segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Mangás, avatares e hentais


Talvez pela própria facilidade de propiciar acesso a vidas paralelas, de possibilitar a criação de universos construídos em cima de vetores e pixels, a internet acaba se transformando num portal onde às vezes fica difícil delinear com clareza a separação entre o real e o imaginário.
Quem deseja construir um mundo particular, por exemplo, dando seu toque pessoal a cada tijolo assentado em cada parede, tem no SimCity seu refúgio e realização. Para aqueles cansados da mesmice da vidinha pequeno-burguesa, ou mesmo que apresentem sinais ainda não muito claros de tendência à esquizofrenia, há o Second Life, um simulador de vida paralela onde, como diz a própria propaganda do jogo, você libera seus instintos e fantasias num mundo virtual 3-D onde tudo tem impacto sobre sua vida real!
Tudo muito simples, tudo muito acessível, tudo muito fácil. Mas, como eu disse no início, graças exatamente a essa simplicidade, a essa acessibilidade sem percalços, torna-se muito mais presente o risco de algumas mentes confundirem o limite entre o real e o imaginário.
Quer um exemplo?
Há duas ou três semanas, uma mulher foi presa no Japão por “matar” seu ex-marido virtual. Virtualmente, é claro. O ambiente do crime foi o jogo on-line Maple Story, onde os dois – sabe-se lá por quê – tinham-se casado. Acontece que a mulher (sabe-se lá por que, também) foi abandonada pelo marido virtual e, como vingança, usou o login e a senha dele para entrar no ambiente de jogo e eliminar (deletar é o termo) o avatar do ex-marido.
"Eu estava divorciada de repente, sem um aviso prévio. Isso me fez ficar com muita raiva", ela explicou. Os policiais que a prenderam – não por assassinato, mas por uso ilegal de computador e por manipulação de informações – disseram que não havia indícios de que ela pretendesse repetir na vida real o que fizera no ciberespaço. Mas vai saber...
Outro caso recente é o de um japonês – de novo! ô raça! – que começou uma campanha na internet para conseguir a legalização do casamento entre seres humanos e personagens de histórias em quadrinhos, os mangás lá deles.
"Há muito tempo que eu só tenho sido capaz de me apaixonar por pessoas de duas dimensões e tenho agora alguém que eu realmente amo. Mesmo se a pessoa é ficcional, ainda é amar alguém", justificou o japonês apaixonado.
É claro que ele deve ter seus motivos para preferir amar um aglomerado de pixels em lugar da fusão harmônica de células que forma um corpo feminino. Mas creio que – e aí pode entrar subliminarmente minha visão das coisas – nove entre dez razões devem ter caráter machista.
A principal delas acredito ser estética: por não ter um corpo físico, as personagens dos mangás e animes não correm o risco de sofrer as conseqüências da implacável ação do tempo, como as mulheres reais. Traduzindo: ali nada cai, nada se deteriora, nada fica flácido.
Também por não serem reais, elas não entram em TPM, não vão ao cabeleireiro e ficam indignadas se você não nota que cortaram dois centímetros nas pontas, não querem discutir a relação durante um jogo de futebol, não reclamam da falta de atenção quando você chega cansado do trabalho... Ou seja, estão ali apenas para ser amadas e para dar prazer, mesmo que essas funções não difiram muito daquelas cumpridas pelas revistinhas de sacanagem que a gente colecionava na adolescência...

Na verdade, estou brincando: é lógico que o amor virtual não se compara ao físico, mesmo com os percalços inerentes que este carrega. Mas, e se o japonês se sente feliz por casar-se com uma personagem de hentai (desenho pornô), quem somos nós para interromper essa sua viagem entre o sonho e a realidade?

14 comentários:

Anônimo disse...

Zanfra, quero viver até chegar o dia em que poderei fazer um download da Sharon Stone pelo meu computador.

abs virtuais

Anônimo disse...

Prezado Jornalista.
A cada dia que passa o ser humano vai ficando cada vez mais solitário no meio da multidão.Os flmes " Nunca te vi, sempre te amei" e Carta de uma desconhecida" tratam desse assunto.Quando se fala de amor é muito dificil comentar, porque nem sempre está palavra é bem empregada. Segundo a Biblia, aquele que desejar a mulher, ou os seus, ter vondade de mata-lo, de rouba-lo, mesmo sendo só em pensamento, já cometeu pecado contra as leis de Deus.
No caso da Interenet, não sei se por analogia...........
Um grande abraço
Maria Gilka

Anônimo disse...

Prezado Jornalista Zanfra;
A internet quando se usa no bom sentido,facilita em muito o cotidiano das pessoas, das empresas,das pesquisas,ciências, educação e dentre outras descobertas que surgem no mundo, sendo aprimoradas em softwares.O ser humano é muito complexo, por mais que os estudiosos da mente humana tentam comprendê-lo,novas formas de comportamento vão surgindo em escala de bola de uma neve.É só observar o exemplo citado nesse blog,"relacionamen to virtual"?!Até quando pessoas envolvidas nesse espaço cibernético, irão conter suas emoções através de teclados e visualização em telas ? É comum se ouvir a expressão na midia,"rolar a química",isso se refere a etilfenilamina N__CH2______CH2, substância responsável pelo estado de exitação sexual, controlada pelo cérebro.Para tanto,há a necessidade de um casal está próximo, se conhecerem e gerar uma paixão motivada por uma glândula (etilfenilamina) a qual aproximará o homem e a mulher envolto por essa substância que IMPOSSIVELMENTE! NÃO SE FARÁ PRESENTE NO MUNDO VIRTUAL...

Marco Antonio Zanfra disse...

A Sharon Stone, Zé Luiz!? Não acha que existam modelos mais novos, com processadores mais eficientes? Veja que já entramos na era do núcleo duplo (duo core); você ainda sonha com o 386?

Anônimo disse...

Estou aqui rindo sozinha, pois pensei a mesma coisa sobre a Sharon Stone do Zé Luiz :)
Mas ja pensou se todos os criminosos usassem o mundo virtual para dar vazao aos seus instintos perigosos? Os serial killers, pedofilos, estupradores so cometeriam crimes virtuais, e o mundo real seria mais seguro. Mas, como em qualquer roteiro de cinema, tudo vai bem ate que...
Taí, primo, que tal essa idéia para seu proximo livro de ficção?
Beijos

Anônimo disse...

Outro bom uso do mundo virtual: todos os que nao forem Sao-paulinos poderao poderao sentir o sabor da gloria recriando times vencedores virtuais he he

Marco Antonio Zanfra disse...

He he. Mas até pouquíssimo tempo atrás os são-paulinos estavam bem quietinhos com o desempenho do timeco. Foi só melhorar a classificação e os bambis voltaram a soltar suas plumas.

Anônimo disse...

Posso enumerar mais algumas vantagens - machistas, claro - de ter uma mulher virtual? Elas não ficam perguntando onde você esteve; não ligam se você dá uma beliscadinha em outra imagem; não reclamam da bagunça e das roupas espalhadas; não menstruam; não ficam indispostas e com cólicas, portanto; não embucham; podem ser uma combinação: a boca da angelina, os seios da scarlett, as pernas da charlize...

Anônimo disse...

E outra: o download da Sharon Stone deve demorar muito, pois ainda é do tempo da internet discada. Eu optaria por outros "arquivos", a pelo menos 2 Mega de velocidade: Anne Hathaway (a deliciosa 99 do "Agente 86"), a já citada Scarlett Johanssohn, a Jéssica Alba e, quem sabe e o Tom Cruise permitir, a gracinha da Katie Holmes. Mas há outros, muitos outros, downloads a considerar.

Anônimo disse...

E o outro lado? Por que só é vantagem amar "mulheres" virtuais? E a recíproca? Já pensou num homem que não prefere ficar com os amigos, um que não larga as cuecas pelo chão, que não abandona a mulher para ir ao futebol, que não tem sempre razão em tudo e que não tem vergonha de pedir informações quando não conhece o caminho? Puxa, seria o sonhos de todas as mulheres. Só que nós somos práticas, pé no chão: queremos um homem que, mesmo com seus defeitos, seja possível de abraçar.

Sônia Marilis///

Anônimo disse...

A Sonia esqueceu do homem que nao "faz xixi fora do vaso", literal e metaforicamente..

Anônimo disse...

Não esqueci, não. É que seria muito abusivo usar o espaço de comentários para descrever tooooodos os defeitos que nós conhecemos.
Um beijo, Sônia///

Anônimo disse...

Concordo.. Um pingo é letra ..

Anônimo disse...

Prezado Jornalista.
Mesmo correndo o risco de ser criticada por escrever muitas vezes no mesmo blog, e fazer comentarios que não fazem parte do tema da semana, vou tratar de um assunto que é de interesse público sendo uma prestação de serviço.
Hoje o Diário Oficial do Executivo publicou na sua capa uma manchete informando que quem pedir a nota fiscal paulista estará concorrendo a em prêmio de 100 mil reais.
Conhecendo o Serra e sua esperteza em cobrar impostos, taxas, multas , etc.etc,.etc é bom que a população saiba que lá mais para a frente vai pagar mais impostos, se cair nessa armadilha de fornecer o CPF.
O mais cruel, é que quem esta pagando esta propaganda que deve estar custando muito dinheiro
público, porque está até na televisão no programa " Shop-tour"
é o proprio povo. Em outras palavras, o povo paga para ser convencido a fornecer as armas e as ferramentas para o governo,tirar mais dinheiro do povo legalmente.
Um grande abraço Maria Gilka.