segunda-feira, 13 de julho de 2009

Um bebê pelos cantos da casa

Tinha esquecido de como fica carregado de expectativa e urgência o clima de uma casa com a chegada do bebê. Principalmente se o “bebê” é um filhote de labrador retriever com pouco mais de dois meses de vida, olhos cinzentos, cor de cobertura de suspiro levemente gratinada e capacidade de morder quatro ou cinco objetos ao mesmo tempo, entre eles quase sempre incluído um pé humano.
Falo em clima de expectativa e urgência porque tudo é imprevisível e “pra já” quando o mais novo morador da casa resolve erguer-se sobre as quatro patinhas ainda inseguras: alguma coisa vai acontecer, e quase sempre não é uma coisa boa. Se a intenção dele é fazer xixi, por exemplo, e a porta estiver fechada, nem adianta correr: uma verdadeira lagoa de um líquido “amarelo citrino”, como definem os laboratórios de análises clínicas, irá ocupar o cinza-claro do piso, até ser absorvida por uma ou duas folhas do jornal de ontem. Aliás, como é que cabe tanto xixi dentro de um barrigudinho daquele tamanho?
Arrastar toalhas e toalhinhas, morder as arestas das cadeiras, chacoalhar tapetes, entrar em vias de fato com o controle remoto, enredar-se num fio solto que, se puxado, pode desmontar o sofá da sala, experimentar o sabor de sandálias e tênis desavisados... Não, não dá para fazer um rol de estragos possíveis: ele sempre vai arranjar algo para surpreender-nos.
Não vi “Marley & Eu”, mas tenho informações suficientes – por relatos de felizes ex-proprietários e por quem viu o filme – sobre o perfil hiperativo do labrador. O que eu ainda não sabia fiquei sabendo agora, por experiência própria: ele parece uma enxurrada, e não apenas quando faz xixi – uma enxurrada como definição de uma massa de água que vai avançando e levando de arrasto tudo o que está pela frente. E com a rapidez suficiente para correr atrás de um objeto lançado não sem antes morder a mão que o lançou.
Nosso bebê não é no entanto hiperativo. É um cão “equilibrado”, nas palavras do veterinário que o deixou constrangido ao medir-lhe a temperatura com um termômetro retal. E eu fico imaginando que espécie de catástrofe ele consideraria “um cão hiperativo”. Mas, apesar de “equilibrado”, ele sofre de transtorno compulsivo: morde as patas a ponto de arrancar sangue para domar a própria ansiedade, e o único jeito de evitar isso é a eterna vigilância. Tentei ensiná-lo a jogar paciência no computador – um paliativo eficaz contra minha própria ansiedade – mas ele não faz nada além de morder o mouse.
Outra coisa que ele faz compulsivamente é comer. Em nossa última visita ao veterinário, minha santa mulher espantou-se com o fato de ele ter engordado dois quilos numa semana. Mas eu fiz as contas e vi que não era bem assim: ele passou de quatro a seis quilos em uma semana e, portanto, não engordou simplesmente dois quilos – engordou cinquenta por cento de seu peso! É mais ou menos a mesma coisa que eu passar de meus tradicionais sessenta a noventa quilos dentro dos mesmos sete dias!
Juro que pensei em adotar a ração dele como alimento básico em meu cardápio, para compensar a magreza. Mas obviamente comendo com mais moderação: não me agradaria ter noventa quilos, mesmo que não atingisse a marca com a mesma rapidez.

A propósito: Lancelot, a ferinha que ilustra esta postagem, é o nome do bebê. Não tenho certeza, mas acho que lancelot deve significar “não vai sobrar pedra sobre pedra” em alguma língua arcaica.

30 comentários:

Anônimo disse...

Tente apresentar o animalzinho ao campo minado, talvez o efeito seja mais interessante.
Não sou especialista em cachorros (assim como em diversas outras áreas do conhecimento) mas sou dono de um ser que já se jogou da laje, comeu todos os meus cds (ainda que piratas) e devorou sozinho uma imprudente barra de chocolate sobre o balcão.
Apesar dos apesares, o ditado ainda me é de grande valor: "Quanto mais eu conheço os homens, mais eu gosto doS meuS cachorroS"

Marcello Zanfra

Cintia disse...

Que delicia, um cachorrinho novo!
Mas coitadinho, nao da pra fazer nada contra a ansiedade dele? Deve ser ansiedade da separacao da mae, portanto voces devem tomar o lugar dela...
Parabens e bemvindo, LAncelot!

Anônimo disse...

Olá, Zanfra!!Gosto muito das suas histórias, o que tenho a dizer é que assisto um programa chamado "o encantador de cães" que ensina a domar os cães de maneira correta este programa fica no canal "animal planet".
Boa sorte com o seu novo membro familiar.
E muita paciência com ele.

Anônimo disse...

Zanfra
Se V. está com o alforge cheio pelos desmandos do pequeno Lancelot avisa.
A nação brasileira tem um cachorrão disponível. Embora voraz como o pequeno residente, exprime-se num dialeto parecido com o português. Além de achar que é engraçado.
Quanto ao pequeno Lancelot que tal inscrevê-lo no PT e pedir ao Mercadante que o adote como pupilo?

Sobre coiotes,lobos e cães disse...

Apesar de parentes os três têm comportamentos distintos:Os coiotes não se relacionam com ninguém.Nem com os da própria espécie,salvo para cópula.Vivem solitários.Os lobos já conseguem andar em bandos,alcatéia.Mas só os cães conseguem relacionar com a "gentalha,gentalha...".Quem já conviveu com um desses sabe o quanto são especiais.Quanto seu amor é incondicional.E esse Lancelot é muito lindo mesmo.Como os cães vivem em média 15 anos,consigo lembrar-me de todos que tive.E com detalhes.Faço votos que ele viva acima da expectativa de vida,e que,você possa continuar a saga de Rei Arthur.Vai batizando Lancelot,Merlin,Távola,Redonda,etc.

Photoshop disse...

Deu uma garibada na sua foto,né?Pode-se até dizer que em matéria de beleza, é meu irmão.Foi para fazer frente à foto do Lancelot?

Marco Antonio Zanfra disse...

A máquina fotográfica não mente. O Photoshop pode até segurar alguma coisa que está caindo - o que não é meu caso - mas não torna ninguém mais bonito. Eu sou assim mesmo. A propósito, você já contou para o Marcello que o Lancelot e ele são gêmeos?

Eliz disse...

Oi Zanfra,

Eu adoro labrador, o Lancelot, então, é lindo... Será que a ansiedade dele não é porque ele se sente só, já lí alguma coisa a respeito desta raça, na qual afirmava que principalmente filhotes não podem ficar sozinhos. Um bjão e boa sorte com a ferinha.

fábio mello disse...

Fabbio Perez, o melhor locutor da TV brasileira, diz que para acalmar a ansiedade bastam "dois Losekan e um Kovalick à noite". É tiro e queda.

Anônimo disse...

Prezado Zanfra
Adoro os labradores.Só não arrisco a ter um,no momento,pois creio que anteciparia a morte do meu velhinho Tupã,com 17 anos de idade,meu vira lata pedigroso que só.Apesar desse arvorço todo,normal a qualquer cãozinho nessa idade, eles crescem e amadurecem também.Portanto, curta bem essa fase.Parabéns....o Lancelot é lindão e tem uma carinha de levaaaaado.
bjussss
sonia carotta

Marco Antonio Zanfra disse...

Fabião: um Losekan só eu já acho perigoso; dois é overdose na certa. E um Kovalick junto!!!

Anônimo disse...

Nossaaaa!!! Que fofura o sir Lancelot! Dizem que labrador é excelente né? Nunca tive um desses, mas Adoooooro cachorro, e posso opinar sobre o boxer. Na infância, tivemos um que superou a expectativa de vida estimada para a raça e...que saudade! Parecia gente! De uma lealdade e companheirismo a toda prova, além de ser a mansidão em forma de cão. Super pachorrento e amoroso! Mas quando filhote, quase destruiu a casa toda...roia móveis, derrubava tudo e não parava quieto...é assim mesmo Zanfra. Depois eles se acalmam bastante.
Meu filho pede muito um amigo canino, mas agora moro em apartamento e fico sem coragem. Teria que ser um cachorrinho menor e eu gostaria de um desses grandões... Já consultei minha amiga veterinária, a respeito de um bulldog inglês...e ela disse que em apto não dá, porque eles se estressam todos. Ela tem um paciente bulldog , morador de apartamento, que está se tratando com florais de Bach, para ansiedade...daí é demais!
Mas parabéns pela decisão de vocês, de adquirir um cão, e pela raça escolhida. Tenho certeza que ele lhes trará muita alegria.
Um abraço.
Guta

Mayara disse...

Agora tenho uma desculpa quando não terminar meus trabalhos a tempo: "meu cachorro comeu..." E não vai ser mentira! Ele quase comeu todo o meu caderno e as provas dos meus alunos! Ainda bem que minha mãe está "super atenta" pra mandar eu cuidar dele!

Mayara

Vico disse...

Você devia aproveitar enquanto o Lancelot é pequeno e treiná-lo para um trabalho útil (se possível, rentável). Pois o labrador não é um cão usado pela polícia para detectar drogas nos aeroportos?

Marco Antonio Zanfra disse...

Que é um cão farejador, não há dúvida: o focinhozinho dele não para quieto. Meu pé, aliás, é alvo constante de suas fungadas: não sei se é porque ele só alcança até aquela altura, ou se tenho algum componente alucinógeno entre os odores pediosos.

Regina disse...

que legal ler um texto de donos que gostam de ter um animal...Parabéns!

fábio mello disse...

Pelo jeito, o pobre cãozinho é chegado num gongorzola.

Gennara Vitti disse...

Vi hoje no Bom Dia Brasil os cães da raça labrador que trabalham como guias de cego e fiquei impressionada com o porte responsável deles. Olhando assim, não pareciam ter nada a ver com o cachorrinho que você descreve em seu texto...

Cintia disse...

Em alguns hospitais por aqui - e acredito que por ai tambem - tem utilizam os caes para agir como terapia com doentes idosos. Dizem que a convivencia dos velhinhos com os caes contribuem bastante para mudar o quadro depressivo dos pacientes para melhor!
Eles tem ate crachas nos hospitais

Marco Antonio Zanfra disse...

Se um pitbull esquecer o crachá em casa, duvido que um agente de portaria tenha coragem de impedir que ele entre sem crachá!

Cintia disse...

haha! Acontece que eles nao sao adeptos da "nao-discriminacao"... Pitbull nunca passa na entrevista de emprego..

Lilian disse...

Oi Zanfra. A Phoebe (Fíbi)é uma labradora ultra charmosa e perigosa! quando mais bebê (porque ela parece uma eterna filhote)roeu um cano d´água e inundou a casa! custou R$400,00 de conta de agua! aquela cadela! Deu vontade de matar a bichinha, mas bastou me olhar com aquela cara de coitada, com aqueles olhos cor de mel quase verdes e aquele focinho rosa e nao deu outra: perdoei a fofinha e fiquei mais tempo com ela... quanto ao labrador ser otimo farejador, é verdade, aquele focinho dela rosinha não para de mexer. Parece a feiticeira (aquela do seriado norte americano).
Curta seu fihote e comece a se preparar para os custos! Mas eles sao ótimos!

Marco Antonio Zanfra disse...

Que vaca! A gente dá um ossinho de plástico e eles já querem os canos de PVC! Se eu fosse você, só de raiva passaria a chamá-la de "Poébi".

Anônimo disse...

Oi Zanfra,

veja como a natureza nos prepara para etapa posteriores. Algo me diz que estás começando um estágio para ser avô. Pela forma como te referes ao novo morador da casa, acho que serás um vovô bem babão.
Não sei já pensasses em tal possibilidade, mas a chegada do Lancelot, creio, está te preparando para futuros freqüentadores da tua casa.
A julgar pela desenvoltura com que te adaptasse ao novo morador, acho que passarás com méritos para a próxima fase.

Um forte abraço,

Jacinto.

Marco Antonio Zanfra disse...

Tenho duas filhas e já tive outros cachorrinhos, Jacinto. Essa desenvoltura eu tenho há algum tempo. Não queira "antecipar" minhas futuras fases. Sei que elas virão, mas a seu tempo.

Carlos Martí disse...

Fiquei devendo essa para os meus filhos, seja pelas constantes mudanças ou porque, contra a minha vontade,a maior parte do tempo, moramos em apartamento; enfim a gente tem essa horrivel mania de adiar as coisas para "a próxima fase" que nunca chega. Meu filho mais novo agora tem 19 anos e sempre foi louco por cachorro, inclusive quando era bem pequenininho brincava sem temor com bichos enormes, que perto dele ficavam mansinhos. Imagino que um dia destes, ele faz como eu fiz com o forte-apache que eu não tive de pequeno (em compensação, mas não para compensar, tive alguns vira-latas). Também sou fã do genial Cesar Millan, "el encantador de perros".
Abraço

Kátia Salazar disse...

Eu morei em Sampa entre 78 e 79 e conheci um jornalista com seu nome. Eu gostaria de saber se nesta época vc trabalhava na Folha de São Paulo. Se você não quiser me responder eu irei entender perfeitamente, como eu disse, é apenas uma curiosidade.

Marco Antonio Zanfra disse...

Carles: bem-vindo de volta. Seus comentários fazem falta. Os poucos mas requintados leitores do blog certamente sentiram sua falta.
Kátia: que surpresa ser localizado por alguém quase 30 anos depois, e por sorte uma ex-cunhada e não um cobrador!

Carlos Martí disse...

Obrigado, amigo, minhas ausências são tão indesejadas por mim quanto justificadas.

Bonassoli disse...

Adoro cachorros. Na casa dos outros. Então, para aliviar os transtornos, pode passar lá no blog e ver o Twisted Sister, agora com links corrigidos, e em versões ao vivo. :)