terça-feira, 20 de novembro de 2007

Sobre motoristas e infrações


Agora entendi: no Jornal Nacional desta segunda-feira, um motorista justificou o fato de não ter dado sinal de seta para entrar numa rua porque o carro estava “em posição indicando que ia entrar”. Ah, então é isso! Está explicado por que essa corja de inúteis que dirige por aí não usa aquela alavanquinha do lado esquerdo do volante: a mudança de direção está implícita.
Só os maus motoristas não percebem: se o meu carro está ali, meio de lado, embicando os faróis, e eu com os olhos fixos na próxima esquina, está mais do que claro que eu vou entrar, bando de ignorantes! Para que o sacrifício de mexer na alavanquinha? Prefiro pendurar o braço na janela!
Essa entrevista esclarecedora fez parte de uma matéria sobre a facilidade com que os brasileiros cometem infrações de trânsito. Um dado apresentado: a cada multa aplicada em São Paulo, 17 mil ficam impunes. E tem gente que, quando é multada, manda carta para os jornais denunciando uma tal de “indústria de multas”. Uma indústria à beira da falência, como se vê, pela quantidade de infrações não punidas.
O brasileiro desrespeita as leis de trânsito pelo prazer de corromper. E só vai perder esse prazer quando ele deixar de ser gratuito: se ele tiver de pagar pela felicidade de entrar numa contramão, furar um sinal fechado e estacionar em fila dupla, ah, é claro que ele vai pensar duas vezes. O problema não é de educação pontual: não vai ser uma campanha educativa dizendo que é errado passar no sinal vermelho que vai diminuir as transgressões. O problema é de educação em seu significado mais amplo, no sentido de cidadania, de civilidade, de respeito. Uma reforma de base talvez resolva. Mas aí é uma solução para longo prazo.
Enquanto não se chega ao melhor caminho, é necessário investir em fiscalização, para não virar bagunça de vez. Uma multa aplicada a cada 17 mil que ficam impunes representa um índice de aproveitamento de 0,000058%. Se a multa tem seu caráter educativo, como é que pretendem ensinar alguma coisa com essa ineficiência? O brasileiro comete infrações porque sabe que não vai ser multado, porque sabe que não tem ninguém para multá-lo. Se não houvesse a certeza da impunidade, o abuso seria menor – como aconteceu quando entrou em vigor o novo Código de Trânsito, com sua promessa vã de rigor.
Fiscalização já! Nossos motoristas só vão acordar quando sentirem que a dor no bolso é maior do que a dor na consciência.

5 comentários:

Unknown disse...

O seu comentário merece elogios. O que falta realmente em nosso trânsito (Brasil), é educação e consciência. Falta de respeito com nossos semelhantes. Tem que doer no bolso, para mim também é a única alternativa.
Parabéns pela opinião que repassarei a todos colegas do Quarto Poder !

Anônimo disse...

Eficiênica?????????? Pra mim é uma ineficiência propriamente dita!!!! Um Ab, Keila

Bonassoli disse...

Indústria à beira da falência foi algo de genial.

Agora, mudança? Creio que nem com uma revolução armada. Temo que, mesmo que o mundo se transformasse, os políticos deixassem de ser corruptos e que um investimento anual maciço em educação iria salvar este país.

Anônimo disse...

Fala, Zanfra! Tudo bem? Trabalhei na Assessoria de Imprensa da CET/SMT durante dez anos. Viarava e mexia as p essoas vinham com essa história de indústria das multas. Uma vez, não me lembro quem, talvez o presidente da CET na época, respondeu no alvo: "Não existe indústria de multas; existe indústria de mortes no trânsito e é isso que devemos acabar"

abs

Anônimo disse...

E daí Zanfra? e eu que tinha ouvido em Goiânia no Congresso da ANTP que era uma para cada 8.000.
O buraco é mais embaixo. Acredito que a presença mais maciça e eficiente da fiscalização pode "encaminhar" melhor o comportamento do condutor. Mais fiscalização, menos infrações e por conseqüência menos acidentes, é disso que a "rua" também precisa.