfra

Chega a ser revoltante o que acontece em nossas plagas.Além do acontecimento triste que ocorreu com o filho de Ciça Guimarães o que dá mais nojo é saber que com certeza o culpado será indiciado no tal "crime culposo" (sem intenção. Me corrija se estiver errado mas se o Túnel estava interditado e o sujeito passou pelo bloqueio não se trata de doloso?Talvez pela idade já não aceito certas coisas e é por isso que não entra na cachola essa diferença entre culposo e doloso.Qual a diferença entre matar uma pessoa com um tiro ou dez?Não houve a morte?É lógico que existem acidentes mas vermos certos "acontecimentos" serem enquadrados como culposos me dá ânsia.
Você,como expert no assunto,poderia me orientar a respeito?
Quanto ao retôrno,exijo vê-lo semanalmente em minha tela.

Marco Antonio Zanfra disse...

Não pelo fato de trafegar em área de trânsito proibido, Serafim, mas pela prática de "racha", ele pode ser processado por homicídio doloso. Trata-se do chamado "dolo eventual", também usado nos casos de motorista embriagado que mata alguém: não tinha intenção de matar, mas sabia do risco de fazê-lo (por dirigir embriagado ou por apostar corrida em via pública).
Ainda não sei como eu enquadraria o pai do rapaz, que tentou consertar o carro a toque de caixa para ocultar o crime.

Ricardo Câmara disse...

Prezado Zanfra;
O bom combatente nunca deixa o campo de batalha. Eis aí a razão pela qual regressas à mídia virtual através desse blog.Nesse país, no mundo do crime, "o coitadinho", "o pobrezinho", "o injustiçado" é sempre aquele que praticou o delito. Quanto à vítima, impossibilitada de se defender ante uma lei branda pensada somente para o assasino, fica apenas mais um registro nas pastas imbricadas de um fórum. Quando os doutos da suprema Corte e os demais congressistas das duas "conchas" se conscientizarem que um veículo também é uma arma que está diariamente, matando e atropelando pessoas e decidirem caracterizar crime de trânsito na qualidade de hediondo, sem apelação e habilitação cassada, talvez os audazes do volante pensem duas vezes como se comportarem na condução de uma máquina.

Carlos Martí disse...

É Cintia, era uma vez um país "europizado", latinamente sujeito a erros, em que sempre tinha uma praça no meio da avenida e as aves que aqui gorjeavam, não gorjeavam como nos USA. Aí, os USA acaharam que era muita ousadia, a personalidade do velho e sabio mundo num corpo enorme e menos rançoso, e não sossegou enquanto o grandalhão metido a gente grande não perdeu a pose e a identidade. Até que virou um eterno aspirante a tio Sam, incluíndo a banalização da vida humana, a competitividade como filosofia e ideologia e excluíndo o direito cidadão. o grandalhão deixou de comparar e passou a consumir só produtos americanos a querer parecer maericano, e acreditar que a sociedade era só uma parte do mercado, que a escola ou a saúde pública eram só mais um produto. Assim mesmo, mais cedo ou mais tarde, o grandalhão vai cumprir seu destino. Acho que só falta retomar desde onde a gente largou, com passarinhos nas praças e bons professores nas escolas, como já foi um dia. Não é saudosismo não, é só uma questão de recobrar o direito a tentar e errar do nosso jeito.

Marco Antonio Zanfra disse...

E eis que, para deleite dos poucos mas exigentes leitores do blog, o internacional Carlos Martí - o único hexacampeão do mundo (cinco vezes pelo Brasil, uma pela Espanha) - volta a dar um ar de sua ácida sabedoria em nosso espaço de comentários!

Carlos Martí disse...

Hexacampeão, sim senhor,mas mais nacional do que nunca... falando desde o interior de São Paulo... de férias!!!!!!!!!!!!

Cintia disse...

E lembrar que eu estudava frances na escola! Gostava mais do Brasil europeu..

cilmar machado disse...

Apenas saúdo o ilustre jornalista pelo retorno. Percebo em seu texto indícios bem definidos de uma pessoa inteligente, competente, mas sumamente estressada. Não acreditar nos programas que visam a educação dos motoristas no trânsito e até sugerir a morte para os mais renitentes, é deveras preocupante... rs .
E o seu livro, Zanfra? O que virou? Minhas férias começam em agosto e, se já foi lançado, será minha distração principal por30 dias. Um abraço e não suma, viu?...

Marco Antonio Zanfra disse...

Se o livro for lançado ainda durante suas férias, Cilmar, você terá de encontrar uma distração adicional, porque certamente não irá gastar 30 dias em sua leitura. A modéstia me impede de dizer, mas eu digo assim mesmo: quando começar a ler As covas gêmeas, você não vai conseguir interromper a leitura até chegar ao desfecho, coisa de no máximo dois dias.