segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Eu não tenho mau hálito


Os maços de cigarros vendidos no Chile a partir de novembro trarão a frase de autoflagelo “eu tenho mau hálito” estampada em seu corpo, além da foto de um sorriso literalmente amarelo, como forma de combater o vício do fumo entre seus habitantes. Será que funciona? Será que os fumantes vão capitular diante da espantosa revelação de que sua boca cheira a usina de alcatrão? Será que o apelo estético vai triunfar onde as ameaças de morte não triunfaram?
Duvido muito. No Brasil, fotos de crianças entubadas, pulmões carbonizados e aparências cadavéricas não provocaram mais do que ligeiras expressões de repugnância e viraram até motivo de piada: o homem que preferia levar o maço com perigo de câncer ao com risco de impotência sexual. A terapia do choque surtiu algum efeito? Não fiz pesquisa, mas vejo pelos fumantes que gravitam à minha volta: nenhum.
Afinal, que fumante não sabe que fede? Que fumante não sabe que o pulmão está indo para as cucuias? Que fumante não conhece a quantidade de substâncias venenosas que aspira a cada tragada? Que fumante não conhece as conseqüências do hábito de fumar: envelhecimento precoce da pele, risco de catarata, risco de psoríase, risco de câncer de boca, garganta e pulmões, risco de úlcera e gastrite, propensão a doenças cardíacas e propensão à osteoporose?
Ora, o que adiante saber disso: a nicotina atinge o cérebro em oito segundos e tem um potencial comparável ao da heroína para viciar. Um recado à auto-estima, uma foto chocante ou uma estatística assustadora têm capacidade para confrontar uma dependência dessas?
Comecei a fumar aos 15. Aos 34, parei, de um dia para o outro. Fiquei uma semana no sufoco, comendo biscoitos recheados. Engordei oito quilos – o que, no meu caso, corresponde a passar do estado de pele-e-osso ao de magricela.
Lá se vão 17 anos e nunca tive uma recaída. Segundo cientistas, sou um dos 6% de ex-fumantes vitoriosos. Tento motivar as pessoas que conheço, mas não venho tendo sucesso. Segundo esses mesmos cientistas, essas pessoas devem estar entre os 70% a 90% de fumantes regulares que são dependentes da nicotina.
Agora, o Chile me oferece mais um incentivo. Meus amigos fumantes que se preparem, pois a luta continua e vou repetir à exaustão: “eu não tenho mau hálito”.

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