segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Tafofóbico, eu?


O nome científico é tafofobia, e o termo é tão estranho quanto o que ele representa: o medo mórbido de ser enterrado vivo. O nome tartamudeia e a fobia parece esdrúxula, mas os tafofóbicos têm pavor de algo que não me parece tão irreal ou improvável. Ontem mesmo li no jornal o caso de um chileno de 81 anos que despertou com sede no meio do próprio velório.
Mas aí tinha sido um caso de irresponsabilidade dos parentes dele: notaram que o velhinho não se mexia e que o corpo apresentava hipotermia; como ele estava assim, digamos, meio no lucro em termos de idade – catapimba! – dispensaram o médico e chamaram direto a funerária. Não lhes passou pela cabeça que o coitado pudesse estar cataléptico.
A catalepsia, ensina a ciência, pode ser um distúrbio neurológico, como a epilepsia, pode ter origem em lesão ou má-formação cerebral e, até, pode ser manifestação de esquizofrenia resultante de trauma emocional. Os catalépticos podem ficar alguns minutos ou alguns dias sem se mexer, embora não percam os sentidos, e, como as funções vitais tornam-se desaceleradas – em virtude do próprio estado de repouco físico – a respiração e os batimentos cardíacos ficam menos perceptíveis. Mas nada que um exame médico não detecte.
Na minha adolescência – ou seja: faz muuuuito tempo! – contava-se que o ator Sérgio Cardoso havia sido enterrado vivo. Havia riqueza de detalhes na história: diziam que, quando o caixão foi reaberto, havia marcas de unhas na tampa, sinais desesperados de alguém que lutara inutilmente contra a clausura. Dá arrepios só de pensar em acordar no meio do próprio velório; o que dizer de recobrar os movimentos já debaixo dos protocolares sete palmos, dentro de um caixão de madeira de lei, à prova de unhadas, mordidas e murros abafados? Melhor ser cremado...
Mas dizem que o risco de ser enterrado vivo é muito pequeno, porque os equipamentos médicos de última geração são capazes de detectar os mais tênues murmúrios do músculo cardíaco e as mais sutis brisas brônquicas. A menos que você tenha um parente que resolva dispensar o exame clínico e encaminhar rapidamente suas exéquias, é quase certo de que você vai estar morto quando o enterrarem.
Por via das dúvidas, porém, não dispense pelo menos 12 horas de velório...

6 comentários:

Unknown disse...

Soube de casos, há muuuiiiito tempo, até na época de repórter policial da ZH, fatos ocorridos no RS.
Mas ao que me consta até então, era tudo inverdades. Mas com esta me espere deitado no caixão por 24 horas, podendo tomar sua cervejinha.....calmamente!!!!
Credo!!!!

Bonassoli disse...

Sinistro!

Dependendo do nível dos familiares que o cidadão tenha, é melhor dormir com um olho aberto.

Marco Antonio Zanfra disse...

É. E se você ouvir a expressão, a respeito do morto, "olha, parece que está dormindo", vai ver está mesmo!

Anônimo disse...

Zanfra, tb me lembro dessa história do Sérgio Cardoso. Dizem que ele pediu muito para fazer um túmulo no qual pudesse acionar a emergência se acordasse depois de "morto"...mas ninguém levou a sério.

abs
josé luiz teixeira

Kim disse...

Nao que eu seja sua contemporanea, mas tambem me lembro do sufoco que o Sergio Cardoso supostamente passou depois de "morto" (do que foi que ele morreu mesmo?)
Se eu morrer aqui nos Estados Unidos, se eu acordar depois de "morta" vai ser na andar de cima mesmo! Aqui os orgaos sao retirados e os corpos sao como que embalsamados e enterrados "ocos" (o que sera que eles poem no vazio?)

Assistiu ao Kill Bill 2? Quase morri de claustrofobia durante a cena em que a poderosa da Uma e enterrada viva..

A proposito, em vez de Kim leia Cintia na assinatura..

Beijao primo!!
Gostou de eu er deixado a "revelacao" pro final?

Fabiano Marques disse...

Vixi! Vc viu o engenheiro que o pessoal da DEIC encontrou ontem na capital?
Se ele era tofofóbico, sofreu.
Parece que os algozes dele o enterraram vivo.
Cruiscredo
abraço