segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Só gritando

Bastou uma rápida lida no rodapé da página C4 da edição de hoje da Folha de S. Paulo para que minhas esperanças em relação ao futuro da Humanidade – em alta desde que minha rua na praia começou a ser lajotada – despencassem de vez para o limbo. Nem preciso falar muito, basta transcrever os títulos: Zelador esconde ossadas em pátio de colégio, diz polícia, Pais são presos sob suspeita de esconder assassinato da filha e Jovem morre em briga de grupos rivais perto da parada gay em MG.
Tirando a morte do rapaz de 15 anos, com quatro tiros, em Minas – fazer parte de gangues, para mim, é caso de “dolo eventual”: você não tem intenção, mas sabe o risco que corre – os outros dois casos são de enegrecer corações franciscanos, pela crueza e sordidez de ingredientes.
No caso dos pais presos, atenção: eles não esconderam o “assassinato da filha”, mas o “assassinato cometido pela filha”. E a filha, de 16 anos, matou, sob tortura, o próprio irmão, oito anos mais novo que ela.
Atenção ao texto da notícia:
Essa morte ocorreu, segundo a Promotoria, após uma séria de torturas praticadas pela jovem contra o menino, com a conivência da família. A irmã se irritou porque o garoto não parava de tossir. Na investigação, a Promotoria descobriu que o menino (e outros irmãos) há um ano era vítima de torturas: as crianças eram obrigadas a comer e beber seus próprios dejetos.

No caso do zelador macabro, mais porrada: ele havia enterrado nas dependências do colégio, onde trabalhava há 15 anos, os corpos de uma estudante de 16 anos – que não podia continuar viva, já que não aceitara o amor daquele homem de 52 anos – e de uma garota de programa que discutira com ele o valor a ser cobrado pela prestação de serviço. Esta última foi morta a marretadas
Quanto à estudante, ela estava desaparecida desde julho de 2008, quando, segundo a família, disse que iria viajar com o zelador. Durante o período de sua ausência, o próprio assassino enviava “torpedos” aos familiares dela, como se fosse a própria, dizendo que estava bem e que tinha dado à luz um menino.

Concordam comigo que às vezes a desesperança ocupa um lugar de destaque no palco de nossa vida?

A expressão do personagem do quadro O Grito, de Munch, que ilustra esta postagem, poderia muito bem ser consequência da leitura de jornais.

7 comentários:

Gleydson disse...

AFFF... Mais uma vez, é impressionante como é fácil pra um ser humano cometer atos tão bizarros contra outro ser humano.

E não é de hoje... AFFF...

Blog do Morani disse...

Zanfra: Você usar detalhe da pintura de Munch - O Grito - encaixa-se muito bem ao assunto de sua crônica desta semana. Esse poderia - ou poderá - vir a ser o nosso próprio grito de pavor diante a tanto descalabro que temos ciência através da midia. Lido a muitos ateus hoje em dia em meus relacionamentos virtuais, mas os crimes hediondos estão sendo gerados e paridos nos seios de famílias ditas religiosas e dentre pessoas longes da quaisquer suspeitas, como é o caso da jovem que matou o irmão. O Homem precisa se achegar mais a Deus; a Humanidade é um magote de pessoas insensíveis, frias e egoístas. Mata-se pelo prazer de se ver tombar exangue qualquer indivíduo. Não viu o caso do rapaz que esbarrou em uma senhora num ônibus, no Rio, e acabou morto por uma pessoa que nem no coletivo se encontrava? Crime por encomenda gratuíta de outro passageiro que não "aprovou" o esbarrão do jovem, que se desculpou. Banalidades... Mata-se por banalidades.

cilmar machado disse...

Eu só queria saber de você Zanfra se, em toda sua vida como repórter policial já deparou com crimes nas situações como descreveu. No seu entender, houve uma escalada muito grande da violência? Quais seriam as causas? O Moroni já nos deu uma pista que, acredito, não seja a única. Qual seria a interpretação dos fatos pelos nobres colegas?...

Anônimo disse...

Zanfra,recomendo a leitura de "Mentes Perigosos" ( ou algo que o valha) sobre os psicopatas. Cuidado, pode ter um ao seu lado...
Abs
José Luiz Teixeira

Marco Antonio Zanfra disse...

Creio que a incidência da psicopatia seja maior do que sempre pensamos, e é claro que pode haver um - ou mais de um - psicopata ao nosso lado. Mas, no caso da menina torturadora e assassina, o caso é genético? Como é que ela fez o que fez e a família manteve-se em silêncio e até tentou ocultar o(s) crime(s)?
Cilmar, sempre houve crimes bárbaros, cruéis, difíceis de descrever. Acho que o que mudou fomos nós, a partir do momento - ou da idade - em que passamos a nos comover com mais facilidade e a ter uma preocupação maior com a raça humana. Nós apenas estamos mais sensíveis à dor dos outros e menos impermeáveis à crueza que sempre esteve à nosso volta.

Anônimo disse...

Prezado Zanfra
Concordo inteiramente quando você diz que "passamos a nos comover com mais facilidade" e "estamos mais sensíveis à dor....e menos impermeáveis à crueza.....".Tudo está acontecendo rápido demais, mal noticia-se um caso,logo vem outro,mais outro e assim sucessivamente.É muita barbárie cometida pelo homem (humanidade) e em sã consciência não há como não se abalar. A humanidade está por demais afastada de Deus...Aquele que habita nosso intimo e cuida de nossa alma.Aquele que precisamos buscar independentemente de qualquer religião...seitas...
Eu,sinceramente não só tenho vontade de gritar.....mas às vezes urrar diante de tudo isso. Os dias de hoje me fazem lembrar do filme "Pequenos assassinatos",cujo diretor não lembro o nome. Absurdo´à época mas até "singelo" para os dias de hoje. Há que cuidarmos de nós, de nossa mente e alma,porque a coisa tá saindo das telas do terror para a vida real mas de forma bem mais perversa.
bjusssssssssssss
sonia carotta

Ricardo Câmara disse...

Prezado Zanfra;
Estima-se que 30% do total da população do mundo são psicopatas. Pelo que se percebe, é um número bastante significativo dessa linhagem em todo o planeta!Um deles, se incluem essa moça e toda a família que tentaram omitir o assassinato da criança.E enquadrando também nesse emaranhado da loucura assassina,pode se dizer dos noticiários macabros que adentra em nossos lares através da televisão e rádio com programas ao vivo de crimes de todas as espécies a qualquer horário, sem o devido respeito com as famílias presentes no momento de cenas vis da vida real.É um paralelo entre a mídia e os assassinos do cotidiano que disputam um lugar no rol da sociopatia.