Refestelado numa poltrona de vime no jardim de inverno de sua mansão em Valência, na Espanha, meu amigo Carlos Martí deve estar com um sorriso de oreja a oreja por causa do primeiro gol de Ronaldo Fenômeno vestindo a camisa do Corinthians. Menos pelo Ronaldo e mais pelo Curintcha, claro: apesar de intelectual internacionalmente consagrado, o Espanhol foi acometido por um ligeiro desvio de conduta na infância e é corintiano desde então. E não tem nada melhor para um corintiano do que ganhar do Palmeiras, ainda que seja no par-ou-ímpar.
A pergunta é: dá para ficar triste quando o primeiro gol do Fenômeno, com repercussão mundial por ser Ronaldo quem é, sai justamente na partida contra o arquirrival Palmeiras, e aos 48 do segundo tempo, quando o garçom já havia começado a varrer debaixo das mesas?
Como palmeirense, não nego que fiquei feliz pelo Ronaldo – por tudo que ele passou, pela descrença em relação a sua recuperação e por tudo que ele representou e representa, afinal. Mas não posso negar também que fiquei frustrado por ter o grito da vitória contra o Corinthians calado já no chamado apagar das luzes. Qualquer que fosse o autor do gol de empate, estávamos com a vitória nas mãos desde os quatro minutos do segundo tempo. Perdemos a chance de abrir seis pontos sobre o segundo colocado, mesmo com um jogo a menos. Nós estávamos vencendo e deixamos a vitória escapar.
Mas Ronaldo tem estrela, fazer o quê? Por que ele marcaria seu primeiro gol na partida contra o Itumbiara se podia consagrar-se marcando contra o Palmeiras? Só sei que, até a entrada dele, aos 18 do segundo, o ataque corintiano não sabia o que fazer com a bola: não tinha ofensividade, não levava perigo, rifava bolas fáceis.
Depois que ele entrou, as coisas mudaram. Apesar de seu formato bujóide, Ronaldo deu objetividade ao ataque, arrancou aplausos e chegou a mandar uma bola na trave. Quando o juiz anunciou que daria quatro minutos de acréscimo, senti um arrepio. Se o Fenômeno estava crescendo em campo, aquele tempinho extra poderia ser o suficiente para que ele chegasse à consagração. Infelizmente, minhas previsões se concretizaram.
Mas tudo bem: não ganhamos do Corinthians, mas continuamos na liderança, com três pontos a mais e um jogo a menos. A ironia maior é que, ganhando apenas um ponto pelo empate contra o Palmeiras, o Corinthians poderia ser alcançado pelo São Paulo em número de pontos, mas ultrapassado em número de vitórias. Consequentemente, perderia o segundo lugar na tabela.
Só que o todo-poderoso São Paulo perdeu para o Mogi Mirim... Minha prima Cíntia deve ter rasgado aquela toalha de praia com a foto do Morumbi.
Aviso aos pacientes leitores: esta é a centésima postagem do blog Fala, Zanfra!
19 comentários:
09/03/09
Meu caro Zanfra:
Mais uma vez uso o seu espaço para dar o meu recado, desta vez sobre o Fenômeno chamado Ronaldo.
Só não reconhece nele o sobejo do jogador técnico e guerreiro quem guarda rancores por amargarem seus times derrotados pelos pés desse jovem, que foi uma expressão do futebol nacional e internacional.
Infelizmente, para mim, observador de sua carreira, acho que Ronaldo chegou ao máximo em sua arte. Gostartia fosse o contrário, porém sinto que as suas pernas já não obedecem às ordens de seu cérebro, e que aquelas sérias contusões vão, de uma hora a outra, se evidenciar implacavelmente em determinado momento em uma partida. É preciso saber a hora de parar. Mas a mídia fanática pelo seu belo futebol (quem não tem essa vontade?)espera ansiosa vê-lo renascer como uma nova Phoenix. Oxalá seja assim, mas não se deve incutir em sua cabeça que ele continua o Fenômeno de antes. Pena, mas verdadeiro.
Obrigado e saudações rubro-negras.
O jardim de inverno passa atualmente por uma reforma e a poltrona de vime, troquei pelo sofá da sala, desde onde ouvi a transmissão do segundo tempo inteirinho do jogo, via net. Isso sim, com a calefação desligada, para celebrar o que parece ser o definitivo final do inverno mais duro que vivemos na Europa. Quando Ronaldo entrou em campo, adivinhei o empate, só que arrisquei o minuto trinta e nove. O gol nos descontos, considerando que evitou a derrota para o maior rival, consolidou o produto Ronaldo - nunca se falou, nem se viu tanto o Corinthians por aqui, eterno clube de bairro, o mais "caipira" dentre os grandes paulistas. Como você pode ver, meu amigo, contra os desvios da tenra idade, a tolerância dos anos vividos. E parece que não sou o único: nunca imaginei ser capaz de presenciar nem a mínima demonstração de carinho ao alvinegro de outrora “xiïtas” periquitos, mesmo sendo por extensão ao "Fenômeno". Realmente, não me considero um fã do futebol de Ronaldo. Prefiro o toque refinado de alguns meio-campistas e aproveito para confessar outro dos meus desvios, minha doentia solidariedade com a solidão da meta. No entanto, sua volta aos campos brasileiros fez-me recordar imagens da minha infância. Foi num fim de semana, no campo do barrancão, do Jardim Líbano, em Pirituba em que vi o centro-avante do Palmeiras, César "Pantera" jogar por cortesia, já que ele era natural do bairro, no time de várzea local. Impressionou-me sua figura enorme, se comparado com resto de jogadores, imparável com a bola nos pés e capaz de disparar verdadeiros obuses. Irreverente e indisciplinado, aríete letal na área adversária, se bem que de certa técnica, César poderia ser considerado precursor do Fenômeno, se bem que a vida não lhe tenha brindado tantas chances. O certo é que corriam outros tempos, que a Europa ficava bem mais longe, algo que não impediu que seu companheiro de área Leivinha, o atacante mais elegante que já vi jogar e o grande Luisão Pereira se transformassem em ídolos “colchoneros”, apelido do Atlético de Madrid, até hoje. Uma vez mais, fica demonstrado que eu sempre soube reconhecer as virtudes dos meus adversários. A diferença é que hoje, sou capaz de expressá-las.
Um abraço
Carlos Marti
Só uma correção: o César era carioca, não nasceu em Pirituba. A ligação dele com o bairro era uma namorada, cujo nome se não me falha a memória era Célia, ou Sueli, que morava um pouco para baixo do Líbano, mais para a linha do trem. Naquela época, era comum vê-lo subindo a Mutinga a toda em seu Dodge Dart.
Tem toda razão. Mais uma vez, reconheço as virtudes de uma memória invejável. Mas que César foi um prólogo do Ronaldo, isso foi. Dentro e fora de campo.
Só mais uma coisa: parabéns pelo centésimo e muito obrigado por ter-me feito parte de tão significativo momento.
Abraço
Carlos Marti
Eu é que agradeço por sua participação. Quanto ao César ser um "prólogo" de Ronaldo, não me lembro de ter visto o "Maluco" envolver-se com travestis...
Prezado Zanfra, permita-me corrigi-lo: não é "curintcha" que se escreve; é "curintia".
abs são-paulinos
Prezado Jornalista.
Que o Ronaldo é um craque, ninguem duvida, e que ele ainda é um craque e vale quanto pesa, e até um pouco mais, ficom provado no jogo contra o Palmeiras. Mas como você disse :_" Por que com o meu time?
Eu entendo muito bem o que você disse.
Eu tambem estou perguntando :"Porque logo agora e comigo?
Sou candidata a membro da Comissão Fiscal da APBA, e bem agora resolveram obedecer ao Estatuto.
Antes os associados que se afastavam deixando de pagar durante até 3 anos, querendo voltar, pagavam um ano de uma só vez, e voltavam como se nunca tivessem parado de ser associado. Agora o associado pode voltar, mas volta como se fosse associado novo e tem uma carencia de 6 meses para poder votar e ser votado.
Todos os meus eleitores estão nesta categoria. O pior é que a secretária é nova e o computador não esta funcionando, e ela não pode me enviar a relação dos associados aptos a votar, com seus endereços e telefone de contato. Se,m poder pedir votos acho que vou ter só o meu proprio voto.
Um grande abraço
Maria Gilka.
Tem aquele ditado, sempre tão atual: aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei.
O #curintia# também parece ser um time predestinado a fazer renascer das cinzas verdadeiros craques. Quem não se lembra do dr.Sócrates?Se bem que o caso dele parece que não eram as lesões,mas a sagatiba - me perdoe a propaganda-.Eu desejo o melhor para esse moço,pois tudo que conquistou foi com seu talento e não faltaram chupins em sua vida.Que ele possa jogar,ainda,por muito tempo, pois mesmo com suas limitações físicas,ele sabe das coisas - futebol- que ele sirva de exemplo como é ter força de vontade,perseverança. Há de se ressaltar ainda que o futebol é jogado por 11. Que nenhum é menos importante, e isso vale para todos os times. O Ronaldo vai sempre precisar de alguém que jogue aquela bola com açucar e com afeto.Aliás.não foi à toa que o #curintia# fez uma série B impecável.
Fiquei toda feliz em ver o Fenomeno marcando seu golzinho e agitando a geral, cadeiradas, arquibancadas.. Confesse que nao teria o mesmo impacto se fosse contra o Itumbiara? Fico feliz que nao tenha sido contra meu Sao Paulo. Alias, todo novo comeco de campeonato me pergunto: sera agora o comeco da derrocada do Sao PAulo? Sim, pois tudo o que sobe, infelizmente, um dia desce..
E o Carlos me fez lembrar do Leivinha! Eramos crianca, eu e a Aninha disputavamos o Leao, como namorado imaginario, as vezes ela ganhava, entao eu ficava com o Leivinha :)) Ah! O Rui ficava com a Regina Duarte :)) Contei!!
E parabéns pelo 100téesimo post!
Viva!
Tem razão mas uma cois é certa:É um desaforo envelhecer.
Como o Kim pode entregar-no parcialmente?Eu namorava a Regina Duarte mas não beijava o abacateiro.Contei também...
Rui
Agora ninguém mais segura o "Fenômeno"!Também com aquele peso todo......
Rui/Marcello Zanfra
Beijar o abacateiro? Credo, parece que a coisa vai feder...
Como não torço nem pra um, nem pra outro, gostei mesmo de saber que é a centésima postagem no blog.
Parabéns!
Zanfra,
Não sei se conhece a região da Savassi em Belo Horizonte. Em determinados dias você vê uma miss em cada quadra. Não me desfazendo das paulistas, porque nenhuma mulher merece ser desprezada, mas que a mulher mineira merece o seu devido lugar, isto não pode ser negado. Se cidades paulistas necessitarem de mais belas garotas para representá-las, aconselho-as vir encontrá-las em Minas ou lá no Rio Grande do Sul.
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