sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Tirem o cavalinho da chuva

Vê se pode: dois anos depois de Danda Prado anunciar que sua editora tinha concordado em publicar meu livro, a Brasiliense pode chutar As covas gêmeas para debaixo do tapete! Alegando que a edição demandaria um trabalho longo e demorado para adaptar o estilo da obra aos padrões de seus livros juvenis, o editor Max Welcman acenou com a – para ele – saída “mais justa”, que seria “distratarmos” o contrato de edição assinado em junho do ano passado, deixando-me assim livre para “alçar novos voos” junto a outras editoras. Ora, ora, quanta “justiça”!
Peço licença a meus poucos mas centrados leitores para abordar o tema por partes:
1 – As covas gêmeas é um romance policial. Nunca foi um livro juvenil, e por isso não tem nenhuma obrigação de respeitar padrões dos livros juvenis da Brasiliense.
2 – Quem deve enquadrar-se a padrões é redator de bulas de remédios. Autor que é autor acaba, ao contrário, criando padrões para serem seguidos pelos pobres mortais.
3 – Foi a presidente da editora quem aprovou inicialmente a sinopse do livro, pediu os originais e trabalhou para a aprovação pelo conselho editorial. A única coisa que me pediram nesse tempo todo, embora um pouco tardiamente, foi que reduzisse o tamanho de texto (o que fiz), mas jamais se tocou em questões de estilo.
4 – Não há como desconsiderar que temos um contrato de edição, assinado pela própria Danda Prado, que estabelece como prazo final para a publicação do livro o dia 10 de dezembro.
5 – Já manifestei a eles, claramente, que nem passa pela minha cabeça a hipótese do “distrato”. Minha dúvida é se interessaria a uma editora da envergadura e da história da Brasiliense o embate judicial pela quebra unilateral do contrato.
Na verdade, parece-me que nem o próprio Welcman sabe muito bem o que tem em mãos. Mandei-lhe uma mensagem-desabafo, alinhando alguns detalhes da saga do livro, pré e pós-aprovação, e ele confessou que muito do que estava lendo em meu texto era-lhe novidade.
Uma dessas “novidades” era a declaração da médica Cleide Almeida, uma das mulheres fortes do staff de Danda Prado, de que As covas gêmeas fugia um pouco do estilo de publicações da Brasiliense, mas sua alta qualidade editorial recomendava uma avaliação mais cuidadosa sobre a viabilidade de sua edição. Essa declaração foi feita menos de um mês antes de a presidente da editora me ligar dando a boa notícia.
Quando Danda Prado telefonou, disse que o livro sairia “só em abril [de 2009]”, ou um ano e cinco meses atrás. Quem me conhece sabe o quanto minha ansiedade extrapola os padrões junguianos, mas fui levando. Dois meses depois de passado o prazo original, quando assinamos o contrato, conformei-me em deixar para 2010 o tão esperado lançamento, alegando para minhas próprias lombrigas que, por causa do estabelecido contratualmente, de dezembro não passaria.
Mas, para minha surpresa, podemos chegar a dezembro com outro final para esse romance paralelo em que se transformou a publicação de meu livro. Espero sinceramente que a editora reveja sua intenção de rasgar nosso contrato de edição – porque não me agradaria defrontar-me com eles num tribunal – mas podem ir tirando o cavalinho da chuva se esperam que eu me entregue sem luta. Não passei dois anos mastigando minha ansiedade e administrando minhas frustrações para ser descartado como um velho caderno de classificados.

9 comentários:

assisangelo@uol.com.br disse...

né mole não, compadre zanfra.
caso vc escrevesse mal e não tivesse o que dizer, seria mais fácil de ser publicado. e se escrevesse sobre auto-ajuda, mais fácil ainda.
já fui convidado a enrolar pobres de espírito com lenga lenga, lhes prometendo o paraíso nesta terra de espertos.
eu, hein!
prefiro o campo da cultura popular, de onde extraio o conteúdo dos meus livros. a propósito, nas boas casas do ramo se acha "a presença do futebol na música popular brasileira".
arriba!

Gleydson disse...

Uma só palavra: CACHORRADA!!! Se você tem tudo isso documentado, então é só esperar o advogado agir que 'tá certo.

Que papelão... Muito frustrante uma situação dessas, tenha dó.

Abraços e bola pra frente. Pra dentro deles! :-)

cilmar machado disse...

Não sabia que os bastidores de tão conceituada Editora fosse tão injusto! Quando jovem, li todos os livros de Lobato e até mesmo de Edgar Rice( os do famoso Tarzan), pela Brasiliense.O que diz a dona da Editora? Converse com ela, pois a interviniência dela poderá mudar as coisas. O duro é que nós, pretensos futuros leitores do Zanfra, ficamos de mãos atadas, sem saber no que poderemos ajudar.
Força, amigo!

Cintia disse...

POxa, demoro tanto pra aparecer e quando venho leio uma noticia dessas?

Tenha do!!

Desiste nao!

Blog do Morani disse...

Zanfra:

Cachorrada molhada de insensibilidade
foi essa extemporânea atitude da Brasiliense.
Não desista! Não ceda! Aceitando o fato amanhã outros novos autores serão as vítimas dessa Editora irresponsável. Afinal, contrato é ou não é para ser respeitado? Não permita que o descartem como se faz a um velho caderno de classificados. Eles que entrem em um acôrdo de cavalheiros e resgatem, até mesmo pecuniariamente (nem isso eu aceitaria, mas eles podem tentar), uma solução final.
Abraços e sucesso.

Carlos Martí disse...

Que tal traduzir ao castelhano e tentar o mercado espanhol? Se é certo que o mercado literário no Brasil não ajuda nada, os editores são verdadeiros burocratas, nada inovadores e, com o piloto ligado no automático rumo à auto-ajuda e reedição de clássicos. Perdem a chance de se antecipar e conduzir uma previsível virada comercial.

Anônimo disse...

Zanfrinha,


Fiquei muito triste pela PALHAÇADA que fizeram com você!
Não desista!! Vá até o fim!!!
Beijos
Keila

Anônimo disse...

Fque firme, Zanfra. Vamos ver até onde eles chegam.

abs solidários,
José Luiz Teixeira

Anônimo disse...

Prezado Zanfra
Muito me espanta a atitude de uma editora da envergadura da Brasiliense,tão infantilizada como essa.Eu penso que o inédito sempre deve ser priorizado aos autores que já tem um formato e só os repete nas próximas obras,como em caso de muita gente famosa.Desejo sinceramente que tudo se resolva pelas vias normais,ou seja, que o contrato não seja quebrado e que nós tenhamos a oportunidade de ler seu livro,finalmente editado.A Brasiliense está se comportando como editora pequena.
bjusssssssssssss
sonia carotta