segunda-feira, 9 de julho de 2007

Segunda-feira de chuva em Floripa


O que significa acordar às quatro da manhã de uma segunda-feira com o barulho surdo e preguiçoso de chuva na janela? Eu respondo: significa que, às seis, quando você tiver de levantar para trabalhar, a mesma chuva continuará batendo em sua janela – só que você não poderá mais render-se à sugestão de virar-se de lado, respirar fundo e abraçar-se ao cobertor, porque, a despeito de todas as insinuações em contrário, a vida tem de começar.
Significa, além disso, que você está no limiar de uma semana inteira de chuva, mau humor e improdutividade. A segunda-feira chuvosa é apenas um aviso aos seres cujo otimismo sobreviveria a três dias de umidade sem o risco de transformar-se em sapo: não vai parar, nem tente!
Devia ser proibido chover numa ilha cercada por 42 praias oficiais. Não fosse apenas um atentado à beleza inerente ao binômio praia/sol, é uma negação à condição de magia atribuída a esse espaço que deveria estar cercado de água por todos os lados, menos pelo de cima. Onde estão os políticos que não vêem e não proíbem isso, ô raça? Nosso governador Luiz Henrique – já carinhosamente reconhecido pelo funcionalismo como capaz de transformar feriadinhos em feriadões – poderia perpetuar-se no imaginário popular como o governante que criou o ponto facultativo automático a cada dia que amanhecesse chovendo na Ilha.
Alguns podem não concordar comigo – e eu não os culpo, porque esse tipo de inveja é relevável – mas viver numa ilha não é a mesma coisa que viver num desses milhares de cantinhos medíocres que sobraram no restante do mundo. Se as ilhas por si só são essências concentradas de grandes continentes, o que dizer de uma ilha à qual se veste o epíteto de Ilha da Magia? Não deveríamos, pois, ser submetidos ao mesmo clima ranzinza e à mesma paisagem cinzenta que cala os poetas no resto do planeta. Nossa condição de magia devia dar-nos um clima propriamente mágico. Por isso, no mínimo, devia ser proibido chover.

No momento em que escrevo, a chuva continua batendo na janela e o dia está sombrio e cinzento. Não adiantou nada conclamar as forças do bem: a chuva veio mesmo para ficar...

Um comentário:

Marco Antonio Zanfra disse...

Só para calar a minha boca: está até saindo o sol hoje, terça-feira. E ninguém virou sapo.