quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Soró, o papagaio epiléptico

Meus poucos mas fieis leitores já devem ter perdido o costume de visitar o blog Fala, Zanfra! – e creio até que compreendem a quebra de assiduidade destas mal-traçadas linhas, em virtude do delicado estágio de pré-lançamento de meu livro – mas alguns assuntos emergem gritando das páginas dos jornais e exigem a interrupção, ainda que breve, deste interregno. Principalmente quando o assunto se faz ouvir pela voz estridente e esganiçada de um papagaio.
Trata-se da história de Soró, um papagaio-verdadeiro (amazona aestiva) que sofre de epilepsia e pode, por força da burocracia legal, ser apartado da família humana que o acolhe há 26 anos e ser condenado a sofrer suas convulsões onde certamente ninguém terá condições de socorrê-lo. Soró é alvo de uma disputa judicial entre o Ibama de São Paulo e a socióloga Tânia de Oliveira, na casa de quem o papagaio tem seu abrigo.
O Ibama exige que a família entregue-lhe a ave, já que a lei não permite mais que essa espécie seja criada em cativeiro. A precariedade da saúde do animal sequer é considerada pelo órgão ambiental, todavia: no documento em que exigem a entrega de Soró, está especificado que o bichinho será “sacrificado, se doente, ou entregue à natureza, sendo sadio”.
O poleiro de Soró na casa da socióloga é guarnecido por uma rede de proteção, para evitar que ele caia quando sofre convulsões e perde os sentidos. Só o fato de ele depender desse cuidado extra seria suficiente – pelo menos na minha opinião e na de, creio, minha meia dúzia de sete ou oito sensíveis leitores – para que a frieza da lei fosse desconsiderada: se é para sacrificá-lo, ou permitir que ele morra ao desamparo, por que não permitir que ele continue no ambiente familiar?
A Justiça por enquanto está do lado de Soró. Liminar concedida pela juíza federal Tânia Lika Takeuchi garante que o papagaio permaneça em companhia da família Oliveira até o julgamento do mérito, que não tem previsão de data para ocorrer. Ao contrário de muitos de seus colegas, que só enxergam a letra impessoal da lei, a magistrada teve sensibilidade para entender que "a medida adotada pelo Ibama mostra-se desarrazoada, na medida em que não traz qualquer benefício ao meio ambiente ou ao animal".
Para a felicidade de todos, torçamos pela manutenção da ideia liminar no julgamento do mérito. Já que, ao que tudo indica, às mentes com antolhos dos burocratas do Ibama não se permite maleabilidade.

9 comentários:

Anônimo disse...

Eu conheço outra história de outro papagaia epilético. O papagaio morava numa zona do interior. Um dia teve um ataque epilético e um veterinário que estava lá levou-o para casa desacordado. Coincidentemente, naquele dia, haia uma festa na casa do veterinário. O papagiao acordou no meio da festa e comentou: ué! os homens continuam os mesmos, mas mudaram todas as putas!!!

jl.teixeira

Marco Antonio Zanfra disse...

Fico imaginando a briga do bicho para evitar que o Ibama o retirasse de sua casa!

Deluana Buss disse...

Pobre Soró!
Como foram descobrir o local de residência dele?!

Marco Antonio Zanfra disse...

Pelo que li, Deluana, a socióloga teve de pedir licença ao Ibama para manter o papagaio em casa, desde que, em 2002, tornou-se proibido criar esse tipo de ave em cativeiro.

cilmar machado disse...

A atitude do Ibama parece piada de papagaio! Aliás, a contada pelo Teixeira é muito boa...

morani disse...

Salve Zanfra:

Entendo perfeitamente seu afastamento temporário. Acreditei você gozando de uma boas férias que ninguém é de ferro. Afinal, você não falou sobre o seu livro se foi ou não publicado. Faço votos que tenha saído das impressoras para as prateleiras das livrarias.
Sobre o pobre Soró - papagaio epilético - ele teve a proteção da Juiza, que demonstrou mais humanidade que os cidadãos do Ibama, permanecendo à casa da socióloga Tânia de Oliveira.
Por enquanto, tudo estará bem a ele. Abraços,

Serafim disse...

Caro Zanfra

Apezar de toda papagaiada o "falante" continua no lugar de onde nunca deveria sair.O IBAMA,com todo respeito, deveria se preocupar mais com os grandes crimes que se cometem todos os dias no nosso meio ambiente pelos famosos "colarinhos brancos".

Abraços

cintia disse...

Se o Ibama fizesse um bom trabalho preventivo de controle a caça e ao contrabando de animais silvestres, nao haveria tantos animais fora do habitat natural. Agora, querer fazer valer a lei em cima de um pobrezinho que ja esta "humanizado", é burrice.. A juiza falou e disse: nessa açao do Ibama nao se ve preocupacao nem com o meio ambiente, nem com o animal..

Anônimo disse...

Prezado Zanfra
Eu penso que quem deveriam ser colocados em jaula e largados na selva,sem qualquer reserva de alimentos....são exatamente esses ibanenses que demonstram,cada dia mais,não entenderem de bichos,habitat natural e bem estar dos animais.O ibama está se tornando
o Doi/codi dos bichinhos.É lamentável.
sonia carotta
bjusssssssssssssss